Antes de sair da casa, Hakim chutou todas as armas para fora. E só depois saiu pela porta, ainda puxando Anne com ele e sendo seguido de perto por George. Quando finalmente chegaram ao portão de entrada da mansão, Hakim viu Anne lhe olhando nos olhos. Lágrimas escorriam pela face da mulher.
– Eu sinto tanto, Sra. Banks...eu jamais...
– Por quê, Hakim? Por que fez isso com ela?
Aquela pergunta era tão dolorosa como se a dor de Anne se materializasse em sua voz, tomando a forma de um punhal, e atravessasse as entranhas de Hakim. E foi com profundo pesar que ele respondeu: – Sra. Banks, eu quero muito ter essa conversa. Deus sabe que não só quero, como preciso. Mas, infelizmente, aqui não é o lugar nem a hora. Os seguranças já devem ter chamado a polícia.
– Mas eu preciso saber. Você me deve isso...
Interrompendo Anne, Hakim dirigiu-se a George: – Chegou a hora, general. Vire-se de costas para mim e volte até a casa – ordenou ele. – E não olhe para trás! – completou.
– Eu vou caçá-lo nem que seja no inferno, seu porco maldito! – ameaçou George.
– Eu vou pará-lo antes disso, general – devolveu Hakim. – E só não mato o senhor agora porque a Sra. Banks não merece passar por isso.
Mesmo contrariado ao extremo, George resolveu obedecer. Ele se virou e caminhou devagar para a casa. Aproveitando-se disso, Hakim voltou a falar com Anne: – A senhora tem boa memória?
Ainda que não entendesse a razão daquela pergunta, Anne respondeu: – Tenho sim. Mas por que está me perguntando isso?
– Porque preciso que memorize o que vou lhe dizer – disse Hakim, aproximando mais uma vez os lábios da orelha de Anne, antes de pronunciar algo que só ela ouviu. Depois, ele a soltou e a fez virar-se de frente para ele. A seguir, segurou nas mãos dela e a fitou, dizendo: – A partir de amanhã, quando se sentir pronta, use-o.
Ela não disse nada, ficou em silêncio, apenas olhando para ele, enquanto as lágrimas teimavam em rolar por sua face. Comovido, Hakim enxugou-lhe uma lágrima com carinho e falou: – Queria muito poder consertar isso, Sra. Banks, mas não posso. Por favor, impeça a loucura de seu marido antes que mais gente inocente se machuque!
Sem entender o pedido de Hakim, ela pensou em questioná-lo, mas já era tarde. Ele já largara as mãos dela e saíra correndo pela rua pouco iluminada. George, por sua vez, ao chegar próximo à porta da mansão, arriscou-se a contrariar a ordem de Hakim e olhou para trás. Quando viu que Anne estava sozinha no portão de entrada, ele se agachou, pegou uma das armas do chão e logo em seguida gritou: – Mexam-se, palermas. Ele está fugindo! – berrou e disparou a correr em direção ao portão, disposto a perseguir Hakim.
Os homens saíram apressados da casa e juntaram as armas para, em seguida, correrem atrás do chefe. Mas, quando George se aproximou do portão, Anne tentou bloquear sua passagem. – Pare, George... – pediu ela. Contudo, o imensurável desejo de George em abater o homem que mais odiava na vida o ensurdeceu e cegou ao ponto de não perceber a esposa diante dele. Como um tanque de guerra desgovernado, ele passou por ela e a atropelou, lançando Anne ao solo, onde ela machucou o braço direito, ao sofrer uma leve escoriação.
– Peguem aquele filho da puta! – bradou, ignorando por completo a queda da mulher. Logo a seguir, sem fôlego, ele parou no meio da rua e se pôs a observar seus homens saírem à caça de Hakim. Pela primeira vez na vida, ele odiava o peso da própria idade. Mais do que nunca queria ser mais jovem para acompanhar seus subordinados naquela caçada. Ele até pensou em pegar o carro, mas no momento em que se virou para o portão de entrada, avistou Anne ainda no chão. E a visão de sua mulher ali, caída e machucada, pareceu tirá-lo de sua obsessão, fazendo-o caminhar apressado até ela.
– Querida, deixe-me ajudá-la – disse, estendendo a mão para levantá-la do chão.
– Tire sua mão de mim! – disse ela, com repúdio.
– Tenha calma, Anne. Eu só quero ajudar você.
– Quer me ajudar? – perguntou ela, levantando-se sozinha. – Então traga meu marido de volta!
– O que é isso, querida? – disse ele, confuso. – Eu estou bem aqui na sua frente.
– Não! Não está! – exasperou-se Anne. – Você não chega a ser nem mesmo um rascunho do que um dia foi meu marido!
– De que diabos você está falando? – disse ele, começando a se irritar.
No entanto, Anne nem sequer se deu ao trabalho de esclarecer a dúvida de George. Ela deu-lhe as costas e dirigiu-se para dentro da casa, deixando-o ali, sozinho do lado de fora. Ele até pensou em segui-la, mas um dos seguranças surgiu no portão, informando: – Nem sinal dele, senhor.
– Procurem direito! – ordenou. – Esse desgraçado não pode estar longe. Continuem procurando. Nem que tenham de passar a noite inteira fazendo isso!
O segurança não disse mais nada, apenas tratou de sumir da frente do chefe e correu para se juntar aos outros que continuavam procurando por Hakim.
– Bando de incompetentes! – resmungou George, caminhando em direção à porta. Ao entrar na sala, ele viu Anne no último degrau da escada e chamou: – Anne, espere. Precisamos conversar! – Ela, porém, não lhe deu atenção. Seguiu caminhando e logo sumiu do campo de visão do marido. George ainda correu para alcançá-la, mas assim que venceu a escada e chegou ao corredor do segundo andar, Anne já havia sumido. Concluindo que ela fora para o quarto, George dirigiu-se até lá, mas assim que levou a mão a maçaneta da porta constatou que estava trancada. – Abra essa porta, Anne! – pediu ele.
– Não! – rugiu ela do outro lado.
– Nós precisamos conversar! – insistiu ele.
Anne, que estava no banheiro lavando o ferimento no braço, irritou-se com a insistência dele. – Eu não quero falar com você agora! – gritou ela. – Conversaremos amanhã!
Embora quisesse se explicar com a mulher, o pensamento de George ainda estava focado na captura de Hakim. Por isso, desistiu de tentar persuadir Anne a abrir a porta e disse: – Tudo bem, querida. Mas se mudar de ideia, estarei no escritório.
Ela não disse nada. Apenas terminou de limpar o ferimento, improvisando um curativo com o material de primeiros socorros que guardava no armário. A seguir, caminhou apressada até a cama e abriu a gaveta do criado-mudo. – Preciso de papel e caneta – resmungou, enquanto tirava as coisas da gaveta.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Gizem / GerilimEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...