Capítulo 07 - Amargas Lembranças - Parte 3

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Adam assustou-se, ficando estático diante da reação de seu superior.

– Desculpe, senhor – disse Jerry. – Eu apenas tentei descontrair ...

Robert nem deixou Jerry terminar de se justificar. – Não me interessa a sua intenção. Eu quero ordem e seriedade neste escritório – ordenou. – E quanto a você, Heinfield? O que ainda faz aqui plantado feito uma árvore? Não tem mais trabalho hoje?

Adam girou o corpo com pressa e bateu em retirada: – Já vou, senhor.

Quando enfim fechou a porta atrás de si, respirou aliviado. – Esse homem me dá medo pensou.

Dentro da sala, Robert encaixou a fita no gravador, fechou o aparelho e apertou o play. Entretanto, não se ouviu nada além de um irritante chiado.

– Será que danifiquei a fita? – pensou Jerry.

– É melhor rebobinar, senhor – sugeriu Vincent.

Robert acatou a sugestão e depois apertou novamente o play. O que veio a seguir foi toda a gravação a qual Jerry, na presença de Bryan, já ouvira no apartamento de Kevin. O diretor e Vincent ouviam atentamente a gravação, enquanto Jerry esperava pela reação e análise de ambos. E isso veio assim que acabaram de ouvir a fita.

– Pelo que entendi, Kevin tinha um encontro com uma fonte até então desconhecida – observou Robert.

– E parece que ele estava inseguro em relação ao encontro – completou Vincent.

– Sim! – concordou Jerry. – Pois poderia haver uma relação com as cartas ameaçadoras que ele recebeu – concluiu.

– Cartas essas que você acredita mesmo serem de Howard Howthorn?

– Ou então desse cara aí da gravação – especulou Jerry. – Howthorn pode tê-lo contratado para fazer o serviço.

– No momento, isso é mera especulação, Thompson – afirmou Robert.

– Eu diria que é um começo, senhor. Um ponto de partida – insistiu Jerry.

Vincent, que ouvia calado a conversa entre os dois, resolveu se manifestar.

– Eu concordo com Jerry, senhor. As cartas parecem ir ao encontro das ameaças que Howthorn fez. Além disso, um homem poderoso como ele e com tamanha sede de vingança tem condições de mandar alguém fazer isso, sem precisar sujar as próprias mãos. E esse alguém pode sim ser o homem que Kevin menciona na gravação.

– Pode até ser – Robert pôs a mão no queixo. – Mas, a menos que a gente encontre uma impressão digital nessas cartas, tudo que teremos é um suspeito de raça negra, sem rosto, sem identidade. E isso dificulta, e muito, ligar esse assassinato a Howthorn.

Teríamos um rosto se o senhor não tivesse afastado Bryan – pensou Jerry.

– Podemos ter mais que isso – disse Vincent. – Verificamos a garagem, e o carro de Kevin não estava lá. Essa gravação indica onde foi marcado o encontro, e como o veículo também não estava em frente à boate, há grandes chances de ainda estar lá no depósito.

– Muito bem, Vincent. Mande analisar as cartas e se dirija ao depósito.

– Sim, senhor – disse Vincent já em direção à porta.

– Quanto a você, Thompson, acompanhe Vincent e deixe a visita a Howthorn para amanhã, pois já teremos o resultado da análise das cartas, e talvez seja encontrada alguma coisa lá no local do encontro.

– Eu preferiria ir hoje.

– Não estou lhe pedindo uma opinião, estou lhe dando uma ordem. Você vai visitar Howthorn apenas amanhã. Entendido, Thompson? – Robert encarou Jerry.

– Sim, senhor – disse Jerry, contrariado.

Ele virou-se e caminhou em direção à porta, mas o chefe o chamou.

– Aonde vai, Thompson? Eu ainda não acabei.

Jerry voltou a se aproximar da mesa de Robert, mas se manteve calado.

– Amanhã, quando você for até a Pharmacom 2000, leve a Srta. Smith com você.

– Sharon? – Jerry mostrou-se surpreso.

– Sim. Alguma contestação?

– Apenas não vejo a necessidade de levá-la comigo. Ou o senhor acha que posso perder o controle ao questionar Howthorn?

Robert juntou as mãos sobre a mesa, olhando firme para Jerry. Estava cansado, pois começara seu dia de trabalho horas antes do habitual. A fadiga, aliada às contestações de Jerry, irritava-o. Mas, num esforço para manter a calma, dirigiu-se ao subordinado.

– A razão pela qual estou enviando a Srta. Smith com você é bem simples. Ela não estará incumbida de avaliar você, mas o modo como Howthorn vai reagir – esclareceu.

– Ela vai analisá-lo durante minha conversa com ele?

– Isso mesmo. Ela tem experiência em avaliação de comportamento e geralmente sabe quando a pessoa está mentindo. Agora, chega de explicações, não é mesmo? Encontre Morris, e dirijam-se rapidamente ao depósito. Daqui a pouco vai anoitecer, e temo que mendigos apareçam por lá e acabem destruindo possíveis pistas.

– Estou a caminho, senhor.

– Só mais uma coisa. Peça a Srta. Smith para vir até minha sala.

Quando Jerry saiu da sala do diretor, deu de cara com Vincent que já o aguardava e disse-lhe: – Me espere no estacionamento, pois antes de ir preciso dar um recado a Sharon.

Segundos depois, ele já estava na soleira da porta da sala de Sharon, que naquele momento se encontrava aberta. Ele olhou para dentro, mas aparentemente não havia ninguém ali. – Aonde será que ela foi? – pensou.

Como tinha pressa, decidiu entrar e deixar um recado escrito sobre a mesa dela. Mas, assim que entrou, teve sua atenção chamada para aquele ambiente tão diferente dos demais do prédio do FBI. Em cada canto da sala, havia uma estante abarrotada de livros, que Sharon organizara minuciosamente em ordem alfabética. Havia também, no centro da sala, um confortável sofá e à frente dele uma mesinha ornamentada com um vaso de flores, dando um toque feminino ao lugar. Por fim, a mesa de trabalho de Sharon também surpreendia pela organização, de modo que Jerry logo achou um bloco de papel para anotar o recado. Assim que começou a fazê-lo, uma voz o surpreendeu: – Procurando alguma coisa, Jerry?


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora