Ricks acatou a ordem, deixando de forma atabalhoada a sala, enquanto Jason puxava o zíper, abrindo o restante do saco. Ao olhar a marca do tiro que Kevin levara na cabeça, de imediato o legista se lembrou da situação desesperadora em que se encontrava. – Preciso ligar para a polícia! – balbuciou e até chegou a tirar o aparelho sem fio da base; porém, tão logo pensou nas consequências que aquele telefonema poderia causar, recolocou o telefone no lugar. – Não posso arriscar a vida de minha filha e de minha neta – pensou.
Apesar de desconhecer as razões daquele crime, as palavras de Robert sobre a importância do caso, somadas à atitude do falso agente, que tomara tanto ele quanto sua família como refém, levaram o médico a uma conclusão. O homem que se apresentara como agente Tollins só podia ser o assassino. Buscando encontrar um meio de detê-lo, ele olhou para o relógio e voltou para junto do corpo de Kevin, falando para si mesmo: – Tenho pouco tempo. Terei de ser rápido!
00h33min
A última coisa que Hakim esperava ao sair do quarto de Jessica era ficar cara a cara com o homem que mais desejava vê-lo morto. Ainda emocionado pelas lembranças boas e tortuosas que aquele lugar lhe trazia, ele pôde sentir em toda sua essência o olhar carregado de ódio de George Banks. Os dois se encararam uns trinta segundos. Mas foi um breve momento que pareceu interminável.
– Eu vou matar você, seu filho da puta! – bradou George, quebrando o silêncio.
– Não, se eu matar você primeiro – revidou Hakim.
– Como ousa entrar nesse quarto depois do que você fez à minha filha? – George nem sequer piscava. – Seu monstro maldito!
– Você sabe que eu não fiz isso! – retrucou Hakim
– O que eu sei é que você a matou! E hoje você vai pagar, seu assassino!
Hakim não conseguiu reagir àquela acusação. Ficou ali, calado, apenas observando seu acusador. A culpa que ele sentia o impedia de contestar.
– Você arruinou nossas vidas! – continuou George.
– Eu nunca quis fazer isso. Eu não sabia que...
De repente, a porta do quarto do casal se abriu, interrompendo Hakim. – Mas que gritaria é essa aqui... – era Anne, saindo do quarto. – Hakim? – espantou-se ela ao vê-lo.
– Sra. Banks... – emocionou-se o rapaz.
Anne ameaçou caminhar na direção de Hakim, mas George a impediu, segurando-a pelo braço. – Não se aproxime desse assassino, querida!
Como havia sido pego de surpresa, George não portava nenhuma arma em suas mãos. Ao notar isso, Hakim concluiu que aquele era o melhor momento para agir. Ele chegou a levar a mão à cintura para sacar a pistola que trazia consigo, mas a presença de Anne ali era um fator de risco muito elevado. Bastaria um pequeno erro de cálculo, e o disparo acabaria por atingi-la. Diante disso, Hakim optou por fugir, correndo em direção à escada.
– Volte aqui, seu desgraçado!
No entanto, ao invés de interceptar Hakim, George correu na direção contrária, buscando o escritório e mais precisamente a mesa onde guardava sua arma. Ao voltar ao corredor, desta vez armado, ele encontrou apenas sua esposa. Hakim já descera a escada.
– Onde ele está? – perguntou, passando por ela.
Ao vê-lo com a arma, Anne, assustada, interpelou: – O que você vai fazer?
– Vou matar aquele verme! – respondeu ele, chegando até a escada.
– Pare com isso, George. Você não pode...
George começou a descer a escada, deixando Anne falando sozinha. Nada era mais importante para ele naquele momento do que matar Hakim. Este, por sua vez, caminhava agachado no breu da sala da mansão, mantendo o olhar fixo no minúsculo feixe de luz que brotava por baixo da porta, a fim de guiar-se por ele para alcançar a saída e fugir dali. Andando como se pisasse em ovos, ele avançou devagar, mas uma voz acompanhada de um clarão o fez parar. – Vire-se para mim! – gritou George.
Imóvel no centro da sala e de costas para o general, Hakim olhou para a arma em sua mão direita. Ele já decidira tentar abater seu inimigo; porém, na posição em que se encontrava, sem vê-lo, seria o mesmo que atirar no escuro. Como estava em desvantagem, pois George provavelmente o tinha em sua mira, Hakim decidiu ganhar tempo, pensando no quanto teria de ser rápido. E levando o dedo ao gatilho, ele fechou os olhos e gritou: – Vai atirar pelas costas, general?
– Não – respondeu George. – Vou esperar você se virar, pois quero olhar na sua cara quando puxar o gatilho.
Hakim voltou a abrir os olhos. – Perfeito – pensou. O que veio a seguir foram dois disparos ensurdecedores. Hakim, que se guiara pela voz de seu inimigo para se virar abruptamente e atirar, acabou atingindo George no antebraço. O general urrou como um animal ferido, deixando a arma cair no chão. Mas, antes de ser atingido, movido por puro reflexo, atirou também ao ver Hakim se virar. O disparo efetuado por ele atingiu seu desafeto no braço esquerdo.
– Filho da puta! – berrou George.
Ao perceber o outro desarmado, Hakim enfrentou a dor no próprio braço e reergueu sua arma, apontando-a para o peito de George e dizendo: – Você precisa parar com essas mortes, general!
– Nunca! – rebateu George.
– Com essas mortes desnecessárias – disse ele,
– Por que está fazendo isso? – perguntou Hakim, sentindo sua mão trêmula e um filete de sangue escorrendo por seu braço. – São inocentes que nada têm a ver com a história!
– Inocentes? – George sorriu com deboche enquanto segurava o antebraço ferido. – Eles são iguais a você! – gritou. – E uma hora ou outra vão acabar ferrando alguém. Por isso, merecem morrer!
– Isso é loucura, general. Jessica jamais aprovaria uma coisa dessas!
George ameaçou avançar na direção de Hakim. – Feche essa boca imunda! – berrou ele. – Nunca mais pronuncie o nome da mulher que você matou.
Entretanto, Hakim firmou a arma na mão, impedindo o avanço de George e ordenou: – Fique parado!
Aquele movimento fez pingar sobre o tapete da sala algumas gotas de sangue, que escorriam pelo braço de Hakim. Isso pareceu hipnotizar George, que olhava para a mancha rubra com um olhar insano. Hakim soube então que o general nunca iria parar. Mas resolveu tentar dissuadi-lo pela última vez: – Pare com isso, general. Eu não quero machucá-lo.
– Eu não vou parar até aniquilar todos vocês! – disse ele, com os olhos transbordando de ódio. – E quanto a me machucar, você já o fez quando matou minha filha.
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Sagrada Maldade - Caçada aos Multiplicadores
Mystery / ThrillerEm 1975, num pobre vilarejo da Etiópia, dois misteriosos homens recrutam um jovem para uma enigmática e ambiciosa experiência. Porém, algo sai errado, e o resultado desse experimento é o maior vírus da história da humanidade. Quase quarenta anos dep...