DoraAs vinte e quatro horas do dia são insuficientes para se fazer tudo que se tem vontade. E minha vontade é estar com Raphay, todavia eu e Nathan achamo-nos sentados um de frente para o outro num restaurante no nosso primeiro encontro, mais precisamente no fim dele, pois o garçom coloca a sobremesa diante de mim. Eu o agradeço. Necessito de algo que tire o gosto da minha boca, penso provando a primeira colherada da sobremesa. Será que um doce pode tirar a sensação esquisita, não só da minha boca, mas do meu corpo e alma? Esquadrinho Nathan, agora ele tem em sua face uma mistura desafiante e cínica. É como se nosso encontro fosse o mais do mesmo para ele, como se já soubesse as minhas ações e isso o enfadasse. Talvez ele não olhe para seu próprio umbigo e veja que do mesmo modo não revelou nada de si além de sua costumeira frieza, com a ressalva das perguntas que fez um pouco antes de o garçom trazer nossas sobremesas, Nathan não se dedicou ao nosso encontro. Algo o preocupa, e talvez Raphael seja o responsável pela preocupação.
— O Arcanjo está com problemas? — questiono levando mais um pedaço de sobremesa à boca.
— Creio que desta vez não — responde, limpa a boca no guardanapo e seus globos acinzentados capturam os meus numa análise da minha alma.
— Ele já esteve encrencado antes?
— Sim. Você e ele são mestres em se meter em problemas.
— É bom ter algo em comum com alguém. — Nathan faz dos olhos duas fendas questionadoras — Não precisa se alterar. Eu gosto de Raphael, mas o que sinto por ele, não chega nem aos pés do que sinto por Raphay — Ou por você — revelo guardando a última parte para mim.
Toda essa história de Prometida, Traidor e Lord, aumentou a distância entre mim e Nathan. E devido a acontecimentos anteriores e a história mentirosa que ele me contou no penhasco, confiar nele agora é difícil, mas ele me surpreende.
— Agradeço por sua sinceridade — articula demonstrando animação pela primeira vez na noite.
— Algo dentro de mim, diz para fazer o contrário do que estou fazendo. — rebato.
— E o contrário seria...?
— Esbravejar verdades, me vingar, causar sofrimento. Mas não é o correto a se fazer. Não ferimos quem amamos.
Ele sorri. Mas tão rápido quanto veio o sorriso de canto que surge nos seus lábios, se esvai. O avalio. Realmente era para eu alimentar a raiva que por vezes, sinto dele, todavia se a alimentar, não agirei com calma, o acusarei por me esconder a identidade do Traidor e toda a influência dele, na minha vida. Nós brigaremos, e eu não quero guerrear com Nathan, nem com ninguém.
— Certamente ferimos quem amamos, e mesmo ferindo, sem querer, ou por uma causa justa, continuamos amando. Porque não é somente amor, é confiança, esperança, é amizade, convivência, é ler o texto e compreender o contexto.
— Ainda não cheguei a este nível de compreensão.
— Você o alcançará, tenho certeza — Nathan se põe de pé, circula a mesa que nos separa, põe a palma no meu ombro, se inclina trazendo a boca até minha têmpora e a beija.
Seu toque é abrasador, me desconserta.
— Podemos ir embora agora?
— Como você quiser — o veludo em sua voz me causa arrepios, me faz bem, me traz esperança e mais dúvidas do que eu já tinha antes.
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Melekler é uma cidade boa de se morar, mas eu precisava de respirar ares novos, e quando o professor de Educação Religiosa nos comunicou que viajaríamos a Nova Orleans, eu vibrei.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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