Capítulo 05 - Suspensão - Parte 2

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Nesse momento, os olhares se modificaram, demonstrando confusão.

– Confiança nada mais é do que a expectativa pela lealdade alheia. E ela deve ser mútua! – prosseguiu ele, dando ênfase à última palavra. – Ou vocês confiariam em alguém que não confia em vocês?

Todos permaneceram calados.

– Creio que todos aqui foram recrutados da mesma forma, isto é, foram procurados por alguém que me representou. Também creio que ele não disse para quem vocês iriam trabalhar. Correto?

Ainda em silêncio, todos concordaram, apenas balançando a cabeça.

– Pois bem, quando aceitaram meu convite, vocês me deram um voto de confiança, talvez até sem perceberem. Da mesma forma, quando escolhi cada um de vocês e fiz as exigências as quais se comprometeram a cumprir, eu também lhes dei um voto de confiança. Estabelecemos assim uma confiança mútua.

Novamente, todos assentiram com a cabeça.

– Mas chega de teoria, e vamos logo à prática! – disse ele, num tom quase eufórico. – Vou precisar da ajuda de um de vocês para a demonstração que irei fazer.

Após uma pausa levemente dramática, ele prosseguiu: – Pronto, já fiz a minha escolha. Ei você, venha à frente, por favor – falou, apontando o dedo para um dos homens.

Timidamente, o escolhido, um homem por volta dos 30 anos, de pele e cabelos negros e estatura mediana, acatou o pedido.

– Jones, é esse o seu nome, certo?

– Sim, senhor – Jones confirmou.

– Pois bem, Jones, queira se virar de frente para os seus companheiros – Jones se virou rapidamente. – Peço a vocês que observem esse homem.

Jones sentiu-se como uma mercadoria sendo exposta numa vitrine enquanto o outro incitava o grupo a encará-lo.

– O Sr. Jones é digno da confiança de vocês?

– Sim, senhor! – gritaram os homens, em coro, com exceção de Evan.

– E quanto a você, Jones, esses homens são dignos da sua confiança?

– Sim, senhor! – ele respondeu sem pestanejar.

O homem então sorriu, mas se tratava de um sorriso irônico. – Estou desapontado, senhores – disse ele, desfazendo o sorriso dos lábios. – A confiança cega é perigosa. E embora no início tenha sido necessária, agora ela não será mais admitida. A partir de hoje, precisamos estabelecer confiança plena entre nós. Por isso estou aqui perante vocês, pois a confiança plena requer conhecimento.

Embora não fosse vidente, o homem podia pressentir claramente a dúvida que se formava nos olhos de cada um. Dúvida essa que seria dissipada em instantes para então ser substituída por outro sentimento mais avassalador.

– Minha presença aqui é a prova da confiança plena que estou depositando em vocês – afirmou ele, dirigindo-lhes um olhar incisivo. – Pena que ela não foi correspondida por todos aqui presentes. Mas isso será corrigido imediatamente.

Ainda colocado atrás de Jones, o homem prosseguiu seu discurso: – Quando pedi a lealdade de vocês, eu deixei bem claro os alicerces dela. Será que o Sr. Jones poderia citar as duas coisas que eu pedi? – indagou ele, desviando o olhar do grupo e fixando-o no rapaz.

Jones, que continuava sem entender a razão daquilo, tratou logo de responder: – O senhor pediu que a causa fosse mantida no mais alto sigilo – disse ele, em alto e bom som, referindo-se à primeira coisa. – E também pediu que nos mantivéssemos limpos – concluiu.

– Obrigado, Sr. Jones – o homem colocou os braços nas costas, à altura da cintura. – Duas coisas muito simples de se cumprir, não é mesmo?

Alguns concordaram meneando a cabeça, outros não esboçaram reação alguma. O próprio Jones se manteve impassível diante da pergunta.

– Pois bem, senhores, o primeiro quesito foi cumprido à risca. Nenhum de vocês deixou vazar nada referente à nossa causa. Só que, infelizmente, o segundo quesito foi descumprido por um de vocês – ele fez mais uma pausa dramática acrescida da mudança em seu semblante, e concluiu: – E isso terá de ser corrigido hoje. Ou melhor, já!

Todos os homens trocaram olhares, como se questionassem uns aos outros quem havia descumprido as regras. Mal sabiam que nos próximos segundos teriam a resposta. De repente, Jones revirou os olhos, seus joelhos se dobraram e seu corpo tombou para frente, batendo o rosto com violência contra o solo, onde permaneceu imóvel. Foi somente aí que os outros perceberam o que havia ocorrido. Com uma pistola acoplada a um silenciador, o homem pressionou a nuca de Jones e efetuou o disparo. Quando caiu, Jones já estava morto. O pânico logo se instaurou, gerando diferentes reações. Alguns tentaram correr, mas os dois homens às suas costas, agora com armas em punho, acabaram por impedi-los. Outros, achando que seriam os próximos alvos, jogaram-se ao chão. Houve quem ficasse estarrecido, olhando o corpo sem vida de Jones, e até alguns cuja inércia parecia indicar despreocupação com o que viria a seguir. Evan foi destes que não mexeu um músculo sequer. No entanto, ele realmente já sabia o que iria acontecer.

– Fiquem calmos, senhores! – bradou o homem, ainda com a pistola na mão. – Ninguém mais vai morrer aqui. – E olhando para os dois homens também armados, ele prosseguiu: – Podem guardar as armas. Já resolvemos o nosso problema.


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora