O Sul da Tormenta

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A Nevasca estava cada vez mais forte. Nada se via além do horizonte a não ser a densa neblina da neve. Os navios travados pelo gelo e os gêmeos na jaula assistindo os caçadores arrastarem Vômito e Arroto para fora por correntes, obringando a obedecer os inimigos. Quatro deles puxavam as correntes com violência, enquanto o dragão se debatia para se livrar, sem sucesso.

  - Soltem ele! - gritou Quente desesperada, mas ninguém lhe dá atenção. Os caçadores estavam ocupados assistindo e rindo do esforço do dragão. - Soltem eles, seus imbecis! Soltem!

  Ela começa a chutar as grades, como se fosse encontrar uma passagem secreta entre elas, Cabeça Dura ao seu lado, ainda tremendo de frio. Dois caçadores montam Vomito e Arroto e o forçam a voar para a nevasca, sumindo de vista e só ouvindo o grunido de injustiça do dragão.

   - Cabeça Dura, temos que fazer alguma coisa! - diz Quente virando-se para olhar o irmão tremer. - Eles estão usando nosso dragão contra a vontade!

   - O que sugere, hein? - questiona Dura. - Estamos em uma jaula no meio de um navio preso ao mar congelado em uma nevasca. Eu não consigo me mexer de frio! O que você vai fazer por nós dois?

  - Você se mexeu agora a pouco! - lembrou ela irritada por vê-lo se mover por ela mas não pelo dragão. - Temos que sair daqui!

  - Até encontrarmos terra firme não vamos conseguir ir muito longe. - diz ele abraçando mais o corpo.

  - Mestre! - chamou um dos caçadores para o homem que admirava a nevasca a frente. - Não conseguimos trazer a Nadder, está fraca demais para voar.

  - Tudo bem, não vamos precisar dela. - diz o homem. - O Zipper Arrepiante fará o trabalho de forma adequada.

   Mais um rugido em meio a nevasca e o  navio inteiro tremeu. Ouve-se de longe o som do gás de Ziper Arrepiante se espalhando e em seguida o som de Arroto acendendo contra a vontade. A explosão ecoa e tudo treme. Os navios, os caçadores, a jaula. O gelo a frente se quebra em mil pedaços, metros e metros a frente derretendo mais rápido do que deveria. Os caçadores gritam em comemoração ao sentirem os barcos deslocarem devolta para o mar.

   Vômito e Arroto voltam ao navio principal e os caçadores descem, voltando a puxá-lo pela mordaça e obrigando-os a voltarem para o barco ao lado e entrar na jaula, assim sendo arrastados para o porão do navio. Os gêmeos olharam com preocupação e raiva enquanto os caçadores voltavam para dentro do convés e longe da nevasca, rindo dos prisioneiros.

  Um dos caçadores jogou uma toalha dentro da jaula dos gêmeos avisando que era o que teria para eles. Logo os dois começam a brigar pela toalha, ambos puxando para si, dizendo que um estava mais ensopado e com mais frio que o outro. No fim, com o desespero, Cabeça Dura venceu e se enrolou que nem uma criancinha se enrola a um cobertor.

   - Você deveria dividir! - rebateu Quente ao tremer quando voltaram a navegar na estranha nevasca. - Eu também estou com frio!

   - Ela é pequena! - diz o garoto tentando se secar e se cobrir ao mesmo tempo - E eu estou muito mais!

   - Aaargh!  Agora é minha vez! - brigou ela e pulou em cima do irmão tentando arrancar a toalha fina e encharcada do corpo dele, que agarrou com força. - Divide, Cabeça Dura!

   - Não dá, ela é pequena! - gritou ele ao puxar de volta e ela puxar de novo. - Eu estou com friooo!

  Nhec~

  A porta do navio se abriu e os gêmeos olham para ela, receosos do que os caçadores iriam fazer. Cabeça Dura aproveita a distração da irmã para novamente tomar posse da toalha encharcada e se enrolar nela como um bebê, ainda tremendo.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora