Separados Pelo Muro

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Dias podem ter passado. Semanas ou anos.

Os gêmeos não sabiam mais a diferença.

Presos no fundo de um porão de um traficante falido, a dupla não sabia mais o quanto aguentariam, as gargantas eram secas e o estômago implorava. Cabeça Quente e Cabeça Dura apenas conseguiam ficar ali, sentados naquela jaula sem ter noção do tempo. Mal aguentavam ficar com os olhos abertos, a maioria dos escravos ali já estavam desmaiados com a falta de alimento. Ally era quem mais estava acordada de todos, as pernas encolhidas no canto da jaula enquanto os gêmeos lutavam para não apagarem também.

- A gente... precisa sair daqui. - murmurou Quente tentando se sentar e falhando seriamente. - Como consegue ainda ficar reta, Ally? Você nem parece fraca.

- Tatto já me deixou meses sem comida. - contou ela em sussurro. - Eu tenho bastante resistência com os castigos dele.

- Esse homem devia ser preso... - resmunga Dura praticamente deitado no chão. - Ele sim merecia a escravidão... não sei quanto mais eu aguento. Ficar nessa jaula vai me deixar louco!

- Aguenta mano. - pediu Quente e ambos dãos as mãos; algo que eles fazem quando sentem medo, mas não querem admitir. - A gente vai sair dessa.... só não sei como....

Os gêmeos olham para as outras jaulas. A maioria já tinha desmaiado, e os que ainda estavam acordados ou estavam começando a ficar doentes ou choravam com medo. Então aconteceu, exatamente o que eles pensaram nunca mais acontecer.

A porta do porão se abriu.

Tatto entrou no local, cada passo mais pesado que o outro. A aparência dele era tão horrível quanto dos escravos. A barba desgrenhada e cheia de sujeira, a pele mais suja e escura do que o comum, suas jóias e acessórios tinham sumido e a roupa estava rasgada de todos os lados; segurando uma garrafa de hidromel, a mais barata que tinha no mercado. Ele caminhou para as jaulas, muito bêbado.

    - E aí, escravos! Como estão? - perguntou ele balançando a bebida no ar. - Se hidratando bem? Hahaha!

     - Solta a gente! - rosnou Quente sua testa suando já. - Metade deles já desmaiaram! Tá esperando a gente morrer, é?!

     Ele olhou para ela, um soluço bêbado saindo de sua garganta. Se aproximou da jaula dela com Dura e Ally, sorrindo.

    - Eu não tenho mais nada além do domínio em vocês. - riu ele super satisfeito. - Não restou soldados de confiança ou comida. Essa garrafa... é minha última companhia.

     - O que adianta ter tantos escravos se vão todos morrer de fome! - rosnou Quente com raiva. Tatto lhe mandou um olhar mortal, mas ela segurou firme. - Aí que você vai perder tudo mesmo, estúpido!

    - Como é? - o homem rangeu os dentes de maneira ameaçadora, mas novamente Quente não se deixou intimidar. - A sua sorte escrava é que eu estou de muito bom humor, e sabe por quê?

   Cabeça Quente não responde, apenas olha de volta para ele, o olhar firme.

    - Vocês finalmente vão sair do meu buraco! - contou Tatto e os olhos da maioria ali brilharam com a notícia. - Eu vou vendê-los!
 
     - Sério? - questiona uma das escravas ali, a voz rouca. - Quando?!
  
     - Isso não é da sua conta, mas será em breve. - Tatto olhou de volta para Quente. - Vocês só me dão dor de cabeça mesmo. Eu vou ficar livre de pirralhos na minha vida, até o fim da semana 99,9% de vocês vão estar com outro mercador! Felizes, seus chatos?

    Todos sorriem, se tivessem energia suficiente estariam dando gritos de comemoração, mas só com a certeza de que saírão daquele inferno já era algo para se comemorar sorrindo. Ally, por outro lado, franziu a testa para as palavras de Tatto.

Dragões - O RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora