11- Você é a vida

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dedicado a  Carbonnilla

                           Nathan

A vida é feita de escolhas, e algumas delas são impostas, outras temos a opção do sim ou do não. O bom da vida é que, você pode mudá-la, dirigi-la a seu modo, para o bem ou para o mal. 

    Dora se conscientizou, decidiu mudar, e não serei eu, a contrariá-la, o mínimo que posso fazer é apoiá-la, mesmo que sua mãe reprove minha atitude. Durante toda a vida, as pessoas tomaram decisões por Dora, e eu fui uma dessas pessoas. Agora, não mais!

 Minha vida é feita de escolhas e da ironia do destino. 

    Sorrio amargamente, por conta das surpresas amargas que tive logo pela manhã. Foi bom conversar com Dora e expor um pouquinho do que sinto por ela, mas quando nossa conversa tornou-se perigosa me distanciei e subi a escada devagar, e não foi surpresa encontrar Jules no corredor me esperando de braços cruzados. Desde então estamos parados, um medindo o outro, e como bom cavalheiro que sou a deixo lançar seu veneno.

 — Não gostei do modo como você conduziu a conversa no café da manhã, Nathan. 

— Você me fez chefe dessa família. Ainda o sou; ou não? — indago sem me abalar com o rompante dela. — Inconscientemente, Dora já havia tomado decisões sobre a própria vida, eu a apoiei, você deveria ter feito o mesmo.

 — Que ótimo estrategista você é. Devo admitir. Porém, devia ter se preocupado com o homem que encontramos. — Descruza os braços, dá dois passos rumo a mim e para.

 — Sua filha aceitou a ajuda dele, ela consegue reconhecer os monstros. — declaro. Minhas palavras causam o aperto dos seus lábios e o estreitamento de seus olhos.

 — Qual método usou para fazê-la te seguir como um cãozinho? Ela é apaixonada por você desde criança, e você alimenta essa paixão. —  acusa mantendo o aguado dos seus olhos.

 Marchamos em direção um do outro como oponentes prontos para duelarem. Quando Dora está por perto, eu e Jules somos cordiais, mas na ausência dela, os sentimentos camuflados aparecem como eles verdadeiramente são. Acontece que nenhum ser humano consegue esconder por muito tempo seus sentimentos, nem mesmo os anjos. Eu, não sou exceção. Quanto a Jules, ela abomina meus sentimentos por Dora. Em minha defesa digo que lutei, juro que lutei para ser indiferente, tentei manter-me longe, tanto quanto possível, claro, e não externar o que sinto por Dora, — minha luta foi vã. Agora, devo corrigir meu erro, e para corrigi-lo, somente fazendo o que sempre faço: reforço minha habitual armadura de frieza.

 — Jules, eu poderia dizer que a dedicação de Dora me faz sentir… poderoso, mas não faz. — Nunca incentivei os sentimentos dela. Você tem provas suficientes, ou terei que listar um lembrete do que digo?

 — Não precisa, eu confio em você na íntegra, sei que não mentiria para mim. Dada a circunstâncias, e sendo um anjo, há tempos atrás você poderia ter virado as costas e me deixado morrer, mas não o fez.

 — Você não morreria. —  declino apático.

 — Minha filha sim.

 — Eu sou a Vida, sou o sopro dela, mas uma hora, ele acaba. — Jules troca o peso do corpo de uma perna para outra, provavelmente ela entendeu o que eu disse como uma ameaça, assim reforço minhas palavras. — Suponho que você ficou com medo, muito medo.

 — De quê eu teria medo? — pergunta fingindo indiferença.

 — A Jules mãe, que brincava no jardim com Dora não existe mais. Acaso ela existiu algum dia? — questiono incisivo, ela se retrai — Seu medo é de que Dora faça tudo que eu mandar e no final você perca suas conquistas que, na verdade, não são nada. Você não conseguiu o que queria. Apesar dos pesares eu domino a situação. — Cerra os punhos. — Acalme-se, nunca me intrometi na criação da sua filha, não é agora que o farei. Dorotéia não me segue como um cão, porque não é um animal, ela é a dádiva que o Divino te deu e mesmo com um tesouro grandioso nas mãos, você o despreza. 

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora