A Verdade

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Corine passou pelo quarto dos pais sem problemas. Atravessou a cozinha e saiu para o quintal de casa, onde viu Melequento de longe fuçando a grama envolta da cachoeira, Camale estava próximo ao riacho para se refrescar. A menina correu para eles.

- Ei, o que está fazendo? - perguntou Corine e Melequento olhou para ela aborrecido.

- O que eu disse que iria fazer, procurando uma saída. Mas aqui realmente não parece ter nada. - diz ele ao por as mãos na cintura. - Sabe, acho que vou dar uma olhada no Fosso, naquele lugar enorme sei que posso....

- NÃO! Você não pode! - diz Corine exasperada mas se arrepende na hora, pois o garoto lançou um olhar confuso e desconfiado. - Você não pode cheretar o santuário dos Roncadores, eles não permitem! Na verdade, você nem devia saber do lugar!

- Foi você quem me mostrou! E afinal, eu já voei ali com você quase a caverna inteira! O que há demais em procurar algo? - pergunta ele e a menina gagueja para responder. - Sabe, eu realmente achei que você me apoiaria mais em me ajudar, baixinha. Você sabe que isso é importante para mim!

- Por que é tão difícil você aceitar e ficar aqui?! - pergunta ela irritada. Melequento olha para ela triste.

- Porque meu lugar não é aqui, Corine! - responde ele e ela encara-o chocada em ver tanta seriedade na voz. - Eu não sou daqui! O meu lugar é lá em cima, com o sol e o céu estrelado de noite. Eu gosto do mar, mas gosto de nadar sobre ele e não de viver por baixo aonde mal se enxerga! Eu quero poder voltar a voar no céu com meus amigos, que por mais que muitas vezes me criticam e zoam, ainda são meus amigos com certeza! E tem meus pais!

- Mas... mas você não gostou de nada daqui? - pergunta ela desesperada. - Pensa em tudo que fizemos nesses meses!

- Eu penso nisso também, e eu acho super maneiro aqui, essa floresta e principalmente os Roncadores, que é uma espécie nova. Mas eu não posso viver aqui! - continua Melequento. - Tenho uma casa lá em cima, e já tenho meu dragão me esperando!

- O dragão que só sabe zombar de você! - lembrou ela. - Os Roncadores nunca farão isso!

- Ele não me odeia, ao contrário! É o jeitinho dele de mostrar que me ama. Assim como todos os meus amigos. - conta Melequento e olha a menina com uma cara ainda mais amuada. - Quando caí no mar minha ilha estava sendo atacada, eu nem sei o que aconteceu com ela, se foi dominada ou destruída. Se vencemos ou perdemos amigos e parentes! Só o que me lembro era que meu dragão foi ferido, e eu não sei se ele está vivo, se morreu! Se ainda está ferido! Você não faz ideia a dor horrível que é pensar em perder meu dragão! Ou mesmo crer que algo horrível aconteceu com ele, não saber nada sobre ninguém! Eu preciso voltar e viver! Viver quem sou!

Corine não sabia o que dizer, mas pela primeira vez se sentiu mal por ele, mal por si. Olhou para Camale, que tomava água no rio. Se elas fossem feridas e separadas uma da outra, com certeza estaria em mais desespero que Melequento mostrava por seu dragão. E ele já mostrava muito.

Se sentiu mal, uma péssima amiga. Uma mentirosa! Ela não sabia se continuaria mentindo depois de saber como ele se sente. Ele parecia desesperado pela ajuda dela, encontrar uma saída juntos, quando ela bem sabe onde tem.

Suspirou, se sentindo derrotada. Ela não queria que ele fosse embora, realmente não queria ficar sozinha com seus pais, que mal lhe dão atenção. Mas ele está infeliz, não para de pensar na casa da superfície! Como poderia manter um amigo ali sendo que estava por "obrigação", por não ter saida?

Ela não queria que ele ficasse, não assim! Se ele escolhesse ficar, queria que fosse pela vontade própria dele, não por obrigação sua ou do mar. É isso! Ela vai contar a verdade! Com muita dor no seu coração, ela dirá a saída para ele!

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora