Capítulo 15 - Cara a Cara - Parte 06

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Virando-se de costas para o general, Evan levou as mãos à cabeça, como se quisesse desligar aquela voz irritante e perturbadora. – Você vai morrer! Você merece morrer!

Saia da minha cabeça! – sussurrava ele. – Cale essa boca!

Mesmo sem entender uma única palavra que Evan acabara de pronunciar, George estranhou aquela reação. Aquele não parecia o homem com o qual ele estava acostumado a tratar. – O que está acontecendo, Evan?

Tentando ignorar aquela voz, Evan virou-se novamente para o chefe. – Desculpe-me, senhor – disse ele. – Ando com uma dor de cabeça chata nos últimos dias.

– Sugiro que consulte um médico – disse o general, antes de pressionar Evan a responder a pergunta que fizera instantes atrás. – E aí, você sabe ou não me dizer o que significa esse dossiê?

– Deve ser uma cópia, senhor – disse Evan, que parecia ter se recomposto.

George encarou Evan friamente. – Uma cópia?

– Sim, senhor. Talvez Hakim não tivesse certeza quanto às intenções do jornalista – argumentou Evan, tentando ser convincente. – E para se precaver, ele fez essa cópia.

Levando a mão ao queixo, como se avaliasse aquela possibilidade, George pareceu convencer-se. – É. Pode ser – falou o general, virando-se de costas, o que deixou Evan ainda mais inseguro ao ponto de levar a mão direita à cintura, à procura de sua arma. – Mas deixemos aquele maldito de lado. Afinal, ele está cada vez mais acuado – concluiu o general, virando-se de novo para Evan, que rapidamente soltou a arma antes que o chefe pudesse ver.

– E se ele tiver outras cópias, senhor? – perguntou Evan, agora aliviado.

– Duvido que tenha – disse George com tranquilidade. – Mas agora vamos à verdadeira razão de estarmos aqui.

– E qual é, senhor?

– Naquele dia, quando me contou a história de seu pai, eu acabei ficando comovido – George levou a mão ao ombro de Evan. – Mas não confunda comoção com pena. O que quero dizer é que, após aquela conversa, decidi ajudar você a encontrar seu pai. E por isso contatei um amigo especialista em encontrar pessoas.

Os olhos de Evan brilharam ao ouvir aquilo. – O senhor o encontrou? – indagou ele, ansioso pela resposta.

– Sim.

– E onde aquele desgraçado está? – Evan estava excitado com a possibilidade de ficar frente a frente com o homem que havia arruinado sua infância.

– Ele está aqui, Evan.

Evan olhou para os lados enquanto instintivamente puxava sua arma. – Aqui?

– Guarde essa arma, Evan – orientou George, olhando ao redor para ter certeza de que não havia mais ninguém por ali. – Ela não será necessária.

– Mas eu quero matar aquele desgraçado, senhor! – disse ele, exaltado.

– Isso também não será mais necessário.

Evan entendeu de imediato o recado. – O senhor quer dizer que meu pai já está...

– Sim.

– Então foi por isso que me trouxe aqui, senhor? – era notória a decepção nos olhos de Evan. – Aquele lixo está enterrado aqui?

Sem dizer nenhuma palavra, George apontou para um dos túmulos que estava a poucos metros de onde ambos estavam. Evan caminhou lentamente naquela direção, até que seus olhos viram o nome Roger Jenkins escrito na lápide. Evan levou novamente as mãos à cabeça como se recusasse a acreditar naquilo. O desejo de se vingar do homem, que indiretamente fora responsável pela morte de sua mãe, havia se tornado seu propósito de vida. E agora tudo parecia ruir diante de seus olhos enquanto observava aquela lápide. Num acesso de raiva, ele se prostrou na grama e começou a esmurrá-la.

– Maldito! – bradou ele. – Você tinha de ter morrido pelas minhas mãos! Saia daí e me encare como homem, seu veado desgraçado!

Mesmo impressionado com a reação extrema de Evan, George era capaz de compreender o tamanho de sua frustração. No entanto, o bom senso lhe dizia que aquilo poderia chamar a atenção, e resolveu intervir. Aproximou-se de Evan e tocou-lhe mais uma vez no ombro. – Acabou, Evan – disse ele, tentando consolar o outro. – Vamos embora.

Evan não estava disposto a arredar o pé dali. Sua vontade era cavar o lugar com as próprias mãos até encontrar o corpo do pai. Já George não queria correr o risco de ambos serem vistos juntos ali. Por isso, abruptamente puxou Evan pelo colarinho e jogou um pedaço de papel no chão. – Veja isso! – ordenou ele.

Juntando o papel do chão, Evan viu que se tratava de um endereço e perguntou: – Que endereço é esse, senhor?

– É onde seu pai morava – disse o general. – E onde o amante dele ainda mora.

Evan sentiu os músculos se retesarem ao ouvir aquilo. Mas George tinha mais a dizer: – Pelo que você me contou, esse homem tem tanta culpa pela morte de sua mãe quanto seu pai teve.

– Claro que tem! – disse Evan, esmurrando novamente a grama.

– Então eu presumo que você não vai deixar esse desgraçado sair vivo disso, não é mesmo?

Apesar de estar transtornado pela descoberta da morte do pai, Evan não deixou de captar a mensagem do general. Afinal, ele ainda podia matar um dos culpados pela morte de sua mãe, e isso o fez vibrar: – Eu vou matar aquele filho da puta!

– Claro que vai – incentivou George. – Mas agora nós temos de sair daqui.

– O senhor tem razão – anuiu Evan, levantando-se.

Enquanto ambos caminhavam para sair dali, as escrituras na lápide não saíam da cabeça de Evan. A data, uma evidência que Roger Jenkins havia morrido há pouco mais de uma semana, torturava Evan. Afinal, se tivesse contado sua história antes, talvez pudesse ser ele a ter mandado o pai para o caixão.

– Tenho de fazer isso, senhor.

– Do que você está...

Evan saiu em disparada em direção ao túmulo do pai, e com um chute extremamente violento arrebentou a lápide.

– Vá pro inferno, seu veado maldito!

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⏰ Última atualização: Oct 18 ⏰

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Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora