Capítulo 05 - Suspensão - Parte 4

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12h48min

Bryan olhava fixamente para a câmera na sala de interrogatório. Ele não sabia quanto tempo se passou desde que Sharon deixara a sala, mas de uma coisa ele sabia: sua paciência havia se esgotado. E se a câmera estivesse mesmo desligada, sair dali não seria difícil desde que ele fosse rápido. Sem pensar mais, ele levantou-se da cadeira e dirigiu-se à porta. Mas, antes que chegasse lá, ela abriu, fazendo surgir a figura de Robert Preston.
– Lá vem o iceberg! – Bryan pensou.
O diretor-assistente do FBI estava irritado, ao menos era isso que sua carranca demonstrava. E foi sem delongas que perguntou: – Planejava ir a algum lugar, Giuliani?
– Apenas ia ver quanto tempo vocês ainda pretendiam me deixar esperando – respondeu Bryan, de forma insolente.
– Você devia estar satisfeito por não estar preso – disse Robert, fechando a porta. – Ainda mais depois do que fez.
– E o que foi exatamente que eu fiz? – Bryan questionou, olhando fixamente nos olhos castanhos de seu superior.
Robert entrara na sala disposto a manter o controle, mas as palavras de Bryan levaram-no ao fracasso. – Escute aqui, garoto! – respondeu ele, com a voz alterada. – Eu já estou farto desse seu comportamento. Agora, sente essa bunda na cadeira, e vamos resolver logo sua situação!
Embora torcesse por aquela reação, Bryan se surpreendeu e permaneceu imóvel. Só quando viu o diretor largar a arma que usara no banheiro sobre a mesa, foi que se sentou, pensando: – Está dando certo.
– O que está havendo com você? – perguntou Robert, quando também se sentava.
Bryan sentiu vontade de rir. Aquela pergunta era uma das coisas mais absurdas que já ouvira na vida. Mas preferiu ironizar: – Tirando o fato de meu irmão ter sido assassinado e minha mãe estar hospitalizada, não há nada de errado comigo. Eu estou ótimo.
– Não brinque comigo, agente Giuliani! – Robert socou a mesa com violência.
Agora Bryan já não acreditava no que estava presenciando. O homem mais frio que ele conhecera na vida, que jamais era deselegante, sem importar qual situação fosse, estava perdendo a compostura diante de seus olhos. Era como visualizar um iceberg derretendo ao sol. Mesmo surpreso, Bryan decidiu que não iria recuar; pelo contrário, forçaria ainda mais a situação. E foi num tom debochado que disse: – Olhe o exemplo, chefe. Se o senhor se alterar dessa forma, o pessoal vai achar que o programa é um fracasso.
Isso deixou Robert ainda mais irritado. Nem tanto pelo deboche de Bryan, mas sim pela razão que havia nas palavras dele. Então, lutando para manter o controle, Robert disse: – Juro que estou tentando compreendê-lo, mas está ficando difícil.
– E quem disse que quero sua compreensão? – Bryan indagou de forma ríspida. – Tudo que eu quero é investigar a morte de meu irmão. E nem isso eu estou conseguindo fazer.
– Investigar a morte de seu irmão? – disse Robert, surpreso. – Você sabe que não pode participar das investigações. Você conhece os procedimentos.
– Besteira! Eu sou o melhor agente que você tem – argumentou ele, sem modéstia alguma. – E você quer me deixar de fora por causa de burocracia?
– No seu caso não é apenas burocracia. Você está fora de controle. E mesmo que eu concordasse com sua participação, você certamente comprometeria a investigação.
– O que o faz pensar que eu poderia comprometer a investigação?
Demonstrando incredulidade no que acabara de ouvir, Robert resolveu usar da mesma artimanha usada por Bryan instantes antes: – Pois é, que motivos eu teria para pensar nisso, não é mesmo? – ironizou. – Ah sim, lembrei! Você só tentou matar um colega de trabalho e depois ofendeu nossa psicóloga. Pouca coisa, não é mesmo?
– Em primeiro lugar, eu não iria matar o Miller. Eu...
– Não diga bobagem, garoto, eu estava lá – disse Robert, interrompendo-o. – Você estava com a arma na boca dele!
– Mas posso garantir que não ia matá-lo – defendeu-se Bryan.
– Como pode me garantir isso? Eu vi o seu estado. Eu vi o desejo em seus olhos!
– Quando essa conversa terminar, o senhor terá a prova de que eu não ia matá-lo – disse Bryan, de forma serena. – Eu apenas dei a ele uma lição mais do que merecida. E quanto a Sharon, eu não fiz nada além de dizer a ela algumas verdades.
– Chamando-a de vadia? – indagou Robert.
– O senhor não estava aqui na sala – disparou Bryan. – Nem viu o que ela fez. Então não avalie apenas um lado da história. Seja mais profissional.
– Está questionando meu profissionalismo, garoto?
– Não estou questionando seu profissionalismo, embora neste caso deixe a desejar. O que eu questiono aqui é sua postura robótica.
– De que diabos você está falando agora?
– Estou falando dessa maldita redoma que o senhor, seja lá por qual razão, criou em volta de si mesmo. Não se aproxima de ninguém, não se preocupa com ninguém. Parece um robô programado pelo FBI, sem emoção alguma.
– Chega, garoto! – gritou Robert. – Quem você pensa que é para me julgar?
– E quem o senhor pensa que é para me julgar também? – respondeu Bryan no mesmo tom. – O senhor nem sequer me ouviu ou me chamou à sua sala para ver como eu estava. Não é à toa que todos aqui o chamam de iceberg!

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora