Capítulo 06 - O Primeiro Suspeito - Parte 5

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14h01min

Bryan mal conseguia controlar sua ansiedade. A angústia daquele momento era-lhe quase insuportável. Sentindo que vingar a morte do irmão era uma questão de tempo, um tempo muito curto, ele se aproximou lentamente daquele que supunha ser o assassino de Kevin. A menos de um metro do homem, que àquela altura, mexia nuns papéis sobre a mesa de centro, Bryan aprontou-se para atirar, mas um detalhe o deteve. Ele queria ver o rosto do homem. Precisava olhar nos olhos dele antes de efetuar o disparo. Deu então um passo à esquerda a fim de ver o perfil do invasor; porém, como o capuz teimava em esconder o rosto do suspeito, Bryan decidiu chamar-lhe a atenção: – Psiu!

Com o susto, o homem sacou sua arma e num movimento veloz se virou apontando-a para Bryan. Este, num misto de susto e surpresa, ao ver de quem se tratava, cambaleou para trás, dando graças a Deus pelo bom reflexo que ambos possuíam. Isso foi determinante para evitarem o disparo de suas armas. Aquele que Bryan achava ser o algoz de seu irmão era na verdade Jerry.

– Você quase atirou em mim, Jerry! – reclamou Bryan, antes de esbarrar numa estante, derrubando dela um vaso que se quebrou ao tocar o chão.

– E você em mim! – devolveu o outro. – Mas que diabos você está fazendo aqui? – indagou em tom autoritário.

Devolvendo a arma ao coldre, Bryan replicou: – O que acha que estou fazendo?

– Espero que não esteja investigando, afinal você está fora do caso.

– É claro que eu estou investigando! – admitiu Bryan. – Você por acaso achou que eu iria ficar em casa de braços cruzados?

– Você tem de sair daqui agora. Vince está subindo – disse Jerry, em tom ríspido, tomando Bryan pelo braço. ­ – Se ele o vir aqui, você pode se complicar.

– Eu não vou a lugar algum! – retrucou Bryan, desvencilhando-se de Jerry. – Aqui pode haver alguma pista que me leve ao assassino do meu irmão!

– Não acredito nisso! – esbravejou Jerry. – O que você está planejando? Por acaso pretende fazer justiça com as próprias mãos?

O silêncio de Bryan provocou um calafrio em Jerry, levando-o a exclamar: – Oh meu Deus! Você ia atirar em mim pensando que eu era o assassino!

Bryan deu as costas a Jerry e contrapôs, tentando ser convincente: – Atirar em você? Ora, não seja ridículo!

Embora a resposta de Bryan não o tivesse convencido, Jerry tinha uma preocupação maior naquele momento e correu até a janela, tentando averiguar se Vincent ainda estava lá embaixo. Quando o viu do outro lado da rua, tranquilizou-se e disse: – Vincent ainda não subiu. Agora me diga há quanto tempo você está aqui?

Bryan voltou a olhar para Jerry, antes de responder: – Sei lá, Jerry. Talvez uns vinte minutos. Por que quer saber isso?

– Apenas para ter uma ideia do quanto você pode ter adulterado o lugar.

– Em relação a isso, não se preocupe. Eu não toquei em nada.

– Tocou sim! Olhe para seus pés! – acusou Jerry, apontando o vaso quebrado.

– Calma, é só um vaso – defendeu-se Bryan.

– Só um vaso? Mas se houvesse alguma impressão digital nele?

Bryan não respondeu. Seu olhar estava fixo nos cacos espalhados pelo chão.

– Bryan! – Jerry chamou a atenção dele. – Ei, planeta Terra chamando Bryan!

Ainda calado, Bryan se agachou e pegou algo sob a estante. – Digitais eu não sei – enfim respondeu. – Mas tinha isso – disse, mostrando o gravador que acabara de apanhar.

– Por que Kevin esconderia um gravador dentro de um vaso?

– Não faço a menor ideia – respondeu Bryan. – Mas há um jeito de descobrir!

– Como assim? Não me diga que você pretende ouvir o que tem grava...

Antes que Jerry concluísse a frase, Bryan apertou o botão do gravador. Instantaneamente, a voz de Kevin ecoou pelo apartamento:

24 de novembro. São 22h15min e faltam menos de duas horas para o encontro. Confesso que estou com medo, afinal não sei nada sobre esse cara. Só o vi duas vezes e nem um nome eu tenho. Tudo que sei é que esse negro de olhar assustado diz ter uma história que pode abalar o país. Mas e se ele for alguém que trabalha para Howthorn? Esta semana recebi mais uma carta e me pergunto se o dono da Pharmacom 2000 resolveu cumprir as ameaças? A prudência me diz para não ir, mas meu instinto de jornalista me diz que devo estar lá. Preciso de respostas! E talvez seja isso que me fará ir até o velho armazém...

Bryan novamente apertou o botão, parando o gravador.

– O que significa isso? – questionou Jerry.

– Um começo – disse Bryan. – Esta fita foi gravada horas antes do crime. E pelo que parece, nós já temos um suspei...

Bryan travou a fala no momento em que uma lembrança veio à sua mente. De repente, ele jogou o gravador sobre o sofá e saiu correndo em direção à porta.

– Bryan, espere! – gritou Jerry, vendo Bryan ganhar o corredor.

Como Bryan não lhe deu ouvidos, Jerry pegou o gravador e saiu atrás do irmão, chamando-o mais uma vez: – Bryan, espere! O que está havendo?

Sem parar de correr, Bryan gritou enquanto descia as escadas: – Ele esteve aqui, Jerry! O filho da mãe esteve aqui!

Jerry ainda tentou alcançá-lo; porém, quando passava pelo elevador, a porta deste se abriu, e dele surgiu Vincent. – Ei, Jerry! – ele gritou. – Aonde você vai?

Disfarçando, Jerry escondeu o gravador no bolso antes de responder: – Ia atrás de você – mentiu. – Por que demorou tanto?

– Elevador demorado. Mas chega de perder tempo e vamos ao que interessa – disse Vincent, enquanto se dirigia ao apartamento de Kevin.

Bryan passou tão rápido pelo saguão de entrada que o porteiro, que naquele momento atendia um visitante, nem sequer percebeu. Ao chegar à porta, ele olhou em todas as direções, ansiando avistar o suspeito, embora soubesse que eram remotas as chances de o homem ainda estar por perto. – Pra onde você foi, seu maldito? – murmurou para si mesmo.

A sensação de ter deixado aquele que poderia ser o algoz de seu irmão escapar era terrível. Frustrante tal como se o assassino tivesse escorrido por suas mãos feito água. Porém, antes que Bryan continuasse a se lamentar, o telefone dele tocou.

– Não é uma boa hora para falar, Jerry – disse ele, atendendo à ligação.

– O que aconteceu? Por que saiu correndo daquele jeito?

– O cara esteve no prédio! – disse Bryan, afobado. – O filho da mãe que Kevin cita na fita passou por mim no corredor!

– Tem certeza?

– Mas é claro que tenho certeza! O cara estava assustado e olhou para mim como se estivesse vendo um fantasma!

– Droga! – exclamou Jerry.

– Por que está praguejando? Afinal, agora temos um suspeito.

– Raciocine, Bryan. A única pessoa que pode fazer um retrato falado do suspeito é você. E de todos os agentes o único que não devia estar investigando também é você! – ironizou Jerry.

– Entregue o gravador ao diretor para que use a gravação como ponto de partida – sugeriu Bryan.

– Eu adoraria fazer isso, Bryan. Mas infelizmente não posso.

– Por quê? – questionou Bryan, intrigado.

– Porque eu o escondi no meu bolso! – respondeu Jerry. – Eu tive de fazer isso. Afinal, você tocou nele sem luvas – justificou-se. ­– Ele está com suas impressões digitais.



Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora