Capítulo 11 - O Herdeiro - Parte 7

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Mesmo desconhecendo as razões pela qual fora designada para aquela missão, ainda assim ela achou exagerada a euforia do homem do outro lado da linha. De uma coisa, porém, ela sabia: ele havia comemorado cedo demais. – Sinto muito, senhor. Mas creio que isso ainda não terminou – disse por fim.

– Como assim? Você acaba de me dizer que esse traste está morto.

– E realmente está morto, senhor.

– Então se explique! – disse ele, com um tom impaciente.

– Vou fazer algo melhor. Aguarde um momento – falou, e a seguir usou o celular para fotografar a laje à sua frente.

Sem saber o que ela estava fazendo, ele aproveitou para servir-se de um pouco mais de vinho. Segundos depois, ela voltou a falar: – Verifique seu e-mail, senhor.

Apressado, ele girou a cadeira, ficando de frente para o computador sobre a mesa. Abriu o e-mail e percebeu que acabara de receber uma mensagem dela. – O que é isso?

– Veja o anexo – ela sugeriu.

Seguindo a orientação da mulher, ele clicou no anexo, fazendo surgir na tela a fotografia de uma lápide.

– Não pode ser! – exclamou ele, apertando a taça de vinho com tanta força que essa se quebrou ferindo sua mão. – Merda!

Desapontado, ele não queria acreditar no que seus olhos estavam vendo.


           Nascimento: 27/11/1956 

          Falecimento: 20/03/2000

               Amado Esposo e Pai



Sem saber se estava mais indignado pelo ferimento que sofrera ou pela revelação que aquela foto trazia, ele levantou-se e saiu à procura de um pano para estancar o sangramento, enquanto seguia falando com a mulher: – Você precisa encontrá-lo! – ordenou ele, enquanto enrolava uma toalha na mão machucada.

– Devo matá-lo? – ela indagou.

– Não! – bradou ele. – É vital que você o traga até nós!

– E quanto ao outro trabalho? Devo seguir o planejado?

O homem cofiou a barba grisalha antes de responder: – Sim, mas a prioridade é encontrar o filho desse cadáver maldito. Só assim daremos essa história por encerrada.

Apesar de não conhecer a história a qual ele se referia, ela havia recebido ordens expressas de seu mentor para obedecer àquele homem sem fazer questionamentos, e secamente respondeu: – Ok, senhor!

– Tem mais uma coisa – disse ele. – Preciso que você abra esse túmulo.

– Abrir o túmulo? – questionou ela, confusa.

– Sim. Preciso de uma amostra de DNA para confirmar que de fato ele está morto.

– Está bem – ela concordou. – Mas não poderei fazer isso agora. Já está amanhecendo e daqui a pouco haverá gente circulando por aqui.

– Não importa o dia em que você fará isso. Apenas faça! – ordenou ele.

Ela ajeitou de novo o fone antes de responder: – Assim que possível enviarei a amostra – disse, disfarçando a irritação. No seu íntimo, porém, seu pensamento era: – Velho maldito. Ainda acabo com você!

– Mantenha-me informado dos progressos – exigiu ele, desligando logo a seguir.

Percebendo que a escuridão da noite já dava seus últimos suspiros, e em poucos minutos o astro rei surgiria no horizonte, ela se virou para o corpo do vigia. – Hora de tirar você daqui.

Segurando o vigia pelo colarinho, ela começou a arrastar o corpo dele pela grama. De repente, ouviu um gemido e murmurou: – Não acorde agora. Não quero ter de matar você.

Alguns minutos depois, após largar o corpo dele atrás de uma árvore, ela abandonou o local. Longe dali, sentado diante do computador, com os olhos fixos na foto que recebera por e-mail, o homem parecia chateado consigo mesmo. Durante anos e anos, ele havia concentrado suas buscas no continente africano, pois não pensara na possibilidade de aquele fugitivo ter cruzado o oceano. Agora, porém, quando finalmente o encontrou, o alívio por sua morte era quebrado pela revelação de que ele tivera um filho.

– Verme maldito! Você tinha de procriar?

Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora