A Decisão Certa

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    Tara odiava ser a mensageira. Odiava ser ela a representante do mestre desde que descobrira seus direitos negados. Mas o que podia fazer? Era seu trabalho ser o braço direito do mestre, mesmo que o detestasse agora.

    Ela passou pela inspeção dos guardas da Tormenta e entrou além dos muros de segurança que protegiam o homem, e o isolavam também. Pelos corredores do aposento ela chegou no escritório e bateu a porta, os dentes rangendo ao ouvir a voz dele convidando-a para entrar. Girou a maçaneta e entrou.

   Ele estava sentado em sua mesa, um mapa do norte esticado. O homem coberto pelo capuz riscava o mapa de vermelho, como se já marcasse o seu território. Ergueu a cabeça surpreso ao ver Tara, a formalidade nela visível.

    - Tara, minha cara! Que surpresa! - diz o mestre ao se endireitar na mesa e caminhar para mais perto dela. - Faz tempo que não recebo uma visita sua.

   - Só vim lhe trazer um recado. - diz a morena seca, seu olhar para a janela de ferro atrás. - É do senhor Tatto do Mercado de Escravos.

    - Oh! Que interessante! Ele nunca é de mandar recados. - riu o mestre pois difícilmente se comunicavam. - E o que ele tem a dizer?

   - O soldado dele veio para dizer que Tatto quer um empréstimo. - diz Tara e o homem fez uma cara de desdém sobre o capuz. - Ele andou com alguns prejuízos e só pôde contar com a sua ajuda fora do mercado.

   - Tatto me pedindo um empréstimo? Hahahaha, isso é inédito! - o mestre se divertiu com a notícia e se curvou na mesa, fingindo ar de graça. - Eu sabia que uma hora ou outra esse gordo folgado iria depender de mim. Ah, como isso me diverte!

   - Percebe-se. - ironizou Tara com cara impaciente. - E então? O soldado dele está lá fora esperando a resposta.

     - Pode entregar, Tara. Vá nas minas e recolha uma boa quantidade de ouro e bronze para ele, mas não o suficiente para satisfazê-lo. - diz o mestre com um sorriso escondido. - Quero que ele me peça mais. Pelo menos mais duas vezes.

      - Gosta de mostrar poder sobre os outros, não é mesmo? - questiona Tara ao cruzar os braços e o homem ri, dando sua resposta. - Você e Tatto sempre tiveram uma rivalidade de poder. Quem ganha mais, quem escraviza mais. Principalmente quem tem mais posses de terra. Por que ajudá-lo?

    - Para mostrar que eu posso, e que ele depende de mim para continuar nesta ilha. - diz Tatto com uma risada nada engraçada. - Ele ainda  vai ficar aqui na minha mão, precisando de mim!

    - Que interessante. - ironizou ela ao revirar os olhos e olhar para trás. - Vou lá então.

   - Espere, minha cara.

    - Quê?! - ela voltou-se impaciente e ele falou sério finalmente.

   - Por onde você andou nesses dias? Faltou nos nossos treinos e nas reuniões. - cobrou o mestre mas ela não respondeu, apenas ficou encarando-o devolta, como se não devesse explicações. - Você não está assim por causa daquela história de herança, está?

- E desde quando sou mulher de guardar rancores bobos? Eu só estou com meus próprios afazeres. - responde Tara serena, embora ela estivesse gritando por dentro.
   
    - Eu realmente desejo que você tenha encerrado esse assunto, pois não temos mais nada para discutir disso. - recorda ele e Tara acente. - Somos uma dupla, não se esqueça.

   - Não vou. E fique tranquilo. - diz ela sem muita convicção. - Esse assunto está muito longe de me interessar.

  - Que bom. - aprova o mestre quando ela finalmente saiu, o olhar ainda pouco convencido. - Que esqueça mesmo, minha cara. Que você esqueça.
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   Tatto calculava seus papéis, sentado em sua enorme mesa de madeira, Quente ao canto limpando, mas obviamente não deixando de ouvir a conversa dele com os soldados.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora