Capítulo 08 - Duplo Engano - Parte 3

9 3 0
                                    


Ele esperava chegar a tempo de ver as pessoas desembarcando e com um pouco de sorte encontrar o Dr. Jason Brooks entre elas. Contudo, quando lá chegou, havia só cinco pessoas no local. Um casal de meia idade e três jovens. Rapidamente, Evan puxou o celular do bolso e verificou mais uma vez a foto do médico. Não batia com o senhor que estava acompanhado da esposa. Cada vez mais pessimista, ele se aproximou de uma comissária de bordo que deixava o terminal e perguntou: – Por gentileza, sabe me dizer se este senhor estava nesse voo? – Evan mostrou a foto no celular.

– Lamento senhor, mas não sei lhe informar – disse a comissária, com o semblante visivelmente abatido pelo cansaço.

Evan não sabia o que fazer; pois, se o médico viera naquele voo provavelmente já estaria deixando o aeroporto, e tudo estaria perdido. Já desolado sentiu uma mão tocar-lhe o ombro, seguida de uma voz que dizia: – Não é aquele homem ali que o senhor procura?

Quando Evan se virou, deu de cara com a comissária de bordo apontando para um senhor que empurrava com a mão esquerda um carrinho de malas e carregava uma valise na mão direita. De estatura mediana, o homem aparentava ter uns sessenta anos de idade, tinha uma barriga acentuada e cabelos grisalhos, que penteara de forma a tentar esconder sua já pronunciada calvície. Trazia também um ar carrancudo, complementado por óculos, que talvez nem precisassem de hastes, devido à profundidade de suas olheiras.

Com redobrada atenção, Evan verificou a foto uma última vez e respondeu: – É ele mesmo. Obrigado.

Apressado, ele caminhou em direção ao médico e o chamou: – Dr. Brooks!

O legista olhou para Evan com desconfiança, e este logo se apresentou: – Meu nome é Marcus Tollins, e fui designado para levá-lo ao necrotério imediatamente.

– Não preciso de ninguém que me leve ao necrotério. Sei bem onde ele fica e irei pra lá, depois de passar em casa e trocar a roupa da viagem – respondeu o médico, demonstrando contrariedade.

Evan não gostou da reação do doutor, mas procurou manter-se calmo ao retrucar: – Lamento, senhor; porém, devido à gravidade do caso, devo levá-lo logo ao necrotério.

– Gravidade do caso? Quem é o presunto? – indagou Jason, fazendo pouco caso.

– Sinto muito, senhor. Não estou autorizado a dizer de quem se trata.

– Tudo bem. Vamos logo então – conformou-se Jason – dirigindo-se a passos largos para o estacionamento. Segundos depois, ele voltou-se para Evan que ficara para trás: – Não esqueça minhas malas – ironizou, apontando o carrinho da bagagem.

Além de arrogante, é folgado! – pensou Evan, enquanto o seguia apreensivo; pois, embora houvesse passado pelo obstáculo de encontrar o Dr. Jason Brooks, faltava saber onde seu chefe deixara o carro que usaria. À medida que se aproximava do estacionamento, sua tensão crescia; pois, até então, George não ligara para informar a localização do veículo. Cansado de esperar, Evan resolveu ligar para o chefe. Mas, ao puxar o celular do bolso, o aparelho tocou. Reconhecendo o número, ele atendeu rápido: – Agente Marcus Tollins falando.

Do outro lado da linha, George reconheceu a voz de Evan e soube pela encenação que este já estava na companhia do Dr. Brooks. Por isso, foi sucinto ao dizer: – O carro está no primeiro piso do QuikPark. É um Taurus preto, e as chaves já estão na ignição.

– Certo, senhor – Evan desligou a seguir.

– Era Preston? – perguntou Jason.

– Ele mesmo – mentiu Evan. – Queria saber se já estamos a caminho.

– Por que essa impaciência toda?

– Como eu disse, o caso é grave, senhor.

– Vou ligar para ele agora mesmo. Com esse alarde todo, o presunto só pode ser o presidente ou o papa.

Nesse momento, Evan gelou. Ele estava aliviado pelo médico não ter pedido para ver suas credenciais; no entanto, se o outro fizesse aquela ligação, sua mentira viria à tona.

– Droga. Estou sem bateria – resmungou Jason. – Você pode me emprestar seu telefone?

Por um momento, Evan ficou sem reação alguma.

– Ei, garoto, acorde! Você pode ou não me emprestar seu telefone? – disse o médico, já impaciente.

Sem saída, Evan puxou o celular do bolso, pensando num modo de se safar. Uma ideia luziu e, antes de alcançar o telefone ao médico, ele discretamente desligou o aparelho e disse: – Lamento, senhor. Mas acabo de ficar sem bateria também.

– Então vamos de uma vez. Quero descobrir logo quem é o presunto misterioso.

Aliviado, Evan se concentrou em procurar o carro. Assim que o encontrou, aproveitou-se de uma distração do legista para pegar as chaves e rapidamente abrir o porta-malas, onde jogou a bagagem do homem. Depois, dirigiu-se a ele: – Pronto, Dr. Brooks. Agora podemos ir.

– Assim que você entrar no carro e der partida, não é mesmo? – falou Jason, sentando-se no banco do carona. Evan ignorou esse comentário, entrou no carro e preparou-se para arrancar, quando Jason o impediu, dizendo: – Não está esquecendo nada?

– O quê? – perguntou Evan.

­– O cinto, garoto! – disse Jason, apontando para o equipamento que ele próprio já colocara. – Muitas mortes ocorrem justamente pela falta do cinto de segurança.

Num movimento brusco, Evan puxou o cinto contra si, prendendo-o de imediato. E movido de impaciência, acelerou o carro em direção à saída do estacionamento.

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora