Nesse momento, Bryan se deu conta de que nem sequer havia reparado no gravador. Mal pensou nisso, ele disse a Jerry: – Veja se esse gravador é dos modelos antigos. Se for, basta você retirar a fita.
Esta era uma característica notável de Bryan desde seus tempos de escola: mesmo com a mente atordoada, ele continuava capaz de raciocinar com clareza, pensando em detalhes que exigiam foco, concentração. Com um meio sorriso ao se lembrar disso, Jerry puxou o gravador do bolso, constatando que o irmão tinha razão.
– Bingo! É um gravador antigo!
– Perfeito, Jerry. Então você já sabe o que fazer.
– Não sei. O que você quer que eu faça com essa fita?
– O mesmo que você faria com o gravador, ora! – Bryan falou como se fosse algo óbvio de se concluir.
– Mas como farei isso, Bryan? Vincent está lá dentro agora – disse Jerry, dando uma espiada pela porta.
– Você terá de improvisar, Jerry. Eu não poderei ajudá-lo com isso.
– Ok. Darei um jeito de distrair o Vincent.
– Certo. Agora preciso ir! – disse Bryan, desligando o telefone e deixando Jerry intrigado a ponto de voltar ao apartamento, murmurando: – Aonde será que ele vai agora?
– Está falando sozinho? – perguntou Vincent, surgindo do banheiro.
– Apenas pensando alto, Vincent – disfarçou Jerry. – Onde paramos aqui?
– Acabo de verificar o banheiro. E não há nada lá.
– E na sala, alguma coisa?
– Nada. O apartamento está em perfeita ordem nos locais que verifiquei até agora. A única exceção é esse vaso quebrado no chão. Você, que chegou aqui primeiro, notou algum indício de luta ou sinal de arrombamento?
– Não.
– Então só nos resta seguir verificando. Vou para o quarto agora – disse Vincent.
– Vou ajudá-lo lá daqui a pouco, mas antes quero dar mais uma olhada aqui na sala – Jerry informou.
Sem falar nada, Vincent entrou no quarto. Apressado, Jerry encaminhou-se ao local onde os cacos do vaso estavam. Lá, retirou o gravador do bolso, tirou a fita de dentro dele e rapidamente a colocou embaixo da estante. Segundos depois de ele ter se levantado do chão, Vincent surgiu na sala com uma pasta nas mãos.
– Veja isso, Jerry! – disse Vincent, alcançando a pasta ao colega.
Jerry sentou-se no sofá e abriu a pasta sobre as pernas. Ao ler o primeiro documento, espantou-se: – Não acredito!
Lá embaixo, Bryan já estava dentro do carro quando notou no telefone o sinal do recebimento de uma mensagem de voz. Embora estivesse com pressa, decidiu ouvi-la:
Olá, homem da lei, lembra aquele caso de que falei? Tenho um dossiê em mãos que você vai adorar ler. É algo que mudará nossas vidas! Então me ligue assim que puder!
Imediatamente, Bryan reconheceu a voz do irmão e, emocionado, deixou o telefone cair de sua mão. – Droga! – praguejou, enquanto pegava o aparelho sob o banco. Novamente, ele conectou a mensagem, mas dessa vez a ouviu até o final. Atentou então para seu horário de envio e se intrigou: – Meia-noite e vinte?!
Agarrando-se à direção do carro, ele fechou os olhos e recapitulou mentalmente a mensagem que ouvira no gravador. Notou então que nas duas gravações Kevin mencionava algo grandioso. Ainda de olhos fechados, Bryan cruzou as gravações para ver se conseguia extrair mais alguma coisa. Em menos de um minuto, ele abriu o olhos e girou a chave de ignição, dando partida no motor do Audi A-3. – É isso! – vibrou. – Já sei aonde devo ir!
Hotel L.A. – 14h49min
Hakim batia com força à porta do quarto 217. Assustada, ela colou o ouvido na porta, mas não ousou abri-la, até ouvi-lo dizer: – Abra, Charlize! – Reconhecendo a voz dele, ela abriu a porta e cedeu-lhe passagem, perguntando o que havia acontecido. Com pressa, ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si, antes de responder: – Ele me viu, Charlize. Ele me viu.
Nervosa, ela indagou: – O maldito viu você?
– Não, Charlize. Quem me viu foi o irmão do jornalista!
– Como? O que ele fazia na mansão?
– Eu não fui à mansão – Hakim tirou as luvas enquanto ia ao banheiro. – Eu fui ao apartamento do jornalista. Precisava saber se não havia nada que me colocasse como suspeito.
– E encontrou alguma coisa? – perguntou ela, curiosa.
– Não, mas quando saí do apartamento, acabei cruzando com o irmão dele.
– Mas se não há nada no apartamento que o torne suspeito, por que está assustado por ele tê-lo visto no corredor? – questionou Charlize.
– Porque eles são gêmeos, Charlize! E eu acabei olhando assustado para o cara – Hakim saiu do banheiro, secando as mãos com uma toalha. – Eu olhei para ele como quem via uma assombração.
– Isso não é nada bom. Já lhe disse que está na hora de irmos embora.
– Sem chance – disse ele com firmeza.
– Eles estão cada vez mais próximos de nós. E se você tiver atraído a atenção do FBI será pior ainda. Vamos embora, Hakim. Podemos ir para o Brasil – insistiu ela.
Contrariado, ele deu as costas para ela e andou em direção à janela, onde falou: – Eu já lhe disse que não arredo o pé daqui até parar aquele homem.
– Mas como você pretende pará-lo agora que o jornalista está morto?
– Ainda não sei. Mas pensarei em algo.
– Você está sendo teimoso – ela o acusou. – Acho que a única coisa sensata a se fazer agora é ir embora. Salve a sua vida.
– E você está sendo incrivelmente egoísta. Você acha que devo salvar minha vida e deixar muitas outras pessoas serem assassinadas?
– O que você pode fazer, Hakim? Se você estiver sendo caçado por eles e também pelo FBI, transitar por ai será praticamente impossível – avaliou ela. – Além disso, nem sequer sabemos como ele está encontrando essas pessoas.
– É por isso que eu vou entrar naquela mansão. Preciso descobrir que método ele está usando para chegar a eles.
– E quando você pretende fazer isso?
– Hoje mesmo, Charlize – disse ele, decidido. – Só vou esperar anoitecer.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Gizem / GerilimEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...