O Que Houve Com o Cabeça Dura?

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- "Assim, a bela concha voltou ao mar. Brilhante! Cintilante! E com uma perda horrível de seu melhor amigo, Melequento! Oi, oi, oi...." - contava Melequento um dos capítulos de sua história. Todos ainda esperavam em frente a floresta, entediados com Melequento, que entrara tanto na história que começou a interpretá-la como um teatro. - Capítulo 108, "O Brilho da Concha Quando o Mar a Levou."

- Você fez um capítulo só da concha indo embora? - perguntou Perna de Peixe, incrédulo. - É sério isso?

- Vocês não estavam lá quando eu tive que devolvê-la! - justificou ele. - Era tão triste, lindo e tão mágico que precisei de um capítulo inteiro para descrevê-la!

- Isso tá errado! - diz Astrid, sentada e apoiada nos joelhos.

- Eu sei! - concorda Melequento, aos prantos. - Eu devia ter adotado e aceitado ela na minha vida sem brilho! Não devia ter devolvido ela ao mar!

- Não! Não isso! - negou Astrid o encarando. - Tá errado você contar isso pra gente!

- Por quê?

- Você já terminou ele? - pergunta Astrid. - Seu livro já está publicado?

- Claro que não! Não está nem na metade!

- Então por que está lendo ele? - pergunta Bocão.

- Porque.... - ele leva um tempo para responder. - Porque estamos entediados aqui esperando os outros voltarem e eu queria animar.

- Não estamos entediados com eles. - diz Perna de Peixe. - Estamos entediados com você.

- É, essa história é muito chata. - concorda Bocão. - Se seu livro inteiro é assim, nem quero comprá-lo.

- Mas....

- Melequento, quando cria algo não pode mostrá-lo aos outros. - diz Astrid. - Assim, vamos já saber o que é antes de terminar. Perde a graça.

- É. - concorda Perna de Peixe. - A graça de comprar algo é não saber o que tem. E agora que sei o que é, e não gostei, nem vou comprar quando terminar.

- Está riscado da lista de Agradecimentos, Cara de Peixe! - grita Melequento fazendo um risco no final do livro. - Astrid ainda está, por me alertar! Mas não vou contar mais nada. Muito menos de como minha conchinha caminhou pelas águas!

- Ah, que pena.... - ironizou Astrid nada mais que feliz ao ver o garoto fechar o livro.

Ouve-se o som de passos vindo das árvores. Todos ficam de pé receosos, esperando. Soluço é o primeiro a sair da floresta, desarmado. Astrid logo corre para ele, acompanhada por Banguela.

- Soluço! - grita ela de alegria. Ela o abraça fortemente, e ele retribui abraçando as costas dela e depositando sua cabeça no pescoço da garota.

- Oi, Asty. - cumprimeta ele. Sua voz era suave e doce. Mas também triste.

- Soluço, você está vivo! - grita Bocão após o casal se separar e Soluço cumprimentar Banguela. - E aí? Acharam o Cabeça Dura?

- Achamos. - responde Cabeça Quente, que sai da floresta logo em seguida.

- Cabeça Quente! - grita Perna de Peixe, imitando Astrid e indo na direção da garota de braços abertos. Mas ela não lhe dá atenção. Passa direto por ele e senta em uma pedra, completamente entristecida. - Tá bom, tá bom! Sem abraços para mim. Tudo bem, posso conviver com isso.

- O que foi, Quente? - pergunta Astrid a garota. - Vocês o encontraram, né?

- Sim, mas....

- Ele precisa de ajuda! - diz uma voz grave e forte. Saindo da floresta, vinha Stoico. Carregando Cabeça Dura no colo.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora