38- O baile

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                           Dora

Minha irmã gesticula teatralmente, e fala como se fosse a última Coca-Cola do deserto.

— Não sei porquê Rick quis dividir a limusine com Raphay. 

— Ele me pediu, e não achei ruim. — argumento. 

 A espero no corredor enquanto tranca a porta do seu quarto.

— Mas não fui consultada por quê? — pergunta com arrogância e toma a dianteira.

Porque Rick é meu amigo, sua bruxa, não seu! Adoraria responder assim, mas não posso. Aly tem um interesse genuíno em Rick, se eu falar algo estarei contribuindo com seus planos. 

 Faço uma careta. Desconfio de que Rick sugeriu dividir a limusine para não ficar a sós com ela. Provavelmente Aly se ofereceria como tributo para o fim de noite. Vadia! Dou graças a Deus, quando a campainha toca me livrando de respondê-la. Tapo os ouvidos ao escutar o grito fino e enjoativo dela. A ruiva manda um beijinho como se fosse se livrar de mim, e sai disparada pelo corredor, ao chegar na escada, ela para, se apruma e desce como uma rainha. Coitada!

Desvio o foco dos planos de Alysson, ainda tenho muito em que pensar. A voz de Nathan que soou na minha cabeça, a pergunta que farei a Raphay, a visão… todas essas coisas são como marteladas na mente. Tudo que aconteceu me leva a crer que tenho poderes, e gostaria de usá-los, para descobrir o que Jules queria ao fuçar minhas anotações. Penso, penso e repenso, mas nada serve como explicação. Minha cabeça lateja, trago a memória o conteúdo do caderno que se limita às minhas desconfianças e curiosidades em relação ao mundo sobrenatural. As pessoas e criaturas que descrevi, não são motivo para Jules fazer o que fez. São? 

 Passo em frente ao quarto dela deslizando a mão pela porta. Como eu queria saber o que ela pensa... Arg! Que droga! É melhor pensar em coisas boas do que pensar em Jules, Dorotéia! Sigo meu conselho, e penso na visão que tive. Ela não me mostrou somente coisas ruins, através dela, eu pude ver o Garoto do jardim e nossos momentos juntos. Fecho os olhos e relaxo. A esperança de que esse jardim exista, que o encontrarei e viverei realmente os momentos do sonho com o amor da minha vida, me encoraja. Descobrirei onde me encaixo nesse mundo. Determino confiante. Meu corpo formiga, receosa sobre as sensações que tenho, abro os olhos e vejo as paredes do corredor sumindo, elas dão lugar ao quarto de Jules. Minha mãe encontra-se com as mãos na cabeça, mas é como se eu estivesse fazendo isso, como se eu estivesse no corpo dela. E da mesma maneira acontece com seus lábios, eles se mexem, sua voz soa, mas sou eu quem vejo as cortinas e os móveis do seu quarto.

— Tudo estava correndo bem. Se Nathan não tivesse se machucado, ele estaria aqui me ajudando! É incrível o poder que ele tem em manter Dora submissa, eu não gosto, mas a situação tem sua serventia — fala como uma vilã que planeja atos maléficos — Nathan sabe que só serve para mantê-la na linha, definitivamente ela é o cachorrinho dele — Dá uma risada maldosa — Que ironia, minha filha amando quem não deveria! — Jules anda como um bicho enjaulado — Dora consegue unir os seres, mas alguém precisa controlá-la, pois não tem preparação para assumir o Poder Da Unidade. Ela é fraca! — exclama. Jules pode estar certa, não estou preparada, não sei usar esse poder que ela diz que possuo, mas aprenderei! — Bom, não tenho Nathan para mantê-la presa, mas tenho Raphay, Dora fixou os sentimentos no garoto, e ele não é importante, é descartável, talvez Richard seja um problema..., mas não pensarei nele agora — Travo maxilar. Eu sabia que deveria proteger Raphay! Jules é falsa, ela é como os porcos que você pode lavá-los, tentar vê-los de uma maneira diferente, mas eles sempre voltam ao habitat; a lama — Tamborila os dedos nos lábios e sorri — De todos os problemas que tenho, o maior deles é Dorotéia, tenho que conservá-la no mundinho de sempre, os poderes dela não podem emergir!

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora