Capítulo 03 - Fora de Controle - Parte 01

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San Francisco – 09h11min    

Tão logo despertou, e o ambiente à sua volta começou a ganhar forma, seus olhos foram atingidos pela luz. Ele tentou protegê-los com as mãos, mas algo o impediu. Suas mãos estavam presas à cadeira na qual estava sentado. Alguém o algemara a ela. Quando seus olhos se adaptaram à claridade, Evan deu-se conta de que estava em seu próprio apartamento. Zonzo, ele sentia como se sua cabeça pesasse quase uma tonelada. Para piorar, uma voz nada amistosa se dirigiu a ele: – Vejo que a bela adormecida finalmente acordou!

Ele olhou na direção da voz e viu um homem na cozinha comendo os donuts que ele havia comprado. Como o outro estava de costas, Evan não conseguiu identificá-lo. – Quem é você? – perguntou, tentando se soltar. – E o que você quer comigo?

– Que decepção! – o outro debochou. – Você já se esqueceu de mim?

– Você? – Os olhos de Evan arregalaram-se de surpresa e incredulidade.

– Por que a surpresa? Não está feliz em me ver? – o homem indagou, esboçando um sorriso cínico.

Confuso, Evan lembrou-se do que ocorrera e silenciosamente censurou-se por ter sido tão descuidado. Ainda mais ao descobrir quem era seu captor. Parado diante dele estava Hakim, e o passado deles não era nada agradável.

– Como me trouxe para cá?

– Foi simples: eu carreguei você. Como você deve ter notado, as ruas estavam praticamente desertas, e aos gatos pingados que passaram curiosos por mim eu disse que você havia bebido demais. Afinal, você tem mesmo uma cara de beberrão – explicou Hakim.

Irritado, Evan forçou os punhos tentando se soltar, mas o esforço só fez as algemas pressionarem seus pulsos ainda mais. A dor e o fracasso da tentativa levaram-no ao grito: – Eu vou acabar com você!

– E como pretende fazer isso? – questionou Hakim. – Ah, já sei! Preso aí, você vai cuspir em mim até eu morrer afogado – ironizou, quase gargalhando.

– Seu desgraçado! – esbravejou o outro. – O que você quer de mim?

– Só umas informações. Se você ajudar, irei embora, deixando-o só com fome.

– E se eu não colaborar, vai fazer o quê? Vai me matar?

– Matar você? – Hakim se aproximou de Evan e, segurou-o pelo queixo. – Isso seria um favor que eu lhe faria. – O que eu pretendo fazer, caso você não coopere, é algo muito pior. – concluiu, empurrando com força o rosto de Evan.

Preso e impotente diante de seu opressor, só restava a Evan se aquietar. De uma coisa ele tinha certeza: irritar Hakim não era uma boa opção. Por isso, baixou o tom de voz: – O que você quer saber? – perguntou, parecendo conformado com a situação.

– O general sabe que vocês estão matando outras pessoas?

– Claro que sabe – confirmou Evan.

– Mas a missão não era só me caçar? – indagou Hakim, surpreso com aquilo.

– A princípio sim, mas... – Evan fez uma pequena pausa. – Digamos que a missão tomou outra proporção.

– O que você quer dizer com isso? Por que ele está fazendo uma coisa dessas?

– Por sua culpa! – disparou Evan. – Você é o responsável por tudo isso! Eu adoraria saber o que você fez, mas ele ainda não nos contou. Eu só sei que você a matou!

Hakim sentiu sua respiração pesar. Ele levou as mãos à cabeça e recuou alguns passos, antes de voltar a falar com seu prisioneiro. – Eu não a matei! – rebateu com a voz alterada. – Você não sabe o que está dizendo!

Percebendo que suas palavras haviam afetado Hakim, Evan deixou a prudência de lado e prosseguiu, cheio de escárnio: – Depois que você matou a filha dele, ele passou a odiar, a abominar todos como você. E decidiu exterminá-los, um a um, da face da terra!

– Mas isso é loucura!

– O que você chama de loucura nós chamamos de limpeza – disse Evan sem sinal algum de remorso pelo que fazia.

Antes mesmo de tal informação, Hakim já queria parar aquilo; porém, agora a urgência aumentava. Inocentes estavam pagando por um erro seu. Em busca de como impedir isso, indagou: – Quais são os planos do general para levar essa loucura adiante?

– Você vai ter de descobrir sozinho – respondeu Evan.

A resposta de Evan irou Hakim, que avançou sobre o outro, desferindo-lhe um soco na boca. O sangue escorreu pelo queixo de Evan, e mesmo assim este não se intimidou: – Você pode passar o dia inteiro me batendo, mas eu não lhe direi nada!

Hakim viu no olhar de Evan que ele dizia a verdade. Afinal, sendo um ex-militar, certamente estaria preparado para resistir a interrogatórios, mesmo que esses viessem acompanhados de violência física. Pensando nisso, Hakim resolveu tentar uma nova tática.

– Você sabe o significado do meu nome? – Hakim deu as costas a Evan.

– Não sei o significado da porra de seu nome, nem tenho interesse em saber!

– Enquanto você dormia feito uma boneca, eu estava ali sentado, comendo pizza e pensando em qual seria o significado de seu nome.

– E daí? – questionou Evan sem muito interesse na resposta.

– Daí que só consegui encontrar quatro significados para ele.

– Ah é? Em que livro você achou isso? – debochou Evan.

– Em livro algum. Encontrei observando você. Também descobri algumas coisas interessantes, como a razão de você estar aqui devido ao seu ódio por homossexuais. Ódio esse que já fez você ser expulso do exército por espancar um colega quase até a morte, após ele dizer a você que era gay. Também descobri que, apesar de sua idade, você não conseguiu formar uma família e não usa muito a cabeça.

– Nossa! Quantas descobertas! – exclamou Evan, cheio de sarcasmo. – Vejo que você andou mesmo me estudando. Mas o que isso tem a ver com meu nome?

– Apenas que Evan significa homofóbico, covarde, desprezível e burro!

– Seu desgraçado! – reagiu Evan, forçando mais uma vez as algemas e ignorando a dor. – Quando sair daqui, eu farei você engolir essas palavras.

– Calma! Não culpe a mim por estar preso a essa cadeira. Culpe a si mesmo, ou melhor, à sua burrice! – debochou Hakim. – Para mostrar o quanto você é burro, eu vou lhe dizer o significado do meu nome. Hakim significa "guerreiro". E meu pai me ensinou como um guerreiro deve agir. Ou seja, fugir quando necessário e atacar quando oportuno.

– Ah sim, muito poético! Mas cadê a explicação para a minha burrice?

– Sua burrice veio de você não estudar a sua caça. Até quando você achou que vocês iriam me caçar sem que eu revidasse?

– Besteira! – disparou Evan. – Você age como se fosse superior, e nem vê como é desprezível. Você matou a filha do general e fugiu feito um covarde. E também é burro se acha que pode parar o que ele começou. Então me diga, o que o torna diferente de mim?


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora