Capítulo 07 - Amargas Lembranças - Parte 5

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George fitou os olhos de Evan e viu que o homem estava prestes a chorar. – Posso entender o tamanho de sua decepção, Evan. Mas ainda não compreendo a razão pela qual você quer matá-lo.

– Já vai entender, senhor. A história ainda não acabou – Evan bebeu o restante do uísque num gole só, antes de prosseguir. – O motivo por que odeio tanto meu pai se deve ao fato de ele ser o culpado pela morte da minha mãe.

– O quê!? – George arregalou os olhos de surpresa.

– Naquela noite, atraídos pelos gritos de minha mãe, os vizinhos saíram para a calçada e viram quando o homem que estava com meu pai saiu correndo, ainda vestindo as roupas. No início, alguns maldosos pensaram que o homem era amante da minha mãe; porém, um dos vizinhos sabia que ela viajara comigo e viu quando o visitante chegou à nossa casa, sendo recebido por meu pai. A farsa que o meu pai era se tornava pública naquele momento.

– E isso fez sua mãe expulsá-lo de casa, não é mesmo?

– Não, senhor. Apesar da humilhação que sofreu, minha mãe ainda amava aquele maldito. Ela até mesmo se esforçou para perdoá-lo.

– Mas então o que aconteceu? – George mal cabia em si, pois aquele mistério parecia não ter fim. – O que levou sua mãe à morte?

– Conforme os dias foram passando, minha mãe parecia estar superando o acontecido. Mesmo quando vizinhos teciam algum comentário maldoso, ela permanecia firme. Já meu pai parecia sucumbir à vergonha toda vez que alguém o apontava na rua. Até que chegou o dia em que aquele covarde não aguentou mais e foi embora. E foi aí que minha mãe começou a morrer.

– Santo Deus, Evan! – George derramou parte do uísque. – Conte logo o que aconteceu!

Apesar do susto que levou com a reação do chefe, Evan entendeu a curiosidade dele. – Certo, senhor. Vamos logo ao que realmente interessa – Evan respirou fundo e ajeitou-se na poltrona. – Logo que meu pai foi embora, minha mãe caiu em depressão. Ela não tinha ânimo para nada. Depois de algumas semanas, com o apoio dos amigos e meu carinho, ela começou aos poucos a se recuperar. Parecia que tudo entraria nos eixos novamente, mas foi aí que veio a notícia que acabou de vez com ela.

– Qual notícia?

– Até hoje não sei se foi maldade ou não, mas um dia, após sairmos do cinema, uma vizinha que estava na mesma sessão se aproximou da minha mãe e disse que estava feliz por vê-la recuperada, mesmo após meu pai tê-la deixado para ir morar com outro homem.

– Você está querendo me dizer que seu pai foi morar com aquele mesmo homem? – George parecia não crer no que estava ouvindo.

– Isso mesmo, senhor. Aquele desgraçado foi embora para viver com outro homem. E a partir daquele dia, minha mãe começou a definhar aos poucos – Evan enxugou uma lágrima no rosto. – Ela se isolou dos amigos e depois começou a beber. Às vezes, quando eu chegava à casa, lá estava ela dormindo no sofá com uma garrafa na mão e uma foto do desgraçado na outra. E conforme o tempo foi passando, minha mãe começou a ficar agressiva comigo. Acho que isso se devia à minha incrível semelhança física com meu pai. Talvez ela visse em mim a figura que tanto lhe causava dor e sofrimento.

George continuava atento às palavras de Evan, o qual fez um breve silêncio antes de se dirigir ao chefe: – O senhor poderia me servir mais uma dose antes de eu concluir?

Embora tomado pela ansiedade, George balançou a cabeça positivamente e levantou-se para servir outra dose. Fez isso com pressa, pois queria ouvir logo o desfecho da história. – Aqui está. Agora, pelo amor de Deus, conte logo como termina isso.

Evan pegou o copo, levando-o logo à boca. Ele bebeu tudo de uma só vez; pois, embora o álcool descesse queimando sua garganta, o que ele iria falar era bem mais doloroso.

– A história termina no dia em que cheguei ànossa casa e encontrei minha mãe morta na cama – disparou Evan, cujo olharagora parecia vazio. – Ela se suicidou ao misturar bebida alcoólica com mais deum tipo de medicamento. 

No momento em que ouviu aquilo, George pareceu compartilhar intensamente da dor de Evan. Ele sentiu um nó na garganta que lhe impediu de falar alguma coisa.

– Nunca apaguei aquela imagem da minha mente, senhor – disse Evan, agora com lágrimas lhe escorrendo dos olhos. – Minha mãe, antes uma mulher bonita, cheia de vida e sonhos, agora jazia ali feito um saco de ossos. E é por isso que quero encontrar aquele maldito. E quando encontrá-lo, eu irei matá-lo!

A ênfase que Evan deu às suas últimas palavras causou um arrepio em George, ao mesmo tempo em que sua admiração pelo subordinado pareceu inflar ainda mais. E antes mesmo que percebesse, ele já estava de pé, colocando sua mão direita sobre o ombro de Evan.

– Entendo sua dor, filho – disse George, com sinceridade. – E embora as razões sejam diferentes, posso dizer que compartilhamos um sofrimento semelhante.

Muito emocionado com o desabafo que acabara de fazer, Evan não disse nada. Apenas enxugou as lágrimas do rosto enquanto continuava olhando para o general, que lhe perguntou: – Esse ódio que você tem pelo seu pai foi a razão pela qual espancou aquele gay e que resultou na sua expulsão do exército?

– Sim, senhor – confirmou Evan. – Depois da morte de minha mãe, eu passei a odiar todos esses veados malditos. Cada vez que via um deles, eu me perguntava quantas mulheres já passaram pelo que minha mãe passou. Quantas famílias já foram destruídas? E isso fez brotar em mim a certeza de que não era somente o meu pai que merecia ser castigado, mas todos aqueles que optaram por essa vida vergonhosa e imoral.

– E o que aconteceu no exército, afinal?

– Numa noite, após uma simulação de combate, eu fiquei sozinho com outro soldado. Dormíamos na barraca quando senti uma mão subindo pelas minhas pernas, indo em direção ao meu pau, senhor – disse Evan, sem constrangimento. – Quando despertei, ele estava sorrindo e dizendo que ninguém precisaria saber.

– E o que você fez?

– Quebrei os cincos dedos da mão daquele desgraçado. Depois disso, o safado deve ter ficado um bom tempo sem pegar um pau! – disse Evan, esboçando um leve sorriso de satisfação. – Mas não foi só isso, senhor. Logo depois de ferrar com a mão dele, eu comecei a esmurrá-lo e só parei quando fui contido. Caso contrário, eu o teria matado ali mesmo.






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