NathanDesisto de usar o copo, e bebo no gargalo uma bebida qualquer que comprei numa loja de conveniência. Olho para as várias garrafas vazias sobre a mesa e torço o nariz. A bebida não me concedeu o que eu queria. Acendo um cigarro, dou uma longa tragada, e o observo; as ervas e especiarias contidas nele me dão satisfação. Ao fumá-lo, sinto-me como o mestre do meu próprio caminho, porém, o prazer é momentâneo.
Menosprezo a mim mesmo por viver nesta situação. Eu poderia estar num bar rodeado de mulheres e escolher qualquer uma delas, no entanto, exclusivamente uma, habita meus pensamentos e coração. Mas que droga! Eu deveria estar pensando em outra coisa! Jogo a garrafa que estou na mão contra a parede, ela estoura espalhando vidro e whisky para todos os lados.
Revivo todo o caminho que trilhei até hoje nos mínimos detalhes. O que fiz de errado? Muitas coisas, Nathan, lembro a mim mesmo. Sim, eu fiz muita coisa errada, inclusive usar Dora como um instrumento de troca. Ah! Como desejo esquecer essa fase. Infelizmente não há possibilidade! Então permito que as lembranças inundem minha mente.
Recordo o momento em que a peguei no colo pela primeira vez. Após seu nascimento, a menina repousava no quarto ao lado do de Jules. Eu quis vê-la. Fui puxado como um ímã em sua direção, e me aproximei do berço como um gatuno, bobagem agir assim, eu segurei a mão de sua mãe na hora do parto e a vi nascer. Contudo, tive medo de que um ser tão pequeno fizesse algo contra mim. Relutei, mas a peguei no colo e sentei na poltrona em frente ao berço.
— Por que não deixou que a criança morresse? — Desviei o olhar do bebê, ao ouvir a indagação de Fatum. Ele achava-se no extremo oposto do quarto e também estava sentado numa poltrona.
— A menina lutou pela vida, eu não fiz nada. — menti e voltei a contemplar o bebê.
— Sou o Destino, Nathan, e não vejo fragmentos de um futuro como alguns anjos e adivinhos veem. Sei todas as possibilidades possíveis e impossíveis da vida de cada um. Ainda dá tempo, mate-a.
— Não posso matar um recém-nascido.
— Dê-me a criança — Fatum levantou-se e se impôs. Pesei as vantagens e desvantagens, e a entreguei — Fatum passeou pelo quarto falando com o bebê. Não entendi suas palavras porque usou um dialeto desconhecido, mas em dado momento mudou o dialeto para o terreno. Seus olhos estavam brancos e seu sorriso cândido. — Me perdoe criança; tentei não fazê-la sofrer, eventualmente você irá, contudo não te abandonarei. Ainda há esperança para você. Olha, essa é minha Orbe — Ele suspendeu um cordão com um pingente de ônix — Guarde-a para mim. Minha querida, só quem pode usar uma joia dessas é quem detém um grande poder, e você, é poderosa. Mas lembre-se, é só um empréstimo! — Ele colocou o cordão em forma de asas no pescoço do bebê e o passou novamente para meu colo.
— Não sabia que você possuía uma Orbe. — comentei sem muito interesse.
— Uma Orbe, não significa nada, o verdadeiro poder, está dentro de quem a usa — Fatum disse com sua voz de barítono. Não acreditei nele — Bom, preciso ir. Atualmente vocês moram em Melekler, mas a mãe da criança quer protegê-la. Então sairão desta cidade, e só retornarão no momento certo. — Direcionou o olhar ao bebê — Daqui a alguns meses nos encontraremos, e a partir deste dia, estarei ao seu lado, não como Fatum, mas como seu amigo e conselheiro Elijah — ratificou como quem recomenda a uma criança arteira que se comporte — O destino desta menina foi traçado, era para ela ter morrido. Certamente o responsável pela alma dela a sentiria, e unicamente ele, decidiria seu destino. Não era para você tê-lo mudado. Eu intervi, mas você lamentará a intervenção, chegará o dia que a culpa corroerá seu coração como ácido. Lembre-se, mesmo que simule, a culpa não é minha. Suas escolhas foram feitas há muito tempo, e se não cumprir com sua promessa, um dia pagará por elas.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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