A Fenda

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- Ah, DROGA! - gritou Melequento ao revirar seus bolsos, assustando Corine. - Perdi minha lente! Como vou escrever meu livro agora?!

- Com as mãos. - diz a menina não com grosseria, mas sinceridade.

- Não é tão fácil assim! - chora Melequento ao encarar seu livro e o lápis. - Preciso da minha linda e incrível lente para iniciar minhas inspirações!

- Suas inspirações estão bem aqui! - diz Corine apontando para o aposento, que é nada mais nada menos que o Fosso, barulhento entre as pedras brilhantes, que são ovos, com os Roncadores. - Agora esqueça a lente e escreva em seu livro tudo sobre eles!

O dia amanheceu no Fosso como todos os dias anteriores, sem saber que é dia. Nesses dias que se seguiram, Corine levou Melequento ao Fosso para que ele conhecesse mais dessa raça nova e que se divertissem também. Os pais da menina ainda não sabiam que Melequento já estava andando, eles nem entravam no quarto do rapaz. Com esse pequeno segredo os dois saíam escondidos para ir ao Fosso e se divertirem com os Roncadores, a raça secreta de dragões que Melequento se sentia orgulhoso em descobrir sozinho, sem a ajuda de Soluço. Já estava pronto para iniciar mais um capítulo em seu livro.

- Então! Os Roncadores não tem uma cor específica? - pergunta Melequento e Corine afirma. - "Eles mudam as cores de acordo com o humor", "quando estão tímidos eles ficam invisíveis"!

- Não! Quando estão tímidos eles ficam na cor coral! Eu te disse isso! - corrige a menina quando Melequento resmunga e risca a frase errada. - Só a Camale fica invisível, pelo menos é a única que vi; é uma habilidade única. Normalmente todos só se camuflam com cores mesmo!

-Por que os outros não ficam invisíveis? - pergunta Melequento mas Corine ergue os ombros, sem resposta. - Okay, ela é especial e única! Parece o Banguela, nhé!

     NHAC!

   Um filhote de Roncador, que dormia na perna de Melequento, abocanha o livro e sai correndo pelo Fosso. O garoto grita e começa a correr atrás do dragão, desesperado.

     - DEVOLVE MEU LIVRO, SEU RÉPTIO MALUCO!!! AAARGH!!! POR QUE TODO MUNDO GOSTA DE ROUBAR MEU LIVRO?!

   O dragãozinho alça voo e foge, sumindo no meio de outros milhões de Roncadores que voavam. O garoto chorou de mágoa. Era um caverna grande, espaçosa e lotada demais para encontrar seu livro em milhões de dragões coloridos sem cor específica.

    - Isso não é justo! - choramingou ele sentindo que perdera uma parte do corpo. - Como vou achar meu livro nesse Fosso enorme?

     - Não vai! Bem, talvez um dia ela traga devolta. - riu Corine que não conseguiu se conter. Viu a cara de Melequento. - Não se preocupe, depois ela devolve! Eu acho.

      - Isso não me tranquiliza. - resmungou ele. - E agora? Eu ia anotar a  potência das garras e a velocidade de voo!

    - Por que não faz na prática? - sugere Corine quando Camale se aproximou. - Que tal uma corrida?

     - O quê?! Quer dizer montar um desconhecido? - ele parecia apavorado. - Mas eu não sei nada deles!

     - Eu te ensino a montar um. Afinal, o meu dragão é um Roncador! - lembrou a menina como quem diz o óbvio. Segurou na mão dele. - Vem! Vou te ensinar como treiná-los!

     - Eu sendo ajudado por uma criança a montar dragões. - reclamou Melequento, bufando. - E eu achando que ser mandado pelo Soluço era ruim. Hunf!
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   Perna de Peixe acordou com o braço latejante. Queimaduras definitivamente eram as piores feridas que podiam se ter em uma noite de sono. Assim que deu sinal de acordar, Batatão correu para ele, lambendo e grunindo. O garoto se sentou, abraçando o dragão.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora