Quando ia Me Contar?

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Soluço sabia que esse dia chegaria, onde seu pai começaria com aulas e todos os preparamentos para ele. Mas mesmo sabendo, ele teve esperanças de que nunca aconteceria de verdade. E agora, com a certeza de Bocão que ele já está planejando tudo, confirmou que ele ainda não está preparado para isso. Chefe? Ele? Não! Ele se apavorava só com a ideia. Sentiu suas pernas tremerem.

- Soluço? - chamou Astrid. Ele ficara parado como uma estátua, completamente chocado com o comunicado. - Soluço, fala alguma coisa!

Ele ainda encarava Bocão, que claramente se arrependera de tudo o que falara.

- Não. - disse Soluço finalmente, depois de vários minutos. - Não vou fazer aula nenhuma... Eu ainda sou muito novo pra pensar nessas coisas!

- Soluço, você sabe que logo logo vai fazer vinte anos. É a mesma idade quando seu pai tornou-se....

- Não, não vou! - interrompeu Soluço. Não ia aguentar ouvir a palavra "chefe" ou "líder" novamente. - Vocês não entendem! Eu não.... não estou....

  - Pronto? - completou Melequento, depois soltou uma risada de deboche, calando ao receber um soco de Astrid.

Soluço não suportava mais ficar ali, precisava sair o quanto antes.

- Não vou, Bocão! - avisou ele ao dar um passo atrás. - Ele não pode me obrigar! - e correu.

- Soluço, volta aqui! - gritou Bocão desesperado ao ver Soluço montando em Banguela e alçar voo. - Ai Thor, Stoico vai ficar uma fera comigo! Tenho que ir atrás dele!

- Não se preocupe, Bocão. - falou Astrid já montando em Tempestade. - Eu vou conversar com ele, acho que sei pra onde ele tá indo.

- Obrigado, Astrid.

Assim que Astrid também se adentrou nas nuvens, Bocão correu para o Salão, pronto para receber a bronca do atual chefe e seu machado.

Astrid voou um bom tempo, olhando cada rocha e montanha. Rapidamente achou Soluço, no mesmo lugar que sempre ia quando precisava pensar. Ela pousou com Tempestade e desceu.

- Não precisava vir aqui, Astrid. - disse Soluço de costas, que sentiu sua presença de longe.

- Claro que tinha que vir. - disse ela ao se aproximar. - Eu não ia te deixar sozinho nesse estado.

Ela sentou ao seu lado e viu seu rosto. Nunca o viu tão triste, apoiando a cabeça  nos próprios joelhos.

- Ei... - chamou ela gentilmente, acariciando seus cabelos ruivos. - O que foi aquilo, hein? Nunca te vi tão perturbado.

- Eu... eu... - ele queria chorar, muito. Mas não teve coragem de fazer isso na frente dela. Então apenas desabafou. - Não estou pronto para isso. Ser chefe? Ficar com as coisas da vila? Isso não tem nada haver comigo. Não sou eu!

- E quem é você? - perguntou ela, ainda acariciando a cabeça dele. - Quem é você, Soluço?

- Eu... não sei.

Ficou novamente em silêncio, afundando mais o rosto nos joelhos. Banguela sentiu que o dono estava triste, e se aproximou para acariciar o fucinho nele. Ele acariciou a cabeça do dragão em resposta.

- Eu sei quem você é. - disse Astrid depois de um tempo. - É o viking mais corajoso do arquipélago, que salvou o mundo colocando a paz nos dragões como os vikings. O viking que fez uma academia para treinamento de dragões. O viking mais talentoso e criativo que inventou coisas extraordinárias. Você é... o homem que mudou a minha vida para melhor... o melhor namorado do mundo.

Ele olha para ela e dá um sorriso tímido. Ela nunca tinha elogiado ele tanto. Não assim. A viking mais durona sabe ser fofa e atenciosa quando quer. Talvez até a mais fofa do arlquipélado.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora