Ruas de Los Angeles –23h27min
Evan estava confuso. Minutos após deixar o aeroporto, algo até então despercebido lhe veio à mente. Ele não fazia ideia de como iria convencer o Dr. Brooks a colocá-lo dentro do necrotério. O local certamente contava com seguranças e com câmeras de monitoramento. Por isso, enquanto buscava um meio, procurou conversar com o legista, a fim de distraí-lo. – O senhor veio de que cidade canadense? – perguntou, fingindo interesse.
– Edmonton – respondeu secamente.
Apesar de perceber que o médico não demonstrava o menor interesse em conversar, Evan insistiu: – Já ouvi falar. Dizem que é uma bela cidade.
Apesar do esforço de Evan em parecer agradável, Jason Brooks não entendia a razão, mas não simpatizara com ele. Algo naquele homem o incomodava. No entanto, como teria de aturá-lo até chegar ao necrotério, o doutor tentou ser mais cordial: – Sim, é uma bela cidade e fica relativamente perto. Inclusive eu já deveria ter chegado se não tivesse ocorrido um atraso no voo.
– O atraso deve ser por conta do longo feriado – deduziu Evan.
– Não. Isso está ocorrendo em qualquer época do ano. Já virou um câncer e está corroendo nossos meios de transporte.
Evan preferiu manter-se calado, não queria transformar um assunto sem importância em um debate. Contudo, o recente silêncio foi interrompido por um sinal vindo de seu celular.
– Que barulho é esse? – indagou Jason.
Ainda calado, Evan puxou o celular do bolso e percebeu se tratar de uma nova mensagem. Ao ler, ele não conseguiu esconder um sorriso de satisfação. – Perfeito – pensou.
Assim que pôs os olhos no telefone de Evan, o Dr. Jason pareceu confuso. – Você não disse que seu telefone tinha ficado sem bateria?
Sem nada dizer, Evan freou bruscamente o carro. O erro que cometera ao religar o aparelho antes de entrar no carro, esquecendo-se de colocá-lo no modo silencioso, agora não tinha a menor importância. O fato era que o recebimento daquela mensagem o deixava livre para terminar a encenação.
– Mas que merda é essa que você fez? – perguntou Jason, visivelmente irritado.
Mantendo-se calado, Evan apenas virou-se, surpreendendo o médico. O legista agora tinha uma arma apontada contra si.
– O que é isso? – indagou, assustado.
– Relaxe, doutor. Dependendo de sua colaboração, nada de ruim vai lhe acontecer.
Jason olhou de relance para ambos os lados, dando-se conta que estava numa rua pouco movimentada naquele horário. Esperar receber ajuda de fora era ingênuo de sua parte; pois, embora houvesse algumas pessoas nas calçadas, as películas dos vidros impossibilitavam que alguém visse o que estava ocorrendo ali dentro. Apesar disso, ele ainda pensou em gritar, mas se conteve; pois, se o fizesse, poderia morrer ali mesmo.
– Quem é você? – questionou Jason, mantendo um tom arrogante, embora assustado. – E onde estamos? Você não estava me levando para o necrotério, não é mesmo?
Calmamente, Evan respondeu: – Quem eu sou não tem a mínima importância. Mas estou sim levando você para o necrotério.
– O que significa isso, então?
– Apenas uma mudança de planos – disse Evan, com um sorriso sarcástico.
– Do que você está falando? É dinheiro que você quer?
– Dinheiro? Não. Na verdade, eu preciso de sua ajuda – respondeu Evan.
– Minha ajuda? – indagou Jason, confuso. – Para que precisa de mim?
– Preciso entrar naquele necrotério, e o senhor vai me ajudar com isso.
– E se eu me negar, você vai me matar, não é mesmo? – perguntou Jason, temendo a resposta.
– Ora, doutor, não se preocupe. Tenho uma informação aqui que fará o senhor colaborar de bom grado – disse Evan, com um sorriso de escárnio nos lábios, enquanto mostrava o celular à sua vítima.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Mystery / ThrillerEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...