Capítulo 10 - Um Cadáver Inusitado - Parte 8

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Hakim tentou sentar-se na cama, mas precisou da ajuda de Charlize. A seguir, esfregou os olhos e olhou de novo para ela, desta vez com a visão um pouco mais nítida. – Deve ter sido o ferimento do tiro. Provavelmente baixou minha imunidade – concluiu ele.

– Não importa. Depois você explicará direito esse ferimento, mas agora você precisa entrar naquela banheira.

Ele colocou os pés para fora da cama e tentou firmá-los no chão. Mas logo desistiu, ao se sentir zonzo. – Você vai ter de me ajudar – pediu.

– Apoie-se em mim – sugeriu ela.

– Essa é a segunda vez hoje que tenho de me apoiar em alguém para poder caminhar – disse ele. – Será que vai ser assim quando essa coisa se manifestar?

– Pare de resmungar. Não é hora de pensar nisso. Agora me dê logo esse braço!

Ele acatou a ordem e estendeu o braço para ela, que por sua vez o passou por trás do próprio ombro, utilizando-o como uma espécie de alavanca para fazer Hakim se levantar.

– Força! – pediu ela.

Ele apoiou-se na cama com a mão livre e voltou a firmar os pés no chão. A seguir, impulsionou seu corpo de modo a levantar-se, sendo amparado por Charlize. Instantes depois, ambos estavam diante da banheira, que naquele momento já estava quase cheia.

– Pronto, agora entre aí! – disse ela.

Ele seguiu a instrução de Charlize, mas tão logo seu pé tocou a água fria da banheira, arrependeu-se e puxou-o para fora. – Puta que pariu! – praguejou ele. – Essa água está fria demais.

– Eu sei. Mas infelizmente você vai ter de ficar aí uns minutinhos. Precisamos baixar essa febre.

Resignado, Hakim acomodou-se na banheira, enquanto a água fria cobria-lhe o corpo. – Agora eu sei como o Jack se sentiu! – disse ele.

– Quem é Jack? – indagou ela, confusa.

– Titanic! – respondeu ele, referindo-se ao filme.

– Vejo que já está recuperando o raciocínio.

– Como não recuperar com um choque desses? – questionou ele, referindo-se à mudança brusca de temperatura que acabara de sofrer.

– Aguente firme. Vou pegar uma toalha para secá-lo assim que você sair daí.

Hakim ficou na banheira cerca de cinco minutos, mas lhe pareceu uma eternidade devido à água tão gelada que o incomodava como facas sendo enfiadas na sua pele.

– Preciso me deitar – falou ele, já enrolado na toalha e caminhando rumo à cama.

– Espero que a febre tenha cedido – torceu ela. – Mas ao menos você já consegue ficar de pé sozinho.

Quando Hakim parou em frente à cama e desenrolou-se da toalha, Charlize o impediu de deitar.

– O que foi? – perguntou ele.

– Você não pode deitar com essa cueca molhada. Vai lhe fazer mal – ela advertiu pouco antes de ajoelhar-se diante dele e de modo abrupto puxar sua cueca para baixo.

– O que você está fazendo? – indagou Hakim, mais envergonhado que assustado.

– Você não tem nada aí que eu já não tenha visto – divertiu-se ela. – Deite-se logo.

Ainda encabulado, ele se deitou, dando um jeito de cobrir-se rápido com o lençol. A seguir, Charlize apanhou um termômetro e colocou-o na axila direita dele, dizendo: –Vamos ver quanto sua febre baixou. Enquanto isso, beba esse suco de laranja e coma esse chocolate. Você precisa repor as energias – concluiu ela, alcançando-lhe a comida.

Após beber o suco e devorar o chocolate, Hakim puxou os dois cobertores, ainda tremendo de frio. O choque térmico iria demorar alguns minutos para surtir efeito. Percebendo isso, Charlize começou a se despir, deixando-o mais surpreso. – O que significa isso? – ele questionou.

Quando ficou só de sutiã e calcinha, ela se enfiou debaixo das cobertas, e explicou: – Aquela água estava muito fria. Preciso aquecer você mais rápido. Agora vire essa coisa para lá para que eu possa lhe abraçar.

Assim que se virou, ele pôde sentir o corpo dela colar ao seu. Ela o abraçou por trás e colocou sua perna esquerda por sobre as dele, tentando transmitir-lhe calor. – Daqui a pouco você vai estar quentinho – disse ela.

De fato, passaram-se apenas alguns minutos, e Hakim começou a se sentir aquecido. O corpo quente de Charlize erradicou de vez a tremedeira que o sacudia. Outra sensação, porém, o assaltou. Fazia muito tempo que Hakim não sabia o que era ter o corpo de uma mulher colado ao seu. E embora a última vez não lhe trouxesse boas lembranças, a sensação neste momento era gostosa demais para ser desprezada. Tão boa que, quando ele se deu conta, estava excitado. – Oh não! – pensou ele, temendo que Charlize percebesse.

Apesar de no íntimo saber que seu corpo reagia involuntariamente à situação, Hakim não entendia bem a razão disso. Ele sempre viu Charlize apenas como uma boa amiga, aliás, a única amiga que fizera depois da tragédia a qual mudou sua vida, e nunca se sentiu atraído por ela. Acreditava também que Charlize não se sentia atraída por ele. No máximo, ela sentia gratidão por ele ter salvo a vida dela.

– Tente dormir um pouco – ela sugeriu.

– Não vou conseguir dormir agora. Estou sem sono – mentiu ele.

– Que tal assistirmos à TV?

– Boa ideia – disse ele, preparando-se para esticar o braço e pegar o controle remoto que estava do seu lado da cabeceira. Porém, Charlize foi mais rápida do que ele para pegar o controle, e o inesperado aconteceu. Sua coxa deslizou pela coxa de Hakim e acabou roçando em algo que denunciou o que ele realmente sentia naquele momento.

– Mas o que é isso? – ela indagou, surpresa.

Assustado, ele tentou explicar: – Charlize, eu não...

– Você está excitado! – ela o acusou.

– Sim, mas...

Antes que Hakim pudesse concluir o que queria dizer, ela o calou com um beijo. Um beijo que inicialmente ele correspondeu, mas logo tratou de interromper. – Pare, Charlize – disse ele, afastando seu rosto do dela. – Isso não está certo. Eu não quero magoar você, pois vejo você apenas como amiga.

Nesse momento, ela o olhou firme nos olhos e disse: – Eu também sempre o vi só como amigo, mas não sabemos como isso vai acabar. Além do mais, ambos estamos carentes.

– Não nego que estou carente – ele confirmou. – Mas de modo algum quero usar você como forma de aliviar minha carência.

– Tudo bem ­– disse ela, sorrindo. ­– Então deixe que eu uso você para aliviar a minha! – concluiu, montando sobre ele num movimento que o pegou totalmente de surpresa.

– O que você está fazendo?

– Vivendo! – ela respondeu, sorrindo, enquanto tirava o sutiã. – Agora me diga que você também não quer! Mas, se não quiser, vai ter de me tirar de cima de você.

Sentindo o próprio membro ereto, roçando naquelas coxas macias e quentes, Hakim deixou todo o escrúpulo de lado e, erguendo-se um pouco, colou seus lábios aos dela num beijo carregado de desejo.

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora