Capítulo 09 - Alta Tensão - Parte 7

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Naquele momento, a expressão de Evan, que era quase de carranca, transformou-se num sorriso maldoso enquanto seus olhos brilharam de euforia. Percebendo aquilo, George instigou seu subordinado: – Acha que agora pode fazer o serviço?

– Será um prazer – confirmou Evan, cerrando os punhos. – Mas tenho uma pergunta. Por que não eliminou esse repórter tão logo soube de seu encontro com Hakim?

– Porque provavelmente eles irão se encontrar de novo – explicou George. – E se isso ocorrer, você terá a oportunidade de acabar com os dois de uma só vez.

– E como o senhor quer que eu proceda?

– Tudo que você precisa saber sobre o jornalista está nesse envelope que eu lhe dei. Siga o repórter, pois certamente ele irá ao encontro de Hakim, e não o contrário.

– Pode deixar. Farei de tudo para lhe trazer a cabeça desses miseráveis.

Satisfeito com a resposta de Evan, George falou: – Se conseguir trazer Hakim ainda vivo, eu lhe serei eternamente grato.

– Isso eu não posso lhe garantir, senhor. Mas prometo que irei tentar.

De repente, um gemido do Dr. Jason tirou Evan de suas lembranças, e ele se pegou ainda observando o cadáver de Kevin Giuliani. Notou também que o desconforto perante o homem que matou ainda não passara, mas vendo-se sem tempo para investigar essa sensação, pois precisava ser rápido para não correr o risco de ser apanhado, Evan procurou à sua volta por algo que pudesse utilizar no que estava prestes a fazer. Segundos depois, seus olhos pousaram numa mesa cheia de instrumentos cirúrgicos. Havia ali tesouras, bisturis, agulhas de sutura, um talhador de costelas, um cinzel de crânio e um martelo cirúrgico, entre outros. Mas foi ao ver uma serra elétrica, do tipo que os legistas usam para cortar o tampão do crânio e retirar o cérebro, que sua dúvida em relação ao que usaria se dissipou.

Com cuidado, ele pegou a serra e voltou à mesa onde estava o corpo de Kevin. A seguir, pegou o pulso direito do cadáver e preparou-se para ligar a serra e decepar a mão que havia arranhado seu rosto. Foi nesse momento que um novo calafrio percorreu sua espinha e ele quase deixou o instrumento cair. – Que merda é essa que estou sentindo? – espantou-se.

Confuso, Evan largou a serra e procurou afastar-se do corpo. Achava que a distância o livraria daquela sensação. Estava errado; pois, mesmo afastado, ele não conseguia encarar o corpo sem vida de Kevin. De repente, um novo gemido do Dr. Jason chamou sua atenção, levando-o a pensar: – Já sei quem vai fazer isso!

Evan foi então até onde o Dr. Jason estava caído e, segurando-o pelo colarinho, arrastou-o até deixá-lo ao lado da mesa onde o cadáver de Kevin estava. – Acorde logo, doutor – chamou Evan, segurando o médico pela nuca e dando-lhe tapas no rosto. – Você tem um trabalho a fazer.

O Dr. Jason voltou a gemer e mansamente abriu os olhos. Como estava desorientado, demorou a perceber que suas mãos estavam presas e que havia uma mordaça em sua boca. Diante dele, Evan debochava: – Pretendia dormir a noite toda?

Apavorado, o legista apenas soltou uns grunhidos incompreensíveis, que Evan não fez questão de entender. – Pare de choramingar! – disse ele, colocando Jason com as costas apoiadas num balcão ao lado da mesa. – Como já lhe disse, o senhor tem trabalho a fazer.

Jason tentava evitar olhar Evan nos olhos, mas ele segurou o queixo do legista com uma das mãos, fazendo-o fixar o olhar. – Preste atenção, seu velho de merda! – advertiu o assassino. – Eu estou com dificuldade em fazer um determinado procedimento. Por isso, você é quem irá fazer pra mim.

A princípio, Jason não entendeu o que Evan quis dizer com aquilo, mas sua dúvida logo foi sanada, quando Evan disse: – Preciso que o senhor decepe a mão do falecido.

Jason abismou-se com o que acabara de ouvir. Em seus olhos, Evan notou o pavor sendo substituído pela repulsa. O legista, que já realizara inúmeras autópsias ao longo de seus mais de trinta anos de carreira, sempre tentando ajudar a encontrar os criminosos, considerava um insulto adulterar um cadáver para proteger a identidade do assassino. E assim, entre grunhidos de protesto e gestos negativos com a cabeça, ele deixou claro que não faria aquilo.

– Péssima escolha, doutor – disse Evan, enquanto se levantava e pegava a serra stryker, evitando olhar para o cadáver de Kevin. Jason acompanhou Evan com os olhos. E quando o viu com a serra na mão, pensou que ele mesmo iria fazer o procedimento. Mas o médico estava errado, como logo saberia.

– Deixe-me ver como se liga isso – falou Evan, enquanto mexia no equipamento. – Ah, aqui está o botão – disse, com um sorriso mau. Em seguida, o som estridente da serra ligada irrompeu na sala. Por isso, Evan nem chegou a ouvir os grunhidos de pavor do legista quando aproximou o equipamento da perna do médico. – Aguente firme, doutor, pois acho que isso vai doer – ironizou ele, um pouco antes de a serra rasgar o tecido da calça e chegar à coxa de Jason.

Naquele instante, Jason teve a sensação de estar sendo atacado por um tubarão. Era como se aquela serra fosse os dentes da fera a rasgar sua pele. Aquilo durou três breves segundos, mas a dor e a agonia que ele estava sentindo pareciam intermináveis. Quando Evan finalmente afastou a serra, Jason pôde ver seu próprio sangue escorrendo pela lâmina.

– Adorei essa serra! – disse Evan em tom de euforia, enquanto desligava o equipamento e o largava no chão. A seguir, colocando o dedo indicador na testa do legista, Evan o advertiu: – Preste atenção, seu velho inútil: ou você me ajuda, ou vou cortar cada pedacinho de seu corpo com essa serra.

Imerso na dor que sentia, Jason não ouviu uma única palavra do que Evan acabara de falar. Para seu algoz, isso pareceu uma atitude de desdém que o deixou muito irritado, levando-o a puxar o celular do bolso e dizer: – Se você não teme por sua vida, talvez as vidas de sua filha e de sua neta o façam colaborar.

A simples menção de sua família foi o suficiente para Jason ignorar a dor e voltar a prestar atenção em Evan, que continuava instigando-o: – E aí, doutor, como vai ser? Vai me ajudar, ou devo ligar para meu parceiro e mandar matar sua família?

Pela primeira vez na vida, Jason teve vontade de matar alguém. Entretanto, estava sem saída. Por isso, apenas sacudiu a cabeça em sinal positivo, concordando assim em ajudar aquele homem cuja frieza o espantava.

– Vamos deixar uma coisa bem clara aqui – disse Evan, colocando o legista de pé. – Ah, mas antes espere um segundo, enquanto faço uma ligação.

Jason sentiu o sangue gelar nas veias ao imaginar para quem o assassino ligaria. E quando Evan confirmou sua suspeita, o legista já não sabia qual destas sensações era a pior: dor ou angústia.

– Está tudo caminhando como planejado – disse Evan, com o telefone colado ao ouvido. – Por enquanto não precisa matar a família dele. O bom doutor está colaborando... Agora eu vou soltá-lo para que ele possa concluir o trabalho. Mas fique na linha, e caso ele grite por socorro, mate as duas... Ah, e pode começar pela neta.

Jason ficou desesperado ao ouvir aquilo. Os olhos arregalados traduziam para Evan o que ele tentava em vão falar, sendo impedido pela mordaça.

– Fique tranquilo, doutor – Evan puxou uma faca da cintura. – Como eu lhe disse, nada irá acontecer a elas se o senhor se comportar – completou ele, usando a seguir a faca para cortar a mordaça.





Sagrada Maldade - Caçada aos MultiplicadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora