DoraAmanhece, a noite cai, e assim sucessivamente. Permaneço no meu quarto sem fazer nada. Minhas refeições consistem em sanduíches e leite com biscoito, é o que consigo comer. Jules e Alysson me visitam, não ouço o que elas dizem, me assemelho a um vegetal, a ervilha na cama da princesa. Meu corpo só se movimenta ao ser sacudido por pesadelos onde monstros me perseguem para me devorar. Sempre acordo antes deles me pegarem, mas os monstros, as sombras que se escondem no meu quarto, são piores que os dos meus sonhos. Elas ficam à espreita, esperando o momento de entrarem no meu coração. As sombras aparecem do nada, e somem assim que ele chega.
— Eu te trouxe um presente — Nathan anuncia sua presença. Da minha cama, vejo sua silhueta no meio do quarto banhada pela luz da lua. As sombras foram embora — Não é bem um presente, pois tomei emprestado do meu amigo sem ele saber.
— Não é o certo a se fazer. — digo sentindo um vazio dentro de mim.
— Me perdoe — Nathan ajoelha ao lado da minha cama.
— Pelo quê? Você não fez nada.
— Como não? Eu te maltratei...
— Tia Sophia disse que faz quatro meses que você não aparece em casa. Ela falou coisas estranhas, assoprou um pó no meu rosto e disse para eu repetir: não quero lembrar, não quero lembrar, não quero lembrar. E eu fiz.
— E você esqueceu?
— Não sei o que era para eu esquecer, então... — Dou uma risadinha sem vontade. — Eu também me machuquei e não me lembro onde. — Mostro meu pulso enfaixado — Nathan, estou com sono, fica comigo até eu dormir? Vejo seu presente amanhã.
Enrosco os dedos nos seus cabelos. O peso no meu peito, alivia um pouco.
— Não posso esperar até amanhã — suspira. — Como dito, eu peguei algo do meu amigo, algo que não é bom...
— Você disse que me daria um presente.
— Trarei um gatinho da próxima vez.
— Eu perdi a vontade de ter um gatinho. — digo sem empolgação.
Meus dedos bagunçam os fios de Nathan; eles se prolongam em sua cabeça por um tempo, escorregam pelo rosto e se distanciam indo para baixo do travesseiro depois que me deito de lado. Eu gosto de dormir de bruços, mas a posição em que me coloquei é perfeita para contemplar Nathan. Ele me cobre. Eu o adoro. É o que meu pequeno coração e mente professam.
— Sinto muitíssimo. Eu tentei de todas as formas te ocultar, te proteger, te manter o mais longe possível dele... — Ele não revela quem é ele, despertando assim minha curiosidade.
— Quem é ele?
— O monstro das sombras. Ele quer te levar para o lado dele — Espreme os lábios um no outro — Se ele te convidar, te fizer uma proposta um dia, não aceite — Passa o dorso do indicador no meu rosto. — No presente, eu tenho sido seu monstro, seu pior pesadelo, mas um dia, você saberá o porquê. Agora, quero te mostrar uma coisa: essa pedra — Nathan ergue uma pedra branco transparente com indicador e o polegar — Nesta gema, há uma doença chamada Esquizofrenia, e em breve você será diagnosticada com ela. Isso te manterá perto das criaturas malignas, mas longe o suficiente para que não mexam contigo. Essas criaturas gostam de atormentar os de mente sã, para elas os atormentados são descartáveis — informa. — E esse objeto, pertence a um arcanjo, um arcanjo maravilhoso, o melhor que já conheci.
— Um arcanjo?! Ele tem asas como você?
— Sim, as asas dele são brancas. — Faço um muxoxo, pois não gosto mais de branco. — O nome do arcanjo é Raphael, e das asas dele você gostará. E embora a pedra contenha esquizofrenia, também tem a essência e o Sopro da Verdade — Levanto a sobrancelha não entendendo o que ele diz — O Sopro da verdade é uma das habilidades de Raphael. É um poder que revela a verdadeira essência da pessoa, se ela é boa ou má. No dia em que se conhecerem, se ele te abençoar com a cura, é porque ele achou graça em você. — Nathan fala algo numa língua que não entendo, provavelmente é a língua dos anjos, ele fala como se profetizasse, ou transmitisse um recado a alguém, mas não há ninguém no quarto, somente nós dois — Por favor, Dora, me ajude a acabar com este ciclo que só nos destrói.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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