Capítulo 14 - Caçado - Parte 8

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Para desapontamento de Hakim ao chegar à plataforma, não havia nenhum metrô ali. E isso não era nada bom, pois agora só lhe restavam dois disparos e ainda havia três homens para enfrentar. Escondendo-se atrás de uma coluna, ele aguardou seus perseguidores; porém, quando viu os quatro homens descendo as escadas, percebeu que havia se enganado. – Droga! Eles estão com colete – praguejou em pensamento. Se a situação já era ruim, agora acabara de ficar pior. Afinal, mesmo que atingisse dois deles na cabeça, ainda haveria mais dois para enfrentar, e a essa altura ele já estaria sem munição. Sem saber o que fazer, ele recostou-se atrás do pilar e começou um diálogo com um amigo com quem ele não falava há algum tempo. – Por favor, meu Deus – pediu em tom de súplica. – Ajude-me a sair daqui!

Ao ouvir o som de sapatos ecoar pela plataforma, Hakim até cogitou em pular nos trilhos. No entanto, a lembrança de quão terrível estava sendo o seu dia o fez mudar de ideia, ao pensar na possibilidade de que, mal pulasse, um trem surgiria do nada e acabaria com sua vida. O fato é que ele estava prestes a ser encontrado. Ele soube disso quando ouviu o barulho de uma das armas sendo engatilhada e a cadência dos passos se intensificando. Prendendo a respiração, ele aguardava o pior, quando de repente ouviu tiros.

Receoso, mas querendo entender o que de fato estava ocorrendo, ele arriscou-se a espiar. O que viu o surpreendeu. O irmão do jornalista morto estava mais uma vez em seu encalço e agora trocava tiros com os homens do general. Vendo isso, Hakim perguntou a si mesmo se era a resposta de Deus ao seu pedido; pois, se para alguns era uma grande ironia ele ter sido salvo justamente pelo homem que o queria morto, para ele nada mais era que Deus escrevendo certo por linhas tortas. E foi precisamente nesse momento que Hakim ouviu um som estridente indicando a chegada de um trem à estação. Ele então agradeceu silenciosamente, pois teve certeza de que Deus estava agindo em favor dele.

Subitamente otimista, Hakim pensou em correr de um pilar para o outro e assim ficar mais próximo da porta de entrada de um dos vagões do trem que já começava a perder velocidade para parar naquela estação. No entanto, mal ele deu um passo à frente, um tiro quase atingiu seus pés. Aquilo fez com que ele recuasse e se escondesse novamente atrás do pilar. Assim que viu Hakim tentar se mover para onde o trem iria parar, Bryan, que vinha atirando freneticamente, de repente parou e resolveu focar sua atenção exclusivamente em seu verdadeiro alvo. Entretanto, os demais homens continuavam atirando às cegas, impedindo-o de chegar até Hakim. A essas investidas, Bryan respondia com um disparo ou outro quando algum deles ameaçava avançar em sua direção.

Preciso me livrar desses caras – pensou Bryan. Antes, porém, de conseguir realizar esse intento, ele viu Hakim sair de trás do pilar e correr até o próximo. Vendo aquilo, Bryan deixou toda prudência de lado e partiu para o confronto direto com aqueles homens. Ele também saiu de trás do pilar onde estava e atirou contra eles, atingindo dois deles no peito, que imediatamente tombaram com a força do impacto. Outro dos homens virou-se para atirar em Hakim, mas errou o tiro, que acabou arrebentando o vidro de uma das janelas do trem. Por sorte, ninguém foi atingido, pois as pessoas já haviam se dirigido à porta para descerem. Sem perda de tempo, Bryan disparou duas vezes nas costas dele, levando-o também ao chão.

Quando viram aquilo, as pessoas se desesperaram e aos berros se jogaram no chão, buscando proteção. Tal tumulto foi providencial para Hakim, o qual se aproveitou da intervenção de Bryan para correr e entrar no vagão. Porém, no instante em que passava pela porta, ela se fechou atingindo seu braço esquerdo. O impacto o fez deixar cair a bolsa que carregava, enquanto um gesto reflexo o fez puxar o braço para dentro, permitindo que a porta terminasse de fechar. – Não, não, não! – disse ele desesperado, enquanto tentava abrir a porta do vagão. Seu desespero cresceu ainda mais quando o trem começou a se mover. Naquela bolsa estava mais do que a prova de sua inocência. Estava também o diário de seu pai. E perdê-lo significava não poder cumprir uma promessa.

Vendo o trem começar a deixar a estação, Bryan começou a correr atrás dele. Decididamente, ele não estava disposto a deixar Hakim escapar. Porém, ao se aproximar da porta, ele viu o fugitivo erguer a arma, apontando-a em sua direção. Instintivamente, Bryan levantou sua arma se posicionando para reagir, mas notou algo estranho. O olhar de Hakim e sua mira não se dirigiam a ele. Acompanhando a trilha invisível do olhar do outro, Bryan se virou. Um ponto vermelho em seu peito disparou-lhe um alerta. Foi quando viu que se esquecera de um daqueles homens com quem há pouco trocara tiros, e agora o estranho apontava em sua direção.

Sentindo que inevitavelmente seria alvejado, Bryan decidiu que, se fosse morrer ali, ao menos levaria Hakim junto com ele, e bruscamente se virou para atirar no suposto assassino de seu irmão. Foi quando o som estridente de um disparo ecoou ao mesmo tempo em que o vidro da porta do trem explodiu em cacos que se espalharam pelo chão da estação. 

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora