Capítulo 11 - O Herdeiro - Parte 1

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Pharmacom 2000 - 15h56min 

A secretária de Howard Howthorn não tirava os olhos dos dois agentes do FBI sentados no sofá, que aguardavam o momento em que seriam recebidos pelo poderoso homem da indústria farmacêutica. Nada discreta, inclusive em suas proporções físicas rechonchudas, ela observava atentamente os lábios dos dois, enquanto inutilmente tentava fazer uma leitura do que estavam conversando.

– Ela não tira os olhos da gente – disse Sharon, cobrindo a boca com a mão.

– Minha beleza causa mesmo esse magnetismo nas mulheres – respondeu Jerry.

– Ok, gostosão – ironizou ela. – Aproveite então todo esse apelo sexual e vá lá perguntar se vai demorar muito para o todo poderoso nos atender.

– Tenha calma, Sharon. Eu já acho um milagre ele ter topado nos receber.

– Também acho estranho ele nos receber com essa boa vontade toda – concordou ela. – Mas estou ansiosa para ver como Howthorn irá reagir.

– Calma lá, mocinha. Lembre-se de que você só veio junto para observar. Ou seja, eu faço as perguntas – advertiu ele.

– Não se preocupe. Eu não precisarei fazer nenhuma pergunta para analisá-lo.

– Assim espero.

– Ok, chefe – disse ela, com sarcasmo.

Jerry apenas sorriu. E logo a seguir, dirigiu-se a ela novamente: – Já que chegamos ao assunto sobre chefia, você tem notado alguma coisa diferente no diretor? Ele não parece o mesmo nas últimas vinte e quatro horas.

– Por que você acha isso?

Quando Jerry se preparou para responder, a secretária de Howthorn os interrompeu: – Sr. Thompson e Srta, Smith, o Sr. Howthorn vai recebê-los agora. Queiram me acompanhar, por favor – prosseguiu a secretária, levantando-se de sua cadeira.

Enquanto seguiam a mulher por um corredor de aproximadamente quinze metros, que acabava justamente à porta do presidente da Pharmacom 2000, Jerry não pôde deixar de notar a qualidade artística dos quadros que preenchiam alguns espaços na parede em ambos os lados do corredor.

– Não devem ser nada baratos – sussurrou ele a colega.

– Acho que seis meses de meu salário não compram nem a moldura de um deles – devolveu ela, também sussurrando.

Jerry não resistiu e acabou sorrindo ao ouvir aquilo.

– Pronto, senhores – disse a secretária, parando em frente a uma porta, cujo letreiro tridimensional em cristal, num tom levemente azulado, indicava ser a sala do presidente.

A secretária bateu levemente na porta e a abriu. – Com licença, Sr. Howthorn.

Howard Howthorn, que estava sentado de costas para a porta segurando um jornal com ambas as mãos, virou-se de imediato para sua secretária. – Mande-os entrar, Rebecca.

Ela prontamente obedeceu, sinalizando a ambos que adentrassem na sala. Jerry respirou fundo e foi o primeiro a entrar, sendo logo seguido por Sharon. Antes mesmo, no entanto, que eles falassem alguma coisa, Howard tomou à frente.

– Sr. Thompson e Srta Smith, perdoem-me pela demora, mas estava lendo a edição de hoje do Los Angeles Times. E curiosamente achei uma notícia a qual não podia deixar de ler – disse ele, sorrindo de forma sarcástica. – Mas a que devo a honra da dupla visita?

Ao colocar os olhos no jornal que o empresário fez questão de deixar à vista, Jerry cerrou os punhos. Sharon imediatamente compreendeu a intenção de Howard. O dono da Pharmacom estava disposto a provocar.

– Acredito que você saiba o que nos trouxe aqui – respondeu Jerry, surpreendendo Sharon pela aparente tranquilidade com que pronunciara aquelas palavras.

– Sinto desapontá-lo, Sr. Thompson, mas não faço ideia – mentiu Howard.

– Ora, Sr. Howthorn, não subestime minha inteligência. Ambos sabemos que a notícia a qual se referiu instantes atrás é a razão de estarmos aqui.

– Você está falando da morte do jornalista veado? – ele sorriu novamente.

Sharon aproveitou que o empresário estava concentrado em Jerry para começar a analisá-lo. Ela observava os gestos do homem, bem como sua expressão facial e a entonação de sua voz a cada palavra proferida.

– Na verdade, estou falando do repórter que desmascarou o filho traficante de um grande empresário da indústria farmacêutica – devolveu Jerry. – Certamente, bem informado como o senhor é, deve ter lido a respeito. Não é mesmo?

O sorriso nos lábios de Howard sumiu tão rápido quanto tinha aparecido. – Sr. Thompson, sou um homem ocupado – disse ele, tentando disfarçar a irritação. – Portanto, queira dizer logo a que veio, pois tenho uma reunião importante daqui a pouco.

– Ok. Vamos logo ao que interessa – concordou Jerry. – O senhor tem alguma coisa a ver com a morte de Kevin Giuliani?

– Eu não acredito que vocês vieram aqui me acusar da morte dele – Howard fingia estar surpreso.

– Não estou acusando. Estou perguntando.

– Ora, agente, sua pergunta implica que há uma suspeita.

Jerry meneou a cabeça em sinal de concordância. – De fato, não posso negar que existem suspeitas de que o senhor tenha algo a ver com esse crime.

– Baseado em quê?

– Que tal isto aqui? – respondeu Jerry, puxando um envelope do bolso de sua jaqueta e jogando-o sobre a mesa.

Howard pegou o envelope e o abriu, dando uma olhada rápida nos papeis. – O que significa isso?

– São cópias de cartas contendo ameaças de morte a Kevin – ironizou.

– E que diabos eu tenho a ver com isso?

– É justamente esse o ponto, Sr. Howthorn. Queremos saber se o senhor tem alguma coisa a ver com isso?

– Se você está me perguntando se fui eu que escrevi essas cartas, Sr. Thompson, – Howard fez uma pausa dramática antes de prosseguir – a resposta é não. Eu não as escrevi.

– Tem certeza disso? – insistiu Jerry.

– É claro que eu tenho! – respondeu Howard, demonstrando certa rispidez. – Acha que eu não reconheceria minha própria letra?

– Já que está me garantindo que essa letra não é sua, certamente o senhor não se importaria em fazer um teste de grafia, não é mesmo?


Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora