Os homens logo guardaram suas armas. Mas, para aqueles que ali se sentiam acuados, ameaçados, diante da execução do colega, isso não foi o suficiente para lhes devolver a calma. Nem mesmo quando o próprio executor colocou a arma na cintura, eles conseguiram relaxar. Os olhares eram de incerteza e temor.
– Que caras de pavor são essas? Eu já disse que ninguém mais vai morrer. A menos que algum de vocês pretenda ser tão estúpido quanto esse desgraçado aqui! – disse ele, apontando para o corpo sem vida de Jones e logo a seguir chutando-o com fúria, antes de prosseguir: – Esse lixo mereceu morrer. Eu pouco me importo com o tipo de vida que vocês levam. Só peço duas coisas, e uma delas é que não se tornem a sujeira que eu estou tentando limpar! – concluiu ele, enquanto puxava um envelope do bolso.
Os homens estavam perplexos com a frieza demonstrada por ele. A insegurança pairava no ar, alimentada pelas constantes mudanças de humor do homem, que se alternava entre a calma e a cólera. Indiferente ao pavor demonstrado pela maioria, ele prosseguiu: – Veja a razão pela qual esse verme morreu! – disse, entregando o envelope a um dos homens mais próximos de si. – Depois, passe adiante para todos verem também.
Um a um, os homens leram o conteúdo do envelope e logo entenderam a razão pela qual o companheiro foi assassinado diante deles. A seguir, o homem voltou a indagá-los: – Alguma dúvida, senhores?
– Não, senhor! – responderam em uníssono.
– Então vamos prosseguir. – falou com satisfação. – Quero deixar claro que nossas ações daqui...
– Perdão, senhor, mas preciso fazer uma pergunta.
Todos acharam que o homem ia explodir em fúria pela interrupção; porém, com incrível calma, ele se dirigiu a quem o interrompeu: – E qual seria a sua dúvida, Sr. Marshall?
– Estou confuso, senhor – disse ele, com leve tom de hesitação. – O senhor nos contratou para fazer essa limpeza, mas por acaso não foi o senhor que criou o programa de...
– Já ouviu falar de um livro chamado "A Arte da Guerra", Sr. Marshall? – foi sua vez de interromper o outro.
– Sim, senhor.
– E já leu esse livro?
– Não, senhor – Marshall respondeu com sinceridade.
– Pois deveria! Caso tivesse lido, saberia o que eu estou fazendo.
Observando o olhar de todos, o homem teve certeza de que Marshall não era o único sem entender. Aquilo que parecia ser uma contradição precisava ser explicado.
– Senhores, a razão pela qual estou fazendo isso é muito pessoal. Mas minha estratégia decerto é conhecida por todos vocês – ele respirou fundo antes de prosseguir. – O que a gente faz quando quer matar um rato? – questionou ele sem dar tempo a ninguém para responder. – Nós armamos uma ratoeira e colocamos nela um pedaço de queijo, para assim atrair o miserável. Neste caso, senhores, o programa que eu criei é o nosso queijo, e essas pragas são nossos ratos. Entendeu, Sr. Marshall?
Marshall balançou a cabeça positivamente, deixando claro que compreendera a analogia. Desejando, porém, certificar-se da compreensão dos demais, o homem indagou: – E quanto a vocês também entenderam?
Todos imitaram o gesto de Marshall. Mas o homem ainda tinha algo a dizer. Algo que para ele era o mais importante de tudo. – Prestem atenção – disse ele, mostrando uma foto recém-tirada do bolso. – Este homem é a razão de tudo isso. Perdi meu bem mais precioso por causa dele, e foi isso que me motivou a iniciar essa limpeza.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Gizem / GerilimEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...