ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)

34- Uma pergunta

           
                             Dora

Anjos e demônios existem. E a descoberta seria magnífica se tudo tivesse se esclarecido, todavia nada mudou. Em casa as coisas e as pessoas continuam as mesmas, e hoje, faz três dias que aconteceu o evento na floresta com Mike e os meninos. Os alunos comentam sobre o baile de amanhã, mas meus pensamentos são direcionados ao Urso que não vem à escola desde então. Ele não atende minhas ligações nem mensagens, não sei onde ele mora para eu poder visitá-lo. Na real, não sei nada da vida dele. No entanto, Raphay me garantiu que tudo está bem, porém eu gostaria de ver o Urso, somente assim ficarei tranquila. Mas se dissesse que unicamente quero ver o Urso porque estou preocupada, seria mentira. Eu quero saciar minha curiosidade a respeito dos anjos. Gostaria de saber o porquê de terem um corpo físico, se têm poderes, e tudo mais. E minha maior curiosidade, é saber se eles têm sentimentos como nós. Será que os anjos podem amar, como um homem ama uma mulher?

Apoio as costas no armário e abaixo a cabeça. Geralmente entre uma aula e outra, temos de três a cinco minutos de intervalo, e eu uso alguns deles para mandar uma mensagem para Nathan. Se fosse em outros tempos eu esperaria sua ligação, mas dessa vez as coisas mudaram. Nathan é um anjo, e tudo que desejo ouvir de sua boca é a confirmação disso. Chegou o momento de esclarecermos tudo sobre nós e o que sentimos. Distraio-me, escolhendo as palavras adequadas para mandar na mensagem, e assim que clico em enviar, desperto-me, pois ouço uma voz familiar.

— Oi...— Elevo a cabeça lentamente, meu coração queima de alegria.

Guardo meu telefone, no momento ver o Urso diante de mim, é mais importante que ficar com os olhos vidrados no celular esperando que Nathan visualize e responda minha mensagem.

— Hey...— Dou alguns passos e paro diante dele. O Urso sente-se desconfortável, e ajeita a alça da mochila. — Eu fiquei preocupada. O que deu em você para… o que fazia naquela floresta? Você podia ter se machucado! Ai meu Deus! — Meus olhos correm pela face dele procurando sinais de ferimento, vejo apenas um arranhão abaixo do olho esquerdo, e calmaria no seu olhar.

Não me contenho, e o abraço, ele corresponde, nosso enlace é repleto de alívio, carinho e amizade. Estremeço em pensar que ele poderia ter se machucado seriamente por minha culpa.

— Eu estou bem, não me feri. Mas se você visse meu adversário... o Urso Deus acabou com ele!

Desvencilho-me de seus braços, volto a inspecioná-lo, mas desta vez, olho seu corpo em geral, e só o que vejo de anormal é seu rosto afogueado.

— Você ainda brinca com isso! — reclamo embravecida. Ele levanta e abaixa os ombros se desculpando. Abaixo o tom de voz ao inquirir. — Você é um urso mesmo?

— Quando quero sim. Quando não, sou um menino do ensino médio que cuida de uma menina, que não deveria confiar em qualquer um.

— Bernard, eu não leio pensamentos e intenções que porventura, tenham contra mim. Me desculpe, não creio que Rick me levou ao encontro da morte.

— Também não sei as intenções de Richard. Só sei que o privilégio de tomar conta de você é meu, e eu não abdicarei disso por nada.

— Obrigada...— agradeço comovida.

O sinal de que uma nova aula começará é acionado, e somente percebemos que estamos obstruindo o caminho, ao ouvirmos as indiretas dirigidas a nós. O Urso pega no meu braço e me guia em direção a minha sala de aula.

— Você é a pessoa que Nathan pediu para tomar conta de mim. — comento ao pararmos na porta da minha sala de aula.

— Sim. Fui bem recomendado a Nathan, e acredito que me transformei numa excelente babá — Arqueio as sobrancelhas, intrigada — Minutos antes de nos conhecermos, Nathan me ligou e contou sobre o nome carinhoso que você me deu e sua relutância em me conhecer. Ele recomendou que eu te vigiasse, mas não consegui ficar longe, e resolvi arriscar deixando que me visse como sou. E hoje estamos aqui, e quero que saiba, você não é uma obrigação, é uma amiga — Sua entonação terna combina com os olhinhos pequenos e brilhosos que me fitam.