Prólogo

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                              Lord

Batalhas, como podemos vencê-las? Através da fé? Ou com armas e derramamento de sangue?

O que somos capazes de fazer para proteger quem amamos?

Quando se trata desse sentimento, a mulher mais calma, vira uma leoa que estraçalha quem mexe com seus filhotes. E o homem mais sábio, não raciocina, regride em sua evolução e torna-se cego pela fúria, matando aqueles que colocam em risco a segurança de um dos seus.

Em um futuro distante farei muito mais que matar e proteger. Efetuarei quantas alianças forem necessárias e comandarei um lado da guerra que está por vir. E ao rememorar imagens de um possível futuro regado de sofrimento e dor, minha alma revolta-se e meu corpo estremece. Essa é a consequência da inveja que consumiu o coração de um amigo estimado.

Encontro-me agachado na posição de vigia na rocha mais elevada, olhando para além do Monte Jebel Muntar. O som melodioso de asas verbera próximo a mim.

— Irmão, que fazes aqui? — a voz poderosa de Miguel atravessa meus ouvidos. — Todos estão à tua procura, precisas voltar, és o porta-voz e também aquele a quem o Divino confidencia seus segredos. Por que estais neste deserto? — Volto-me para ele e para os outros que o acompanham.

— Ur, teve que se ausentar. Ele lutou bravamente e sacrificou-se pela humanidade e por mim. — comunico.

— Soubemos da batalha, contudo... diga-me irmão. Para onde ele foi? — indaga Gabriel.

— Para o lugar de condenação. — respondo.

— Lord... estás mudado, o que sucedeu nesta batalha? — a indagação é proferida por Fatum.

— Tu bem o sabes, és o destino. — afirmo fitando seus olhos âmbares.

— Perdoe-me, Lord, não adivinho histórias, unicamente ajudo e trilho opções para uma vida melhor. Tanto os seres humanos, como os celestes, escolhem como querem viver. — Fatum esclarece.

— Já esperava tal resposta sua, irmão meu. — Não evito o sorriso de aprovação que repuxa meus lábios. Pego-me esquadrinhando a face dos seres celestes dispostos diante de mim, noto expressões diferentes, entretanto em seus olhos, cintila um denominador comum: a surpresa.

— O Divino anseia vê-lo. — Se aproxima Miguel, o mais velho e poderoso arcanjo. — Ele enunciou que o filho apartou-se de sua presença por demasiado tempo.

— Não voltarei. Relata ao Pai meus planos, e intercede por mim. Ele é o autor e o pintor, contudo eu a escrevi, então serei eu a salvá-la. — Roço a testa de Miguel com a ponta dos dedos, transmitindo assim minhas revelações, e através dele, consigo alcançar a mente dos outros irmãos. — Siga minhas instruções, e volte aos céus.

— Não o farei! — opõe-se. — De modo algum deixarei meu Lord sozinho nesta jornada!

— Obedeça, Miguel! Assuma meu lugar, pois para os céus, não voltarei! — Mesmo resignado ele faz uma reverência, alça voo e desaparece entre as nuvens.

— Necessitamos de ti. — Gabriel profere inconformado.

— Gabriel, tu és amado, e serás o Santo Anjo da Anunciação. — proclamo fitando-o com admiração. — Não podes ficar neste mundo que se corromperá. Volte com Miguel e cumpram as missões que o pai designarem a vocês.

— Sim, meu Lord, não o desobedecerei. — profere e desvanece-se no ar.

— Não retornarei aos céus! — Raphael que, permaneceu calado por todo tempo, esbraveja com petulância.

— Não irás, meu amigo. Tu ficarás comigo. Tua arrogância servirá a meus propósitos. Descerei ao vale, e salvarei minha Lunatab entregando-me àquele que me traiu. E Fatum, selará nosso destino. Cuidem-se. Vemo-nos em breve. Adeus! — O celeste que muda vidas, nos dá as costas com semblante pensativo e some entre as rochas.

— Nos divertiremos neste mundo, não é mesmo? — Raphael manifesta-se sorrindo.

— Sim, iremos...

— És sandeu. — sussurra atirando-se do penhasco.

De fato sou.

Nos limites do deserto, avisto algumas árvores frondosas, contudo elas também secarão como as que estão ao meu redor. Esta terra é inóspita, nada sobrevive nela por muito tempo. Contudo, o lugar voltará ao que era antes se eu retirar a imprecação posta nele, mas não hoje, — Raphael inspeciona a área. O Arcanjo é fanático por ela. Pelo seu desejo o lugar será um ermo por toda eternidade. Não no meu tempo.

Descalço minhas sandálias de couro marrom, as ponho de lado e inicio minha descida. Percorrer rochedos pontiagudos não é tarefa fácil, as fendas entre as rochas são pequenas demais, não me permitem andar normalmente, porém, sigo para meu destino sem me incomodar com as feridas que se abrem nos meus pés. Ao chegar ao centro do vale, encaro meu inimigo e faço o que me propus.

— Me entrego a ti. Faça comigo o que quiseres, todavia deixe-me cuidar dela, vê-la e tocá-la ao menos por alguns instantes. — ajoelho-me aos seus pés.

— E o que ganharia eu em troca, irmão? — Seu sorriso angelical esconde sua crueldade. — Através de pesquisas, sei exatamente o momento em que sua Prometida será concebida. — Observa-me com indiferença. — Contudo não fiques aflito, a conexão que terão será tão forte que se um dos dois perecer, o outro também irá. E tu voltarás ao pó que uma vez foi. Então, perdoe-me por não ajudá-lo, irmão. — Dá-me as costas. — Sou capaz de lhe mostrar o futuro e o caminho correto na conquista deste mundo. — ofereço meus serviços.

Atraído pela oferta, o traidor volta-se para mim.

— És o segundo a me propor um vislumbre do futuro. Pensando bem, uma segunda opinião é sempre bem-vinda. Aceitarei sua oferta, todavia, ficarás acorrentado, também farei e falarei o que bem entender de ti. Serás apenas uma lenda. Aceita? — o sorriso que acompanha a pergunta indica que ele sabe que não tenho outra opção. Ele acredita que não tenho alternativas. Rendido, concordo com um acenar de cabeça. — Levante-se! — impõe aquele que traiu os céus.

Coloco-me em pé, curvo minha cabeça esperando suas ações. Ao assumir uma posição submissa, os grilhões do traidor são atados a mim. Sou arrastado até o centro do acampamento e humilhado diante das miríades que nos cercam. As gargalhadas de zombaria retumbam em meus ouvidos.

O traidor conta seus planos e o que pretende fazer com minha amada. Ao ouvi-lo, o ódio arde em meu peito e me dilacera. Procuro em seu olhar, o amor e carinho que um dia vi neles, todavia encontro somente crueldade e decadência camufladas pelas suas lindas esferas angelicais.

Volto a observar meus pés. O sangue que escorre deles trilham três vertentes. Esses serão os caminhos que seguirei. E pagarei o preço por segui-los, e por usar meu dom, em mim mesmo.

Escolha um caminho, e que seja aquele que te leve a um mundo em que você tenha o poder unicamente de ser feliz.
V.D

E aí gostaram? Espero ler seus comentários e ver suas 🌟 brilharem, elas são importantes, mas o prazer de compartilhar essa história e tê-los comigo vai ser maior.
Bjs no 💗.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora