A Carta de Corine

903 57 26
                                    

     Só uma pergunta se passava na cabeça de Emma. Quem diabos teria o nome batizado de Trapo? Ela sabe que os pais tem essa mania por conta das lendas de duendes e trolls. Mas, poxa, logo um nome sujo como esse? O garoto devia dar razão ao nome para ter esse escolhido.

    Ela e Tara estavam naquele momento caminhando sorrateiramente pelas vielas das casas no lado oeste da cidade às duas da madrugada. Tara decidiu que quanto mais rápido hospedasse a garota, melhor seria para elas. Foram entrando em uma das ruas menos bem cuidadas dali e que haviam apenas três casas, todas elas há um quilômetro de distância de cada vizinho.

    Foram até a casa mais proxima dos matagais. Era pequena e hipersuja nas paredes. Janelas eram travadas com tábuas e a porta tinha a maçaneta quebrada e a fechadura ficava presa com arames. Emma olhou chocada. Obviamente nada é pior do que uma prisão escrava, mas ao olhar para aquela casa.... já não tinha mais tanta certeza.

    - Eu vou ficar aqui? - questiona Emma para Tara que já batia na porta em chamado. - Por Odin, esse local é nojento!

     - Prometi um lugar seguro e à salvo; não uma casa cinco estrelas polares. - respondeu Tara sem emoção alguma. A expressão "estrelas polares" vinha como um elogio no arquipélago para tudo que fosse rico em beleza. Era considerado a constelação mais bonita do céu, e logo se tornou a frase mais valorizada nas riquezas do mundo. - Pare de reclamar, isso é mil vezes melhor que aquele mercado, fresquinha!

    - Não sou fresca mas higiênica, todo mundo deveria ser. - resmunga ela com o nariz torcido para o cheiro do local.

    Tara precisou bater na porta mais duas vezes até Trapo atender. Elas ouviram o som do arame na madeira e logo deram espaço para a porta ser empurrada. O garoto de cabelos castanhos duros e sujos olhou tudo um pouco confuso, o sono obrigando-o esfregar seus olhos e acordar para à noite. Quando reconheceu Tara, seu rosto se iluminou.

    - TARA! POR ODIN, A SENHORITA ESTÁ EM MINHA CASAAA! - o garoto com suas roupas esfarrapadas pulou nas pernas da morena, que sentiu as mãos úmidas dele sabe-se-lá de onde. - EU SABIA QUE IRIA ME NOTAR ALGUM DIAAA!!!

    - Se levante, Trapo! Está me sujando com suas mãos! - gritou Tara e o chutou na cara, fazendo o garoto cair na grama ainda sorridente. - Eu só vim porque preciso de um favor.

    - FAÇO QUALQUER COISA QUE ME PEDIR, TARINHA! - ele se ajoelha em seus pés, sorrindo como um bobo. - Meu sonho um dia ser notado por você!

     - Tá, tá! Pare de drama e se levante! - gritou ela e ele ficou de pé, ansioso por ajudar. - Preciso que você abrigue essa garota.

     Só neste momento Trapo notou a outra moça e corou de encanto ao ver outra mulher em sua residência, parecia um sonho. Emma olhou-o de maneira desgostosa e nada amigável. Levou mais de dez minutos para Tara contar ao rapaz sobre a garota ser uma fugitiva e precisar ficar fora da vista de qualquer guarda, os do Mestre principalmente. Tara não conta que ela veio do mercado.

   - E então? - quis saber Tara sobre ele a abrigar.

    - Claro que ela pode ficar aqui! Prometo que ninguém vai achá-la! - garantiu Trapo e a ruiva apenas bufou, a aparência do rapaz já lhe dando âncias. - Eu fico tão feliz que lembrou de mim, Tara! Estou feliz mesmo!

    - Bem, de todos, você é o mais zé ninguém da cidade e ninguém lembra de sua existência, então era o mais óbvio!

   - Ah, tendi... - o garoto sente como se tivesse uma rachadura em seu coração. "Ninguém sabe de sua existência", essa doeu até em Emma. - Bem, ela vai ficar bem escondida... até que consiga fugir, eu ajudo sim.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora