San Francisco – 09h11min
Tão logo despertou, e o ambiente à sua volta começou a ganhar forma, seus olhos foram atingidos pela luz. Ele tentou protegê-los com as mãos, mas algo o impediu. Suas mãos estavam presas à cadeira na qual estava sentado. Alguém o algemara a ela. Quando seus olhos se adaptaram à claridade, Evan deu-se conta de que estava em seu próprio apartamento. Zonzo, ele sentia como se sua cabeça pesasse quase uma tonelada. Para piorar, uma voz nada amistosa se dirigiu a ele: – Vejo que a bela adormecida finalmente acordou!
Ele olhou na direção da voz e viu um homem na cozinha comendo os donuts que ele havia comprado. Como o outro estava de costas, Evan não conseguiu identificá-lo. – Quem é você? – perguntou, tentando se soltar. – E o que você quer comigo?
– Que decepção! – o outro debochou. – Você já se esqueceu de mim?
– Você? – Os olhos de Evan arregalaram-se de surpresa e incredulidade.
– Por que a surpresa? Não está feliz em me ver? – o homem indagou, esboçando um sorriso cínico.
Confuso, Evan lembrou-se do que ocorrera e silenciosamente censurou-se por ter sido tão descuidado. Ainda mais ao descobrir quem era seu captor. Parado diante dele estava Hakim, e o passado deles não era nada agradável.
– Como me trouxe para cá?
– Foi simples: eu carreguei você. Como você deve ter notado, as ruas estavam praticamente desertas, e aos gatos pingados que passaram curiosos por mim eu disse que você havia bebido demais. Afinal, você tem mesmo uma cara de beberrão – explicou Hakim.
Irritado, Evan forçou os punhos tentando se soltar, mas o esforço só fez as algemas pressionarem seus pulsos ainda mais. A dor e o fracasso da tentativa levaram-no ao grito: – Eu vou acabar com você!
– E como pretende fazer isso? – questionou Hakim. – Ah, já sei! Preso aí, você vai cuspir em mim até eu morrer afogado – ironizou, quase gargalhando.
– Seu desgraçado! – esbravejou o outro. – O que você quer de mim?
– Só umas informações. Se você ajudar, irei embora, deixando-o só com fome.
– E se eu não colaborar, vai fazer o quê? Vai me matar?
– Matar você? – Hakim se aproximou de Evan e, segurou-o pelo queixo. – Isso seria um favor que eu lhe faria. – O que eu pretendo fazer, caso você não coopere, é algo muito pior. – concluiu, empurrando com força o rosto de Evan.
Preso e impotente diante de seu opressor, só restava a Evan se aquietar. De uma coisa ele tinha certeza: irritar Hakim não era uma boa opção. Por isso, baixou o tom de voz: – O que você quer saber? – perguntou, parecendo conformado com a situação.
– O general sabe que vocês estão matando outras pessoas?
– Claro que sabe – confirmou Evan.
– Mas a missão não era só me caçar? – indagou Hakim, surpreso com aquilo.
– A princípio sim, mas... – Evan fez uma pequena pausa. – Digamos que a missão tomou outra proporção.
– O que você quer dizer com isso? Por que ele está fazendo uma coisa dessas?
– Por sua culpa! – disparou Evan. – Você é o responsável por tudo isso! Eu adoraria saber o que você fez, mas ele ainda não nos contou. Eu só sei que você a matou!
Hakim sentiu sua respiração pesar. Ele levou as mãos à cabeça e recuou alguns passos, antes de voltar a falar com seu prisioneiro. – Eu não a matei! – rebateu com a voz alterada. – Você não sabe o que está dizendo!
Percebendo que suas palavras haviam afetado Hakim, Evan deixou a prudência de lado e prosseguiu, cheio de escárnio: – Depois que você matou a filha dele, ele passou a odiar, a abominar todos como você. E decidiu exterminá-los, um a um, da face da terra!
– Mas isso é loucura!
– O que você chama de loucura nós chamamos de limpeza – disse Evan sem sinal algum de remorso pelo que fazia.
Antes mesmo de tal informação, Hakim já queria parar aquilo; porém, agora a urgência aumentava. Inocentes estavam pagando por um erro seu. Em busca de como impedir isso, indagou: – Quais são os planos do general para levar essa loucura adiante?
– Você vai ter de descobrir sozinho – respondeu Evan.
A resposta de Evan irou Hakim, que avançou sobre o outro, desferindo-lhe um soco na boca. O sangue escorreu pelo queixo de Evan, e mesmo assim este não se intimidou: – Você pode passar o dia inteiro me batendo, mas eu não lhe direi nada!
Hakim viu no olhar de Evan que ele dizia a verdade. Afinal, sendo um ex-militar, certamente estaria preparado para resistir a interrogatórios, mesmo que esses viessem acompanhados de violência física. Pensando nisso, Hakim resolveu tentar uma nova tática.
– Você sabe o significado do meu nome? – Hakim deu as costas a Evan.
– Não sei o significado da porra de seu nome, nem tenho interesse em saber!
– Enquanto você dormia feito uma boneca, eu estava ali sentado, comendo pizza e pensando em qual seria o significado de seu nome.
– E daí? – questionou Evan sem muito interesse na resposta.
– Daí que só consegui encontrar quatro significados para ele.
– Ah é? Em que livro você achou isso? – debochou Evan.
– Em livro algum. Encontrei observando você. Também descobri algumas coisas interessantes, como a razão de você estar aqui devido ao seu ódio por homossexuais. Ódio esse que já fez você ser expulso do exército por espancar um colega quase até a morte, após ele dizer a você que era gay. Também descobri que, apesar de sua idade, você não conseguiu formar uma família e não usa muito a cabeça.
– Nossa! Quantas descobertas! – exclamou Evan, cheio de sarcasmo. – Vejo que você andou mesmo me estudando. Mas o que isso tem a ver com meu nome?
– Apenas que Evan significa homofóbico, covarde, desprezível e burro!
– Seu desgraçado! – reagiu Evan, forçando mais uma vez as algemas e ignorando a dor. – Quando sair daqui, eu farei você engolir essas palavras.
– Calma! Não culpe a mim por estar preso a essa cadeira. Culpe a si mesmo, ou melhor, à sua burrice! – debochou Hakim. – Para mostrar o quanto você é burro, eu vou lhe dizer o significado do meu nome. Hakim significa "guerreiro". E meu pai me ensinou como um guerreiro deve agir. Ou seja, fugir quando necessário e atacar quando oportuno.
– Ah sim, muito poético! Mas cadê a explicação para a minha burrice?
– Sua burrice veio de você não estudar a sua caça. Até quando você achou que vocês iriam me caçar sem que eu revidasse?
– Besteira! – disparou Evan. – Você age como se fosse superior, e nem vê como é desprezível. Você matou a filha do general e fugiu feito um covarde. E também é burro se acha que pode parar o que ele começou. Então me diga, o que o torna diferente de mim?
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Mistero / ThrillerEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...