Caminhos Distorcidos

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Eithor não sabia quando era dia ou noite em sua prisão, ele apenas ficava ali, sem ver o tempo passar, esperando o sono vir. Sua barba crescera drasticamente e bem mais desgrenhada do que antes, e suas roupas estavam tão sujas quanto seu corpo em si.

Já passaram muito tempo desde a última visita de Tara, ele contou como 96 horas completo. Ou ela desistira de se ajudarem, ou esse tempo todo ela só estava brincando com ele. O homem suspirou, os braços alongados para cima. Pelo menos ela lhe tirou as algemas, isso era algo que ele não podia deixar de agradecer.

    Foi para a parede oposta a sua cela, a madeira farpada que ele arrancara de um caixote velho já em sua mão. Com muita precisão ele começou a rabiscar a parede, como fizera na anterior. Virou um hábito constante fazer seus desenhos, rabiscar coisas que ele deseja ou sinta angústia. Era algo que ele não conseguia expressar mais fora daquele lugar, só ali em sua prisão, tanto a masmorra quanto a própria Tormenta. Quinze anos preso. Quinze anos sem ver o tempo de flora, sem ver a família, os amigos. Sem ter sua liberdade.

   Ele não sabia quanto tempo mais aguentaria essa vida, se é que podia chamar isto de vida. Mas com a ferida tratada melhor ele sabia que ainda viveria mais tempo. Se ele não fugisse dali, valeria a pena?

    Pensava na resposta para seus problemas quando notou o que ele mesmo desenhara. Duas imagens iguais, um garoto e uma garota de capacetes e sorrisos igualmente travessos. Nem ele mesmo notara o que fazia, mas logo percebia ser uma de suas preocupações.

   Os gêmeos. Garotos que foram sequestrados de Berk, amigos de sua neta. Eles estavam na mão de um dos piores escravizadores que existia. Se sentiu mal por estar lamentando seu estado, afinal, tudo que ele fazia ali era ficar sentado na sela, esperando sair. Vai lá saber que coisas horríveis aqueles dois estão passando. Sendo abusados de trabalho, são apenas garotos!

  Eithor, apesar de ser muito mais velho, gostou muito de conhecê-los. Pareciam espertos sobre o mundo, e muito unidos. Rezava para que eles estivessem bem.

  A porta das masmorras destrancou.

Olhando para a entrada é visto Tara com um molho de chaves e uma bandeja de comida. Ela entrou sem dizer uma palavra, trancou a porta sem largar a bandeja e caminhou para perto de Eithor, com o mesmo mal humor de sempre.

   - E aí? - cumprimentou ela ao por a comida no chão, já que o homem estava sentado. - Ainda rabiscando as paredes?

- O que mais eu faria? Esperar você? - zombou Eithor ao largar a lasca de madeira e pegar a comida que ele não recebia há uma semana. - Cheguei a pensar que fosse desistir da minha ajuda.

   - Deu muita vontade, mas se eu pudesse resolver isso sozinha, não estaria aqui. E já lhe disse que não posso trazer comida toda hora, ou vou ser pega. - ela bufou de maneira impaciente. Observou ele comendo por um tempo, antes de voltar a reclamar. - Eu fui até a gaveta do escritório do mestre, já que é a única possível que você possa ter me apontado, não é?

    - Oh, que incrível! Ela descobriu! - zombou Eithor da lerdeza dela e Tara sentiu um impulso muito grande de lhe dar um soco. - E aí?

- Estava trancada! - ela fala de maneira tão incrédula, que parecia ser culpa dele. - Eu tentei procurar a chave, mas ele estava voltando, sai pela janela com Matadora!

   - Que falta de sorte...- lamentou Eithor ao devorar seu pão com creme. - Essas pistas serão difíceis de botar a mão, precisa ser mais esperta.

 - Bem, talvez se você pudesse apenas me dizer o que tem na gaveta, seria mais fácil!

   - Eu não sei.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora