ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)

19- A Aposta

dedicado a Cecil79

                             Dora

O Urso aparenta ser um menino carente de afeto, acredito que se a pessoa for cordial, ele aceita a amizade sem hesitar. Não acho que a menina de cabelos azuis foi simpática, mas dentre tantos ela foi a que mais se importou, por isso acompanho o garoto e sua mais nova amiga. 
 Enquanto espero minha vez na fila procuro Alexia e Hanna e não as vejo, mas encontro Alysson me urubuzando. Ela me olha de cima a baixo com depreciação, dou um sorriso de lado. Será que ela não cansa? Após pegarmos nosso almoço, seguimos a menina de cabelos azuis até uma mesa vazia. Bernard senta ao meu lado e ela à nossa frente.

— Meu nome é Dorotéia e o seu qual é? — pergunto a garota.

— Nós fazemos a aula de literatura juntas — Morde seu sanduíche de atum.

— Eu não te vi, desculpe.

— Você estava mais preocupada em olhar o garoto no fundo da sala — soa estranha — Você escolheu uma péssima aula para fazer isso, o professor tem o cérebro de minhoca, ele juntará vocês num trabalho.

— Por que você fala assim dele, eu gostei do Ravi, você não?! — pergunto surpresa.

— Não é como se eu tivesse opção — responde e bebe um longo gole de suco.

A garota não dá uma resposta clara, e não tenho como perguntar o que ela quis dizer, pois, Alexia, Hanna e mais um garoto surgem atrás dela com suas bandejas.

— Dora, por que você não nos esperou? — Alexia inquiri.

— Eu conheci a… bom ela nos ajudou então...— Aponto a menina que nos ajudou.

Alexia reluta em sentar-se, mas Hanna se acomoda, e o garoto que não sei quem é, dá a volta, pede licença e senta ao lado de Bernard. Nas escolas que frequentei, eu levava meu lanche de casa e comia escondida na biblioteca ou na quadra, agora estou rodeada de pessoas. Como pode?! Creio que desejar viver o novo, faz milagres. 

  Enquanto reflito na vida escolar que levava e na atual, a garota de cabelos azuis levanta-se.

— Aonde vai? — pergunto.

— Suas amigas chegaram, você não precisa mais de mim — fala com rudeza.

— Senta. Eu escolhi meu lado, e não foi o da Dinah. — A desafio, como se eu conhecesse a tal Dinah. — E se alguém nesta mesa se incomodar com sua presença, que se retire! — comunico resoluta, ninguém me contradiz e ela volta para posição inicial.

— Meu nome é Dark — revela e assinala para o garoto que chegou com um sorriso — Esse aí é o Cristian.

Miro o garoto que é como uma vela. Suas roupas são negras como as de Dark, e cheias de taxas, os cabelos repicados até os ombros dão um ar de Conde Drácula e de superioridade a ele. Entretanto, ele não me cumprimenta com arrogância, sua fala é tranquila como a de um monge.

— Muito prazer, Cristian. Sou Dorotéia, mas pode me chamar de Dora, e esse aqui é o Urso. 

Chamo Bernard pelo apelido sem saber se ele quer ser chamado pelos outros assim. Pelo visto ele não se importa, pois cumprimenta Cristian normalmente. Alexia finalmente decide se sentar e chama a atenção de todos.

— Prazer, Ursinho — fala com zombaria.

— Alexia, ele é meu amigo.

— Tudo bem, Dora — tranquiliza o Urso — Tamanho não é documento. Minha força vem do Divino, não dos homens. Ursinho está perfeito para mim — O garoto olha diretamente e fala como se transmitisse um recado para Alexia, que se constrange, mas se endireita e faz cara feia.