DoraA última vez em que eu e minha mãe paramos para descansar, foi num posto de gasolina; e as casas, e lojas da redondeza, há muito ficaram para trás, na verdade, tive que deixar a vida que estava começando a me adaptar para trás, para começar uma nova, cheia de medos e incertezas.
O dia encontra-se agradável, porém não me importo com o clima, nem com montanhas e florestas que passam como borrões pela janela do carro. Mas gostaria de observar a paisagem com a mesma empolgação de uma criança que espera chegar à nova cidade, explorar toda ela e conhecer seus segredos. Contudo, não sou mais uma criança, e não tenho perspectiva de nada, mas o que não me falta é incentivo, que vem obviamente de tia Sophia e de Jules, minha mãe, mas estes não são sinceros.
Jules não tem o dom da maternidade, mas ainda assim conseguiu a proeza, e a profissão que escolheu não ajudou, ou talvez ela tenha colocado na cabeça que ser Analista de Sistemas significava viver em seu próprio mundo sem se importar comigo.
Jules, nem sempre foi uma péssima mãe. Até meus seis anos ela não se ausentou, trazia todo trabalho para casa e só viajava quando a empresa solicitava, e isso era raro. Contudo, lhe ofereceram uma promoção, ela aceitou e passou a viajar com frequência. Jules distanciou-se e nada mais foi como antes.
Sei que sou problemática e preciso de cuidados, porém, quando realmente preciso de ajuda, o único que vem em meu socorro é Nathan— sendo um caso à parte na minha vida.
Nathan é um investigador de um órgão não governamental, ele é um excelente profissional, e apesar de ser compromissado com seu trabalho, quando necessito, larga tudo que está fazendo para me ajudar. Nathan sabe o que dizer para que tudo volte aos eixos na minha mente.
Mas o trabalho de Nathan tem um ônus: nunca se estabelecer no mapa. E desde que me entendo por gente, as mudanças são constantes, e hoje, estou vivendo este ônus novamente. Mas o que não entendo é que ele sempre avisa quando nos mudamos, porém, desta vez; nenhuma palavra foi dita, e isso me deixou intrigada demais.
— Por que estamos nos mudando mesmo? — questiono Jules pela milésima vez.
Descobri que isso a aborrece, e para espantar o tédio e por não ter o que conversar com ela, a interrogo.
— Querida, foi preciso, — suspira impaciente. — era o melhor a se fazer; agora não precisaremos nos mudar tanto; teremos um endereço fixo; você fará amigos... — tamborila os dedos no volante como se buscasse o que dizer. Jules não demora em encontrar as palavras e continua com conotação maldosamente zombeteira —, terá um namorado, poderá ir a quantos bailes quiser e se divertirá como uma adolescente comum. — responde-me com as frases feitas de sempre, entretanto, com uma dose a mais de maldade que as anteriores.
Será que ela não percebe que todas as vezes que mudamos, as palavras que saem da sua boca são as mesmas?
Não me importo com as mudanças, elas são necessárias para o bem-estar da família. O problema é que desta vez, eles tomaram a decisão e em poucos dias colocamos o pé na estrada. Não costumo ser uma pessoa observadora, porém a tensão entre os adultos deixou claro que algo aconteceu.
Tenho receio de interrogar minha mãe, mas, seja qual for o resultado, sofrerei as consequências e farei as perguntas que permeiam minha mente.
— Mãe… desta vez a mudança foi por minha causa? — pergunto e espero um tempo, como a resposta não vem, insisto. — Essa é a última vez que mudaremos, não é? — aparentemente ela está tranquila, mas sua aparência não serve para me acalmar, pelo contrário, me deixa mais nervosa.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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