Capítulo 13 - Funeral - Parte 3

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02h58min

Quando finalmente terminou de tirar a barba postiça, George já estava em seu carro. Ele dirigia em alta velocidade para casa quando seu celular tocou. Dando uma olhada na vizinhança, ele diminuiu a velocidade até encostar o veículo. Só depois atendeu a ligação, dizendo: – Pode falar.

– O churrasco já está na brasa, senhor – disse a voz do outro lado da linha.

– Perfeito – disse George. – Só não esqueça que eu gosto de carne bem passada. E quanto ao purê de batatas?

– Está quase pronto – informou o homem. – As batatas já foram amassadas!

– Perfeito! – disse George, encerrando a ligação.

George jogou o celular no banco do carona e sorriu. Ele instruíra os homens a falarem em código, caso precisassem ligar para ele. O "churrasco na brasa" indicava que as roupas e as máscaras usadas no trabalho realizado na mansão de Benjamin Benton estavam sendo queimadas naquele momento, assim como o "purê de batatas" aludia à destruição das armas com o uso de um rolo compressor. Dando mais uma olhada a sua volta e certificando-se que a rua estava deserta, George pegou uma sacola plástica e retirou dela um tubo de álcool e uma caixa de fósforos. Depois, saiu do carro, colocou na sacola a barba postiça e a peruca, derramou um pouco de álcool e jogou a sacola no chão. Alguns segundos depois, a sacola estava em chamas, e ele estava pisando fundo no acelerador para voltar para casa.

Como as ruas estavam desertas, George acelerou mais o Porsche. Era como se quisesse através da velocidade prolongar a emoção que aquela noite lhe trouxera. Um frenesi tomara conta de seu corpo, fazendo-o sentir-se rejuvenescido ao se reconhecer como um paladino cada vez que destruía um daqueles "malditos". A verdade era que fazer aquilo havia se tornado uma necessidade, algo que seu corpo e principalmente sua mente insistiam em pedir. Prova disso foi que, logo após deixar a mansão de Benton, os tremores frequentes em suas mãos nos últimos dias haviam passado. E muito embora a palavra felicidade não constasse mais em seu vocabulário desde a morte de Jéssica, ele poderia jurar que era o que estava sentindo naquele momento.

Mansão de Benjamin Benton – 08h15min

O local estava totalmente cercado por policiais quando Jerry chegou. Eram sete e vinte quando seu celular tocou, e Robert Preston ordenou que ele fosse imediatamente para lá. Após pular da cama, tomar seu banho e se vestir, Jerry rumou para o endereço dado por seu chefe. Logo na entrada, viu um corpo coberto na espaçosa guarita e perguntou a um dos policiais, ao mesmo tempo em que mostrava sua credencial, o que havia acontecido ali.

– Uma matança! – respondeu o policial.

A resposta do homem imediatamente fez Jerry olhar para a mansão que ficava um pouco distante do portão de entrada. Certamente haveria mais corpos lá dentro, e ele disse: – Vou dar uma olhada lá dentro.

O policial fez sinal de positivo com a cabeça e voltou a falar com um segurança que parecia estar em estado de choque. Jerry avançou alguns passos e notou que havia um cordão de isolamento. Em frente a ele, um policial pedia que quem quisesse chegar à mansão o fizesse pela grama, pois não queria que as marcas de pneu na terra sofressem nenhum dano. Cinco minutos depois, Jerry entrou na mansão e, após percorrer o pequeno corredor que antecedia o salão, foi obrigado a se desviar de uma grande poça d'água quando avistou Robert Preston. No entanto, ao tentar se aproximar do chefe, o flash de uma câmera chamou sua atenção, e seus olhos presenciaram algo terrível. Aquilo imediatamente fez ele se lembrar das palavras do policial com quem havia conversado lá fora.

No centro do salão, empilhados como animais, Jerry viu inúmeros corpos. Todos eles estavam rodeados por uma poça rubra de sangue coagulado que contrastava com o piso branco e brilhante do restante do salão. Estarrecido com o que via, Jerry lentamente deu a volta por um sofá, sentindo o corpo tomado por um súbito calafrio ao se aproximar daquele mar de morte, de corpos nus amontoados uns sobre os outros. E foi nesse momento que ele entendeu a razão de tanto sangue. Os corpos estavam mutilados. Todos tiveram os pulsos cortados. Alguns, que haviam morrido de olhos abertos, ainda conservavam a expressão de horror na retina. Seja quem fosse que fizera aquilo com aquelas pessoas, havia feito de maneira atroz e funesta, pensou Jerry.

Por um instante, ele teve a sensação de estar num abatedouro. A imagem e o cheiro se fundiram, provocando-lhe ligeira náusea, que logo passou ao ouvir a voz de Vincent chegar aos seus ouvidos, indagando: – Já tinha visto algo assim antes?

– Infelizmente sim, Vincent – respondeu, enquanto seu olhar continuava vidrado nos corpos. – Mas nunca em solo americano.

– E onde foi que você viu uma coisa horrorosa como essa? – indagou Vincent, transbordando curiosidade.

– No Iraque – respondeu Jerry. – Em 2003, nosso coronel sofreu uma emboscada e foi gravemente ferido. Bryan e eu estávamos numa missão de reconhecimento perto dali e captamos o pedido de socorro pelo rádio. Chegamos a tempo de resgatá-lo, mas ele não estava em condições de andar, e tivemos de carregá-lo por vários quilômetros.

– E onde uma pilha de corpos mortos entra nessa história? – indagou Vincent.

– Um dos rebeldes que escapou do tiroteio voltou trazendo reforços – continuou Jerry. – E como estávamos cansados, resolvemos nos esconder num prédio abandonado. Foi dentro desse prédio que encontramos uma pilha bem maior do que essa, com corpos muito mais mutilados também. Alguns inclusive sem a cabeça.

– Oh, meu Deus! – arrepiou-se Vincent.

– Mas essa não foi a pior parte – disse Jerry. – Para nosso azar, os rebeldes entraram no prédio a fim de vasculhá-lo, e nós tivemos de nos esconder entre aqueles corpos mutilados – continuou Jerry, com o olhar meio distante, como se houvesse se perdido no tempo. – E ficamos lá durante horas, até termos certeza que podíamos sair.

– Que horror! – exclamou Vincent. – Como vocês conseguiram fazer isso?

– A adrenalina não nos deixou pensar em quão nojento ou horrível era aquilo. Só pensávamos em sobreviver – justificou-se Jerry. – Eu não sei se...

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora