Capítulo 03 - Fora de Controle - Parte 4

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10h25min 

No banheiro, Bryan se aproximou do espelho e quase não se reconheceu. Ele parecia olhar para um rascunho de si mesmo. Os últimos meses não haviam sido fáceis. Primeiro, sofrera a perda da noiva, que ele tinha certeza de que fora assassinada, embora as investigações do caso tivessem apontado para um suicídio. E agora, o assassinato do irmão, cuja razão era um grande mistério. Como se isso não bastasse, sua mãe foi parar no hospital devido à maldade de um colega de trabalho.

O que mais falta dar errado? – Bryan pensou, ainda com os olhos verdes fixos em sua imagem refletida no espelho.

Ele abriu a torneira e por alguns segundos deixou a água fria escorrer por suas mãos. Já prestes a lavar o rosto, teve o gesto interrompido pela entrada de alguém no banheiro. Vendo quem era pelo espelho, Bryan sentiu o sangue ferver-lhe nas veias. Paul Miller, ao ver a fúria nos olhos do colega, que o encarava através do espelho, até pensou em se virar e sair dali, mas já era tarde. Bryan já virara para ele e partia em sua direção.

– Eu disse que acabaria com você se mexesse com minha família outra vez!

– Posso saber do que você está fa...

Paul não conseguiu completar a frase, pois recebeu um golpe tão violento de Bryan que não só atingiu seu queixo, mas também o fez ir de encontro à porta do banheiro. Ele segurou-se na maçaneta para não cair e tentou abrir a porta, mas seu agressor o pegou pelo colarinho, puxando-o para trás. Vendo que não havia escapatória, só restava a Paul reagir. E foi o que ele fez. Ao ser puxado, ele desferiu uma cotovelada que atingiu Bryan no lado direito do rosto, fazendo-o cambalear para trás. Porém, movido pelo ódio, Bryan se equilibrou rapidamente e avançou de novo sobre seu opositor, que o segurou, ficando os dois ali, face a face, medindo forças.

10h33min

Chegando ao escritório, Jerry perscrutou o local na esperança de ver o irmão antes que este tomasse alguma atitude precipitada; porém, não o encontrou. Foi quando viu Vincent saindo da sala do diretor e prontamente caminhou em sua direção, esperando obter dele a localização de Bryan. Porém, gritos vindos do banheiro denunciaram que aquilo que ele temia já estava acontecendo. Jerry reconheceu a voz de Bryan e de imediato tomou o rumo do banheiro, seguido por Vincent. O diretor Robert Preston, que também ouvira os gritos, saiu de seu escritório, interpelando que gritaria era aquela. Ninguém respondeu. Todos correram agitados em direção ao banheiro para verem de perto o que estava ocorrendo. Sem resposta, Robert tomou a mesma direção.

10h35min 

Dentro do banheiro, a luta continuava. Paul, que havia se agarrado a Bryan como um lutador se agarra ao oponente tentando evitar ser golpeado, sentia forte tensão nos músculos dos braços. Os olhos de Bryan, repletos de ódio, ostentavam uma determinação absurda, que fez Paul gritar em desespero: – Me solta, seu filho da puta!

Se arrependimento matasse, Paul teria morrido no exato momento em que proferiu aquelas palavras, pois Bryan explodiu em fúria, desvencilhando-se dele e golpeando-o com toda força no estômago. A seguir, aproveitando-se do impacto causado pelo soco, Bryan agarrou Paul pelo pescoço e empurrou-o com força contra o espelho. Com o impacto, Paul sentiu suas pernas amolecerem e só não caiu porque Bryan o segurava firme pelo pescoço. Desnorteado e sem forças, ele estava totalmente dominado. Só lhe restava esperar o que se seguiria, e parecia não ser nada bom. Paul pensou que seria agredido com mais socos, mas estava enganado. Após um breve piscar de olhos, ele viu que era muito pior. Num movimento incrivelmente rápido, Bryan tinha agora o cano de uma 9mm encostado na testa de Paul.

– Você está louco, cara? – Paul tinha os olhos arregalados de pavor.

Bryan não falou nada, apenas pressionou o cano da arma com mais força contra a testa de Paul, enquanto mantinha a mão esquerda pressionando a garganta dele.

– Não faça isso, cara! – pediu Paul, cujo tom era um misto de clamor e desespero.

– Eu disse que, se você voltasse a mexer com minha família, eu acabava com você! – vociferou Bryan. – E agora vou cumprir minha promessa!

Com enorme dificuldade em falar, devido à pressão que estava sofrendo na garganta, Paul ainda tentou contestar: – Não sei do que você está falando! Eu não fiz nada!

– Não minta, seu desgraçado! Seja homem ao menos na hora da morte!

– Você só pode estar de brincadeira – disse Paul, não acreditando no que acabara de ouvir. – Você não vai me matar, está blefando!

– Acha mesmo? – Bryan questionou, enquanto afastava a arma da testa de Paul.

Vendo aquilo, Paul respirou confiante: – É claro que você está ble...

O cano da arma, introduzido em sua boca, impediu Paul de completar a frase. E seus olhos arregalaram-se de pavor.

– Ainda acha que eu estou blefando? – questionou Bryan, com uma mudança radical no semblante.

Jerry e Vincent entraram no banheiro e quase não acreditaram no que estavam vendo. – O que você está fazendo? – Jerry caminhou na direção deles.

– Fique onde está, Jerry! – bradou Bryan.

Jerry parou onde estava. E aí foi a vez de Vincent intervir: – Pare com isso, Bryan! O diretor já sabe de tudo.

– Não importa! Ele foi longe demais, e chegou a hora de cortar o mal pela raiz.


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora