Sharon já estava acostumada ao temperamento explosivo de Bryan; pois, durante o tempo em que o ajudou após a morte de Susan, presenciou diversos arroubos emocionais dele. Mas desta vez algo soou diferente. Seria por se tratar de uma situação pessoal? – Eu só quero ajudá-lo, Bryan! – disse ela, tentando se justificar.
– Ah, está tentando me ajudar? E quer fazer isso me levando para sua cama?
– Você sabe que eu o amo!
– Não estamos falando de nós aqui, Sharon! – vociferou ele. – Meu irmão foi assassinado, e minha mãe quase morreu; portanto, pare de se comportar como uma vadia e faça seu trabalho direito! – gritou, sem se preocupar se suas palavras iriam ofendê-la ou não.
Mas ofenderam. Pela primeira vez desde que entrara naquela sala, Sharon sentiu-se atingida. Algo novo acontecia no íntimo daquela mulher que em tão pouco tempo havia passado a todos no trabalho a imagem de uma mulher forte e decidida. Uma verdadeira fortaleza emocional, capaz de manter o controle nas situações mais adversas. E tudo isso graças a uma metodologia de trabalho que ela mesma havia implantado com sucesso no FBI.
Dois meses depois de entrar para a agência, Sharon reuniu-se com o diretor Robert Preston para apresentar a ele um projeto chamado "Implosão Emocional", cujo objetivo era tornar uma pessoa capaz de manter o equilíbrio emocional, não importando qual fosse a situação pela qual ela estivesse passando. E ainda que o projeto não fosse criação dela, a proposta de Sharon era adaptá-lo à rotina dos agentes.
No início, Preston mostrou-se relutante e até pessimista quanto à ideia apresentada por Sharon, pois achava que os agentes não seriam receptivos ao que ele próprio descreveu como "algo pessoal e invasivo". Mas o otimismo dela sobre os resultados somado à imagem que o escritório de Los Angeles ostentava na época convenceram Robert a deixá-la fazer ao menos uma tentativa.
Um mês antes de Sharon entrar para o FBI, a reputação do escritório de Los Angeles fora manchada por uma fatalidade. Um agente novato da instituição cometera um crime ao assassinar a sangue frio um criminoso na sala de interrogatório. O motivo? Vingança. Depois de um longo período de investigações sobre uma grande rede de tráfico de drogas, o FBI finalmente efetuara a prisão em flagrante do principal suspeito, numa operação que terminara em tiroteio e resultara em diversas mortes. Na época, o agente Thomas Colleman, responsável pelo caso, havia passado por um trauma três dias antes. Ao chegar em casa, ele encontrou sua mulher nua no chão da sala, desmaiada e claramente machucada, conforme indiciavam os hematomas espalhados pelo corpo. No hospital, a situação piorou ainda mais quando constataram que sua esposa havia sido estuprada. No dia seguinte, ele chegou transtornado ao escritório, repetindo sem parar que sabia quem fizera aquilo com sua mulher. Sua acusação recaía sobre Nathan Howthorn, o homem a quem estava investigando.
Frente às circunstâncias, o diretor Robert Preston achou prudente afastá-lo do caso, pois temia que o trauma sofrido pelo agente o levasse a fazer uma acusação infundada, da qual não havia prova alguma. Ademais, isso poderia estragar a operação que levara meses para ser montada e estava a dois dias de ser executada. Porém, numa dessas ironias do destino, no mesmo dia em que realizaram a operação e prenderam Howthorn, o resultado do exame de DNA, feito com uma amostra de esperma encontrada no corpo da mulher de Thomas Colleman, constatou que a acusação do agente era verdadeira. Algo que o FBI só ficou sabendo minutos após o agente ter feito justiça com as próprias mãos.
Decidido a olhar nos olhos do estuprador de sua mulher, Thomas Colleman foi ao escritório do FBI. Lá chegando, percebeu que ninguém o notou, devido ao burburinho em que se encontrava o local. Bastou, pois, um intervalo no interrogatório, para que ele se aproveitasse da situação e entrasse na sala, ficando frente à frente com aquele que covardemente violentara sua esposa. Segundos depois, porém, o escritório inteiro percebeu sua presença. Foi quando sons de disparos se fizeram ouvir, vindos da sala de interrogatório. Todos que lá estavam correram e se aglomeraram na sala de observação, cujo vidro lhes permitia ver o interior da outra sala. E a visão que tiveram não podia ser mais estarrecedora. Eles presenciavam o que havia sido uma execução. Com as roupas sujas de sangue e a arma em punho, Thomas Colleman olhava com satisfação para o corpo do criminoso, agora caído ao chão. A cabeça de Nathan Howthorn nada mais era que uma mistura de fragmentos de ossos e carne retorcida. Nela, o agente simplesmente descarregara sua arma, como se quisesse ter certeza de que aquele homem nunca mais moveria um músculo sequer.
Passado o susto inicial, Robert Preston foi o primeiro a correr e tentar abrir a porta da sala de interrogatório, mas o agente, além de ter trancado a porta, havia escorado uma cadeira junto à maçaneta a fim de impedir a sua abertura. E foi sob o olhar atento de todos que Thomas Colleman recarregou a arma, dando sinais de que o drama ainda não havia acabado. Ninguém conseguia convencê-lo a largar a arma e deixar a sala. Transtornado, ele dava mostras de que poderia suicidar-se a qualquer momento. E para agravar ainda mais a situação, o advogado do criminoso acabava de colocar os pés no escritório, exigindo ver o seu cliente.
Robert Preston, que seguia tentando convencer Colleman a se entregar, nem notou quando o advogado se aproximou do vidro e testemunhou o horror recém-ocorrido. A visão de seu cliente, com o corpo sem vida estirado ao chão e com a cabeça estraçalhada qual um guisado de carne, quase fizeram o defensor vomitar nos próprios sapatos. Assim que se recuperou, o advogado sacou o telefone do bolso e fez uma ligação. Quando uma voz grossa se fez ouvir do outro lado da linha, o advogado informou sem rodeios o ocorrido. E tudo que ele ouviu como resposta foi um "Estou a caminho" do pai de Nathan Howthorn.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Mystery / ThrillerEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...