Capítulo 13 - Funeral - Parte 7

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Quando viu a razão do espanto da colega, Jerry sentiu sua visão enegrecer. Era a página do jornal que continha a matéria sobre a morte de Kevin. Jerry tentou disfarçar seu abalo o máximo que pôde.
– Vocês o conheciam? – perguntou o senador.
– Sim – disse Sharon, ocultando que Kevin era irmão adotivo de Jerry. – Estamos trabalhando no caso.
– Estou curioso, senador – disse Jerry, recompondo-se. – Por que um jornalista em vez de um detetive?
– Essa resposta definitivamente soará irônica, Sr. Thompson – mentiu o senador. – Mas vamos a ela: ao mesmo tempo em que pretendia matar Hakim, eu pretendia fazer um bem à sociedade.
– Quer dizer que acreditava que matando Hakim estaria livrando a sociedade de um assassino? – questionou Jerry. – E onde um jornalista se encaixa nisso?
– Veja bem, Sr. Thompson, uma das perguntas que mais ecoou na minha cabeça, após a morte da minha filha, foi a de quantos pais Hakim já poderia ter feito passar pelo que Anne e eu passamos. Pior ainda, quantos mais poderiam passar por isso até que eu finalmente o pegasse. E sabe a que conclusão eu cheguei? – George não esperou que um deles respondesse. – Que eu tinha ao menos a obrigação de expô-lo à sociedade, enquanto não o pegasse. E foi por isso que escolhi um jornalista, e não um detetive.
Sem deixar de ouvir atentamente o que ele dizia, Sharon observava também o ambiente que compunha o escritório do senador. Nisso, um exemplar de A Arte da Guerra sobre a mesa dele lhe chamou a atenção. Foi nesse instante que comentou: – O senhor pretendia através de um jornalista informar à sociedade que um... – a palavra fugiu a Sharon naquele momento – que um...
– Multiplicador! – disparou George.
– Multiplicador? – indagou Sharon.
– É assim que eu me refiro àquele maldito, Srta Smith. Sim, eu pretendia alertar à sociedade que um indivíduo estava à solta por aí, infectando pessoas com o vírus HIV, multiplicando o já alto numero de infectados que temos hoje em dia.
– Deixe-me ver se entendi, senador – disse Sharon. – Ao contratar o jornalista, o senhor pretendia investigar os atos de Hakim para expô-lo à imprensa. E isso o tornaria alguém muito mais fácil de ser encontrado, não é mesmo?
– Isso mesmo, Srta Smith – concordou George. – E no fim das contas, minha decisão mostrou-se acertada, pois dias atrás o Sr. Giuliani me informou que eu estava certo sobre Hakim já ter infectado outras mulheres. Ele estava montando um dossiê com as provas e me disse que iria publicá-lo logo que terminasse.
– E o senhor teve acesso a esse dossiê?
– Infelizmente não. Kevin Giuliani foi morto antes que pudesse me mostrar.
– Então o senhor acredita que Hakim possa ser o responsável pela morte de Kevin Giuliani? – perguntou Jerry, tentando ser o mais formal possível.
– Eu não acredito, eu afirmo! – disparou George, sem titubear. – Ele mesmo disse isso quando invadiu a minha casa. Queria que aquela gravação tivesse áudio, assim vocês teriam uma prova concreta.
Quando Jerry se preparou para fazer uma nova pergunta, Sharon tocou em sua perna. Aquele era o código que ambos haviam combinado para encerrar a conversa, caso ela saísse do rumo proposto, ou um dos dois tivesse notado algo estranho no ar.
– Bem, senador, acho que isso é tudo – disse Jerry. – Assim que pegarmos Hakim, o senhor será o primeiro a saber – concluiu ele, levantando-se e oferecendo a mão a George.
Logo depois foi a vez de Sharon. – Obrigada pelas informações, senador – disse ela. – Elas serão muito úteis.
Alguns minutos depois, os dois estavam saindo da mansão quando Jerry finalmente perguntou: – O que houve lá, Sharon? Por que fez o sinal para encerrarmos?
– Há algo errado nessa história – afirmou ela. – Está sincronizada demais. E foi impressão minha ou ele falou como um estrategista o tempo todo?
– Você está dizendo isso por causa do livro de Sun Tzu? O cara era um militar. Era pago para ser um estrategista.
– Não sei. Eu o achei frio demais – argumentou ela. – Ele só se emocionou ao falar da filha e não pareceu mostrar pesar nenhum pela morte de Kevin.
– Só sei que precisamos pegar logo este Hakim Alomar.
– Já eu não estou convencida de que Hakim seja o assassino de Kevin – disse ela. – Mas tenho certeza de que, se chegarmos a ele, teremos respostas.
George esperou os dois saírem da mansão para abrir uma segunda gaveta de sua mesa. De dentro dela, ele pegou duas pastas e as abriu. Era um dossiê completo sobre Jerry e Sharon. A seguir, ele discou um número no telefone e após ser atendido disse: – Eles acabaram de sair daqui. Acha que podem ser um problema?
– Acredito que não. Sua estratégia vai direcioná-los ainda mais ao negro – disse a voz do outro lado da linha. – De qualquer modo, fique tranquilo, estarei atento.
– Conto com isso – disse George, desligando a seguir.
Ele mal largara o telefone sobre a mesa, este vibrou indicando uma chamada. Quando viu se tratar de um número confidencial, pensou que poderia ser Evan e lembrou-se de abrir seu e-mail, mas era Gibson querendo reportar sobre a noite passada.
– Eu quase o peguei, senhor – disse Gibson.
– O que deu errado então?
– Aquela vadia me acertou com um vaso e eles conseguiram escapar.
– Tudo bem, Gibson – disse ele, com bom humor. – Não se preocupe, pois Charlize continua nos dizendo onde eles estão. Mais cedo ou mais tarde, nós vamos pegá-lo.
– Certo, senhor – disse Gibson, antes de desligar.
Voltando sua atenção para a tela do computador, George observou cuidadosamente a foto que acabara de receber.
– Ótimo – sorriu ele. – Está na hora de mostrar a Evan onde o seu pai foi parar.
Depois, enquanto pensava em como tudo estava se desenrolando, ele olhou para seu exemplar de A Arte da Guerra e murmurou para si mesmo: – Decididamente, eu que deveria ter escrito esse livro – disse, soltando uma leve gargalhada.

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora