47- As lendas de Melekler

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                               Dora

Faz mais de dois meses que Nathan não se comunica por pensamentos, telefonema ou mensagens. Meu palpite é que ele não aprovou minha decisão de ajudar Raphael. Esta não é a primeira vez que Nathan desaprova algo que faço, porém, tenho consciência de que fiz o certo, e se tivesse que fazê-lo, faria novamente.

 Alexia contou que na ocasião em que o Urso a salvou, eles se conectaram. O certo seria o mesmo acontecer comigo e Nathan, no entanto, em simultâneo que sua ausência me intriga, ela é bem-vinda. Provavelmente se eu falasse para quem me conhece que, quero distância dele, certamente a pessoa questionaria meu amor, todavia ele foi abalado. Eu descobri coisas sobre Nathan. Alexia me mandou um e-mail com informações sobre ele e… nada mais é como antes. Mas não é como se eu não soubesse disso. Desde que pisei em Melekler, eu soube que minha vida mudaria. Então, é melhor deixar tudo isso de lado, ao menos por enquanto, ou, até que Nathan resolva aparecer. Talvez pensar no trabalho de literatura seja bom, na verdade, é o ideal, pois farei a tarefa com Gael. 

                                 ***

Piso no primeiro degrau da biblioteca da cidade. Gael marcou de nos encontrarmos aqui, e não sei o que esperar dele, aliás, eu não espero nada além de caretas e olhares reprovadores. Gael mal fala comigo, as poucas palavras que encaminha a mim, são reprovadoras, e é claro que também não sou um exemplo de simpatia, então, estamos em família.

 Confiro as horas no celular e constato que estou no horário. Crio coragem e subo os degraus que me levam ao saguão da biblioteca, e ao adentrar no mesmo, paro estupefata. O lugar é um pequeno paraíso, não só pela quantidade de andares e de livros, mas também pela decoração. As colunas dos andares são maravilhosamente trabalhadas, os anjos sustentam sua base, e no teto eles foram retratados numa pintura renascentista. Alguns têm pergaminhos em suas mãos, eles voam como se estivessem comissionados a levar uma mensagem a alguém, outros carregam vários exemplares em seus braços, e para compor o retrato de uma biblioteca angelical, há escadas em pontos estratégicos. Para os anjos descerem ao plano terreno por elas, imagino. Os angelicais têm cabelos cacheados, olhos azuis, verdes e violeta, os livros e pergaminhos que carregam, têm as bordas douradas. E eu só consigo pensar que os anjos carregam tesouros nas. Parabéns ao pintor da obra, ela é fabulosa!

— Olá, bem-vinda à biblioteca de Melekler, é sua primeira vez aqui? A senhorita procura algum livro em especial? — pergunta alguém as minhas costas. 

Dou uma olhadela por sobre os ombros e abobada com a decoração, volto minha atenção para a pintura no teto e respondo ao senhor que me abordou.

— Sim, é minha primeira vez aqui. Eu tenho que fazer um trabalho de literatura, e não quero me adiantar, pois, não sei o que meu colega tem em mente. Obrigada pela atenção. — Sigo adiante sem esperar resposta.

Olho de relance por sobre os ombros, e o homem me segue sem se preocupar com o modo stalker. 

— Por acaso seu parceiro é o jovem Gael? — indaga.

A pergunta me congela, agora ele tem toda minha atenção, contudo ao me virar para respondê-lo, percebo que ele fez como eu, não ficou para receber minha resposta. Algumas pessoas andam de lá para cá procurando algo para ler, outras estão sentadas e mantêm-se concentradas na leitura. Eu, dou a última golada no café que comprei antes de vir para cá, jogo o copo numa lixeira próxima e sigo o senhor que se adiantou pelo corredor.

— Sim, meu parceiro é Gael, mas, como o senhor sabe disso? — pergunto um tanto rude quando fico a dois passos de alcançá-lo.

— A amiga do meu amigo, é minha amiga também. Te levarei até onde estão os livros recomendados para o seu trabalho — Ele responde brandamente por sobre os ombros.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora