Capítulo 13 - Funeral - Parte 2

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Gibson não tentou impedi-la e tampouco fez menção de juntar a arma. Ao invés disso, preferiu puxar um punhal que trazia na cintura. Ele já havia escolhido quem seria realmente a sua vítima. Sentindo-se acuado, não restou a Hakim outra alternativa a não ser a de lutar por sua vida. Tentando distrair Gibson, ele pegou um travesseiro e lançou contra o outro, enquanto tentava se levantar. Mas, ao contrário do que Hakim esperava, Gibson nem tentou se desviar e assim pôde ler o movimento que sua presa tentara em vão.

A seguir, num movimento rápido, Gibson agarrou Hakim pelo pescoço e o empurrou de volta à cama. Com o rosto colado ao colchão, Hakim começou a sentir dificuldade em respirar, devido à força que o outro aplicava em sua traqueia. Tentando inutilmente se desvencilhar, ele viu que o grandalhão se preparava para apunhalá-lo, e concentrou-se em bloquear o ataque dele, segurando o pulso do agressor para interromper o avanço do punhal contra seu peito. O pavor no rosto de Hakim crescia à medida que percebia estar prestes a ceder à pressão de Gibson. Mesmo usando ambos os braços, ele estava perdendo aquele duelo, pois, além do oponente ser mais forte, os acontecimentos da noite anterior ainda recaíam sobre Hakim.

Gibson estava saboreando aquilo. O homem parecia sorrir com os olhos enquanto lentamente empurrava a lâmina. E quando esta chegou a dois centímetros do alvo, Hakim achou que sua hora havia chegado. – Eu vou morrer – pensou ele. Mas no momento em que se preparou para aceitar sua morte, Hakim ouviu um estrépito baque, e em seguida o gigante tombou para o lado, permanecendo inerte. Ainda desnorteado e puxando ar para os pulmões, ele viu Charlize segurando o que restara do vaso que usara para acertar Gibson na nuca. O lençol não demorou muito a ficar úmido de sangue, de modo que, por um instante, Charlize pensou ter matado aquele homem. Hakim então se levantou, checou os sinais vitais de Gibson e notou que ele ainda estava vivo. Nisso, uma avassaladora onda de fúria se apossou dele, e ele pegou o punhal, levando-o ao pescoço do homem que quase o matara.

– Eu vou te matar, seu desgraçado!

Bizarramente, Charlize sorriu ao ver aquela cena. Porém, ao se dar conta do que estava prestes a fazer, Hakim largou o punhal.

– O que você está fazendo? – protestou ela. – Mate-o!

– Não posso, Charlize – disse ele. – Eu não sou assim.

– Se você não o matar, ele vai continuar nos perseguindo! – argumentou ela.

– Lamento, mas eu não consigo – justificou-se. – Eu não sou um assassino.

Hakim se abaixou juntando a arma de Gibson do chão, enquanto continuava falando: – Depressa, pegue suas coisas, e vamos dar o fora daqui!

Tão logo pegaram tudo, Hakim a mandou na frente para chamar o elevador. Ele ficou ali, apontando a arma para Gibson, caso o mesmo acordasse. Alguns segundos depois, Charlize o chamou, ambos entraram no elevador, e Hakim apertou insistentemente o botão do andar térreo, como se isso o levasse mais rápido até lá. Assim que o elevador se abriu, eles ganharam o corredor em direção à porta da rua. Mas, na metade do caminho, Hakim sentiu-se tonto e precisou ser amparado por Charlize, que lhe perguntou: – Você está bem?

– Vou sobreviver – disse ele. – Só me ajude a chegar ao carro.

Eles estavam quase chegando à porta, quando o recepcionista os barrou. – Vocês vão embora? – ele olhou para as bolsas que ambos carregavam. – Mas só poderão sair depois que pagarem!

– Ouça, Charlize – disse Hakim, olhando para ela. – Vá logo pegar o carro que eu vou pagar a conta.

Ao voltar a olhar para o recepcionista, Hakim percebeu que ele o olhava de um jeito esquisito. – Por que essa pressa toda? – questionou o outro. – Hei, espere aí, você é o cara do noticiário! É você!

Tudo que Hakim não precisava naquele momento era ser reconhecido. Instintivamente, ele sacou a arma e apontou para o peito do recepcionista, dizendo: – Mantenha suas mãos onde eu possa vê-las!

– Hei, cara, não me mate, por favor, não me mate!

– Rápido, Charlize! – gritou ele.

Charlize estacionou o carro em frente ao hotel e abriu a porta do carona. – Venha depressa! – chamou ela.

Com o olhar fixo no recepcionista, Hakim falou: – Arranque o telefone da tomada!

Apavorado, o homem obedeceu, puxando o fio com força. Aquela era a deixa para Hakim dar o fora dali. Ele entrou no carro, fechou a porta bruscamente e do mesmo modo disse a Charlize: – Depressa, nos tire logo daqui!

02h55min

Bryan olhava fixamente para o teto quando seu celular tocou. Ao ver se tratar de uma ligação do pai, hesitou em atender. Mas, preocupado com sua mãe, mudou de ideia.

– Pai...

– Acordei você, filho?

– Não – respondeu ele, ajeitando-se na cama, sem saber o que dizer a seguir.

– Ouça, filho – disse Anthony. – Sei que eu deveria ter ligado antes, mas as coisas não estão nada fáceis aqui. Sua mãe realmente desmoronou, e espero que você compreenda a reação que ela teve em relação a você.

– Eu entendo sim, pai – disse Bryan, lembrando-se de que sua mãe se recusara a vê-lo quando ele chegou ao hospital. – Sei o que a mãe deve estar passando – concluiu, com a voz embargada. Por um momento, houve um silêncio na linha que pareceu durar uma eternidade para ambos. Mas Bryan decidiu continuar a conversa: – E quanto ao senhor, pai. Como o senhor está?

– Estou bem – mentiu Anthony. – Tenho de estar. Por sua mãe.

– Eu vou pegar este assassino, pai – prometeu Bryan. – Ele vai pagar pelo que fez.

– Não vá fazer nenhuma besteira, filho – orientou Anthony, conhecendo bem o temperamento de Bryan.

– Não se preocupe. Sei o que estou fazendo – mentiu Bryan.

Anthony sabia que o filho estava mentindo e temia que ele pudesse fazer algo impensado e acabasse complicando sua vida. Mas não queria confrontá-lo, não naquele momento. Por isso, mudou de assunto. – Filho, a outra razão dessa ligação é que hoje de manhã o corpo de Kevin será liberado – informou Anthony. – Sua mãe também terá alta pela manhã, e decidimos que vamos sepultar seu irmão às quinze horas.

– O senhor precisa de ajuda com os preparativos?

– Não se preocupe com isso. Jerry vai me ajudar com a liberação do corpo, e já contatamos a funerária. Eu apenas quero você lá, entendeu?

Ao ouvir aquilo, Bryan não pôde deixar de se sentir um exilado. Ele parecia estar fora do universo da família, e isso doía demais. Tanto que não conseguiu evitar algumas lágrimas rolando amargas em seus olhos.

– Bryan? Você ainda está aí, filho?

– Ah, sim. Estou aqui, pai – falou ele, enxugando o rosto. – Pode deixar, estarei lá.

– Certo. Agora vou tentar dormir um pouco. Amanhã será um dia difícil – disse Anthony. – Vá dormir também.

– Vou tentar – disse Bryan. – Nós nos veremos amanhã.

A seguir, Anthony desligou o telefone. Bryan queria ter prolongado mais a conversa com o pai, mas sabia que, se o tivesse feito, fatalmente acabaria se emocionando demais e achou melhor poupar o pai daquilo. Então, após largar o telefone e apagar a luz do abajur, ele se virou para o lado e fechou os olhos. Iria tentar dormir um pouco.


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora