Marcas

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O anoitecer caía na ilha dos caçadores. Todos estavam em suas respectivas barracas; alguns nos próprios navios. O homem encapuzado estava pronto para retirar seu capuz quando um Terror Terrível bateu em sua janela do convés. Ele abriu uma fresta para deixar o pequeno dragão entrar com uma carta. Retirou a carta e, em seguida, pegou o dragão com violência pelo pescoço e arremeçou-o em uma jaula próxima. O dragão gruniu em pedido de socorro.

- Esta é a sua nova casa, agora. - diz o homem ao empurrar a jaula para fora de seus aposentos, ao lado de um segurança. - Coloque-o com os outros terrores terríveis. Agora! - mandou ao fechar a porta sem ouvir a resposta.

Enquanto lia sua carta, um caçador bateu, em seguida entrou no aposento.

- As barracas estão armadas, mestre. Todos já estão dormindo e os guardas à postos.

- Ótimo. - diz o mestre.

- Alguma notícia?

- Tecnicamente não é da sua conta, mas.... - dizia o homem com a carta, se virando para o caçador. - Sim, tenho notícias. Tara e os outros caçadores já estão velejando pelas águas, mas quando chegarem nesta ilha já teremos partido. Digamos que só os veremos no Sul mesmo.

- Certo. - concorda o caçador, sentindo-se encomodado com o mestre. Começou a voltar para a porta.

- Espere, espere! - pediu o homem, e o caçador voltou, preocupado. - Leve um prato de comida para nossa hospede. Ela deve estar se sentindo faminta.

- A hospede? - quis saber ele, trêmulo. - Aquela hóspede? Na cela onde é sigilo?

- Exatamente. - confirma ele. - Apartir de hoje, você vai alimentá-la. E seja bonzinho. Eu preciso dela inteira no sul. Não conte nada sobre nós! Especialmente, sobre mim.

- Não vai vê-la pessoalmente? - quis saber ele, que não curtiu a ideia de descer lá com frequência.

- Vê-la? E correr o risco de que me reconheça? Não, obrigado! - negou o homem ao dobrar a carta. - Agora vá!

Ele se retira a contra gosto.
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O caçador desceu pelo convés. Ao chegar no chão, caminhou pelo corredor. Ali só se tinha filas e mais filas de celas, todas portadas com dragões quase mortos. No fundo do corredor, o caçador apalpou a parede que finalizava. Tocou um tijolo solto e o empurrou para dentro dos outros tijolos. A parede inteira deu um estalo e ela se abriu como uma porta. Uma passagem, iniciada por uma escada caracol que descia.
Ele desceu e desceu. Cada passo que dava era mais imundo. Chegou no solo e caminhou para o fundo da sala, que era coberta por esqueletos. Ali era um local sem janelas ou qualquer saída de emergência, pois o navio era à prova de dragão. No final da sala havia um cubículo. Literalmente um quadrado que cabia uma única pessoa, trancada com grades de bronze. Dentro deste cubículo pequeno, sufocante e imundo, estava Cabeça Quente.

Ela estava encolhida com as pernas contra a parede, metade do seu cabelo preso, a outra metade solta. Seus braços estavam acorrentados para trás das costas, e a outra ponta da corrente ia presa na parede. Seus pés também estavam acorrentados. Bem, uma delas. Com uma tornozelera de prata que era presa em uma corrente e em uma massa de peso. Se ela corresse, o peso da massa a derrubaria com certeza. O caçador se aproximou.

- Olá, minha cara. - chamou ele. A garota estava de cabeça baixa, como quem não quer falar. - Vamos, não seja tímida! Eu sou Freddike. Um caçador que ninguém liga, mas que está aqui! Eu trouxe seu jantar.

Ela continuou quieta.

- Qual é! - zombou o caçador. - Não está com fome?

Ela se mexe, de raiva e fraqueza. Ela ergue a cabeça para o caçador, com olhos queimando em fúria. Ela não parecia machucada ou agredida, mas sua boca estava amordaçada. O caçador abriu a cela dela lentamente e se aproximou com a bandeija.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora