DoraA Ordem dos Arcanjos é como o prédio da escola, feita de pedras, mas diferem uma da outra, pois a sede é incrustada numa parede rochosa. Parece que a construção foi projetada sem intervenção humana, e talvez tenha sido mesmo. A edificação possui sete torres em forma de anjos, seis deles empunham espadas e o do meio, acha-se de asas abertas, como se ele fosse o líder, aquele que abençoa os súditos. Concluo que o egocentrismo e narcisismo de Jules, levarsm-na a gloriar-se a si mesma. Tenho pena de um ser que não sabe o verdadeiro significado do amor e da união.
Jules ordenou que eu circulasse pelo salão e fosse simpática com todos, e para fugir da sua presença, acatei a ordem. Mas, aonde quer que eu vá, sinto sua mirada e a de Nathan, que também passeia pelo salão.
As feições do Lord endurecem toda vez que um homem chega perto de mim. Esse lado possessivo dele me envaidece, fora que aproveito suas demonstrações de ciúmes para cutucar Jules. Logo ela o puxa para si, buscando desviar sua atenção.
Me alegrar com o comportamento de Nathan, não significa gostar das investidas dos machos que me convidam para dançar. Até que me saio bem; não piso no pé de nenhum deles e consigo sair ilesa das perguntas íntimas que fazem. Por fim me canso de dançar. Creio que os homens e mulheres que se achegaram para conversar comigo, compreendem que preciso de um momento a sós. E por alguns minutos permaneço num dos cantos do salão examinando a decoração semelhante a um jardim de inverno. Há plantas resistentes ao frio espalhadas num paisagismo harmonioso, o chão é revestido de pedra calcária, as mesas e cadeiras são cobertas com tecidos finos que lembram algodão de tão brancos. A decoração é magnífica!
Meus globos passeiam pelo local repleto de celestes. Eles não escondem quem são, deixam à mostra suas asas que estão fechadas e não chegam a arrastar no chão, pois são altos. Os anjos transitam com taças de espumante sem constrangimento algum diante do povo. Tal cena não me surpreende, o que me fascina é o espetáculo das estalactites de gelo que pendem do teto. A transparência com nuances azuis trazem calmaria ao meu coração, e as gotas d’água que pingam dela, são a grande atração do espetáculo, pois elas não caem no chão, transformam-se numa chuva de flocos de neve que dançam acima de nossas cabeças.
A cena esplêndida e romântica, corrobora a comemoração do Solstício, — a noite mais longa do inverno. A noite em que eu gostaria de estar em frente a uma lareira coberta com uma manta tomando chocolate quente com meus amigos. Mas, estou numa maldita festa elaborando maneiras de sair dela, porém nada que eu pense funciona. De onde estou, avisto Jules sentada numa cadeira que se assemelha a um trono. Se ela se acha a rainha digna dos seus súditos, quem sou eu para contrariá-la? Eu apenas quero o que me prometeu. Jules compreende meu olhar de cobrança, e retribui com um sorriso e o içar de sua taça. E eu só entendo o cumprimento ao sentir os pelos da minha nuca eriçar.
Raphay chegou.
Viro-me lentamente. Nos conectamos de uma forma inexplicável, atravesso a multidão sem realmente vê-las, eu só vejo o garoto dos meus sonhos parado em uma das inúmeras portas do salão. Meu anseio é sentido, pois, Raphay me presenteia com um sorriso que ilumina meu coração, nos mantemos conectados, olho no olho, mas minha visão é bloqueada por um homem que me interpela.
— Boa festa, o que acha, senhorita? — O ser parado à minha frente fala com uma taça de champanhe que esvazia de uma vez. O garçom passa e ele pega outra. — Te vi de longe e imaginei que pelo seu deslumbramento, essa seria sua primeira vez no Solstício de inverno da Ordem.
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ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)
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