DoraNada melhor do que acordar e beber um bom café. Num dia frio e nublado ele é o ânimo matinal.
Vou direto para a cafeteira, encher uma caneca com o líquido marrom e observo a fumaça ondulante sair. Sinto os olhares da minha família em cima de mim. Só então me sento num dos bancos desconfortáveis em frente a ilha, e dou um bom dia desanimado a todos, em seguida me distraio em pensamentos. Penso que minhas descobertas precisam de confirmação, só palavras soltas, anotações e suposições não provam nada.
— Noite ruim, Dora? — Alysson me tira do torpor ao perguntar como quem não quer nada.
— Um pouco. — Circulo a borda da caneca. — Assistir dois anjos lutando por mim, foi exaustivo. — Bocejo.
Tia Sophia e Elijah entreolham-se sem entender o que se passa.
— Há tempos te escuto falar que vai cortar esse cabelo e nunca corta, e quem sabe ao tomar um banho de loja, talvez um daqueles nerds espinhentos da nossa escola, te note, mas um anjo, nunca, quanto mais dois!
— Você já reparou o nerd espinhento que anda atrás de mim, Aly? E notou como ele ficou de óculos?
— Bonito, admito. Como eu te disse ontem...
— Alysson, você não consegue nada por meios legais, é invasiva, não sabe a hora de parar, mas me encarregarei de te ensinar. — Termino meu café e lavo minha caneca.
Sem firmeza na voz, Alysson puxa conversa com Elijah e Sophia. Ela pede para ir ao shopping, e ao receber consentimento, levanta eufórica e sai da cozinha. Aly quer sair, e meu objetivo, é alcançá-la e despejar tudo que guardo há anos. Elijah e Sophia não merecem começar o dia aborrecidos devido às nossas brigas, portanto, me despeço deles, na maior inocência. E antes que a ruiva chegue na porta de entrada, a impeço de dar o passo seguinte.
— A próxima vez que quiser falar sobre Nathan, anjos, ou demônios, lance seu veneno de uma vez. Talvez ele faça efeito! Ou melhor, se continuar a se meter na minha vida...— Deixo a frase se perder, se ela for inteligente entenderá — É a segunda vez que te aviso, não haverá uma terceira.
— E o que vai fazer? Me bater? É somente isso que você consegue; dar soquinhos — zomba.
Alysson sempre me colocou para baixo em relação à aparência. Ela dizia que eu não aparentava ser uma mulher, porque mulheres não são masculinas, elas são delicadas, andam com os cabelos cheirosos, usam maquiagem, etc. A ruiva me julgava pelo modo como eu me vestia, mas nunca andei com os cabelos sujos, e minhas roupas consistiam em jeans confortáveis e blusas largas. Eu lutava com Nathan, não como uma mulher, e sim como um homem, ele me socava de verdade, machucava, era uma prova de resistência. Ao final de cada luta, meu ego saía abalado e meu corpo dolorido, portanto não era com vestidos e maquiagens que eu me importava, mas ela não sabia disso, e usava seu tempo para atazanar meu juízo.
— São soquinhos mesmo...— sorrio — Talvez um soco te faça bem, porque ao quebrar sua cara, você fará uma cirurgia, e quem sabe os médicos consigam dar um jeito na sua pele também. — Ela recua um passo mostrando que minhas palavras a afetaram. — Sabe, Alysson, eu nunca te disse, mas tem dias que você fica igual aquelas bruxas horrendas dos filmes, com cabelo como um sabugo de milho, nariz torto, pele cinza e ressecada. Dá nojo de te olhar.
— Isso não teve graça. Eu não sou assim!
— É exatamente assim que te vejo. E se não quiser ouvir a verdade, me deixe em paz. Será melhor para nós duas.
— Paz, eu terei quando você estiver no inferno que é o seu lugar!
Alysson sai altivamente, ela pensa que deu a palavra final, mas não, eu rego sua ferida com sal.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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