Capítulo 15 - Cara a Cara - Parte 5

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17h26min - A queda de temperatura pegou George de surpresa; porém, como já havia chegado ao local onde encontraria Evan, decidiu suportar o frio e resolver logo a razão daquele encontro. Em pé, em frente ao portão de entrada do cemitério, Evan já o aguardava.

– Pontual como sempre, Evan – disse George, após descer do Porsche.

– Estamos no lugar certo, senhor?

– Claro que sim, Evan – confirmou George.

– E o que viemos fazer aqui?

– Vamos entrar. Lá dentro eu explico.

– Vai demorar? A placa indica que o local será fechado em meia hora.

– Não se preocupe Evan. Não vamos demorar – assegurou George.

Enquanto acompanhava seu chefe pelo cemitério, Evan sentiu sua curiosidade ficar ainda mais aguçada. Mesmo sabendo que às vezes o general marcava encontros em locais estranhos, a fim de não chamar a atenção, aquilo era inusitado demais. Parecia haver uma razão oculta para estarem ali, algo de que Evan não fazia a mínima ideia. De qualquer modo, ele não estava gostando daquele lugar.

– E então, senhor – disse ele, esfregando as mãos uma na outra na tentativa de aquecê-las. – O que vamos fazer aqui?

– Não seja impaciente – orientou George. – Ainda não chegamos ao lugar certo.

– Lugar certo? – perguntou Evan, ainda mais curioso.

– Exato! – George mantinha um semblante enigmático – Tenho algo a lhe mostrar.

Quando ambos chegaram a uma pequena alameda, George logo começou a subi-la. Evan, por sua vez, o seguiu devagar, tentando resolver mentalmente aquele enigma. De repente, ele estancou, ao se lembrar do encontro deles no aeroporto, quando contou ao chefe a história de seu pai e também ouviu do general a promessa de que um dia contaria o que acontecera com sua filha. Foi nesse momento que uma teoria se formou em sua cabeça. – Ele vai me mostrar o túmulo da filha – pensou.

– Vai ficar aí parado? – gritou George, despertando Evan de seus pensamentos.

– Estou indo, senhor! – respondeu Evan, subindo rápido o terreno íngreme.

Ao chegar ao final da alameda e alcançar o chefe, Evan viu-se num local onde a sensação de paz conflitava com o ar mórbido do lugar. Ele percebeu que havia duas fileiras de túmulos e entre eles uma via de passagem. E foi justamente ali que George parou de caminhar. – Chegamos! – informou ele.

Evitando olhar para os túmulos, Evan parou em frente ao seu chefe, esperando que este falasse e pusesse logo fim àquele mistério.

– Lembra-se quando você me disse que queimou o dossiê que recuperou do
jornalista?

– Lembro. Foi no nosso encontro no seu jatinho particular lá em San Francisco. Mas qual a razão dessa pergunta, senhor?

– Perguntei isso a você porque hoje aconteceu algo que me fez lembrar aquele dossiê – disse George.

– O que aconteceu, senhor?

– Quase pegamos Hakim essa tarde! – disparou George.

Inicialmente, Evan não entendeu o significado daquela revelação. Mas tão logo ligou uma coisa à outra, uma sensação ruim tomou conta dele.

– Quase o pegaram? – perguntou ele, tentando disfarçar o nervosismo.

– Foi por pouco! – os olhos de George mantiveram-se fixos em Evan. – Mas o resultado foi suficiente para me deixar muito curioso.

– Curioso? – o estômago de Evan pareceu embrulhar.

– Muito – afirmou George. – E acho que você poderá me ajudar com isso.

Evan não aguentava mais o tom de mistério daquela conversa. No seu íntimo, ele previa que algo ruim estava por vir e prolongar aquilo o deixava cada vez mais angustiado. Por isso, optou por ir logo ao assunto. – Desculpe-me, senhor – disse ele. – Mas o que está acontecendo?

– Isto é o que está acontecendo! – disse George, entregando a pasta a Evan. – Você pode me ajudar a entender a existência disso?

Embora já imaginasse o que havia naquela pasta, ele não poderia deixar de abri-la. E foi exatamente o que fez. Seu coração acelerou tão logo ele reconheceu ser aquele o mesmo dossiê que Hakim havia recuperado.

Evan permaneceu de cabeça baixa, fingindo examinar de forma minuciosa aqueles papéis. Ele virava página por página enquanto tentava ganhar tempo, pensar no que dizer e em como agir naquele momento. Porém, já estava chegando a última pagina, e ele ainda não havia conseguido pensar em nada. Para piorar ainda mais a situação, seus olhos se desviaram por um breve momento do dossiê, fazendo-o ver algo que até então ele não percebera. E essa visão foi suficiente para deixar Evan apavorado. Atrás do general, uma cova aberta, que provavelmente seria usada num enterro no dia seguinte, magnetizou de forma instantânea o olhar dele. Aquilo impulsionou sua imaginação ao ponto de se ver cercado por homens armados, que só aguardavam por uma ordem de George para darem cabo de sua vida e depois enterrá-lo ali mesmo.

– Ele me trouxe aqui para me matar! – pensou Evan.

Nesse mesmo instante, um ruído estático, semelhante ao de um rádio sendo sintonizado, começou a ecoar na cabeça de Evan, e este ouviu uma voz maquiavélica e debochada, que lhe sussurrava de forma atormentadora:

– É uma emboscada! Ele descobriu sua mentira! Você vai morrer, você merece morrer!

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora