42- Meu Anjo

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                              Alexia

Estou num baile de boas-vindas, fato; não tenho acompanhante; e daí? Não vivo me lamentando pelas circunstâncias da vida, e detesto pessoas que se fazem de coitadinhas. Dorotéia não é uma coitadinha, sua língua é tão afiada quanto a minha. Ela é a primeira garota que se encanta pelo meu irmão, e não lambe o chão que ele pisa. Ela é sortuda e inteligente, desvendou rápido meu esquema. Eu afasto as meninas de Raphay. O motivo não é porque sou possessiva e cruel, é porque Raphay não quer ter ninguém, se ele quisesse, teria Hanna, Zoe, Karol, ou qualquer uma das garotas da cidade.

Eu e Raphay entramos juntos na escola. Ele rapidamente se entrosou, e eu, fiquei para escanteio, mas Raphay nunca me ignorou, então, fizemos um trato. Eu daria um jeito de afastar as meninas que queriam status, andar com o cara bonito e popular, ser o centro das atenções e outras coisas mais, e ele me apresentaria uma amiga. Cumpri minha parte, e ele, com a dele, no segundo semestre do fundamental, quando Hanna foi transferida de outra escola. Ele nos apresentou, e ela me aceitou bem. Hanna conheceu os fatos da minha vida, não a parte que o Anjo do Destino me salvou, mas a morte da minha mãe e a parte que fui adotada por Raphael. Minha amiga se deu bem com meu pai assim que o conheceu, melhor que eu, inclusive.

 Hanna é a delicadeza em pessoa, e não quero perder a amizade dela pelas palavras que solto abruptamente. Ela se encantou com Raphay, eu já aconselhei, falei a verdade de uma maneira menos Alexia, e mais Dorotéia, mesmo assim foi inútil. Eu queria que ela entendesse que, Raphay se dá bem com todos, e vê o lado bom das pessoas, porém ele não gosta dela, ele não gosta de ninguém. Hanna é um amor, e tenho certeza que ela não ama Raphay, seus sentimentos são de admiração e idealização, infelizmente, ela não percebeu isso ainda. Tomara que entenda que eu disse somente a verdade sem intenção de machucá-la.

— Hanna, você ouviu o que eu conversei com Dora?

— Ouvi, mas não quero falar sobre o assunto. Vou dar uma volta e levar a bolsa de Dora comigo. 

— Hanna… me desculpe. — Levanto-me, mas não vou atrás dela. 

Insistir na conversa é desperdício de energia. Hanna não me daria ouvidos e a situação pioraria. Ela precisa de um tempo, vou deixá-la à vontade, é o certo a se fazer.

Decido ir embora, e sem um pingo de delicadeza pego minha bolsa. O acessório é pequeno e inútil, Hanna fez questão de escolhê-lo para mim, ela disse que combina com meu vestido. Sinceramente, não sou ligada à moda, mas pensar numa bolsa, é melhor que pensar no que fiz quando Dora falou sobre o Urso. Por Deus! Eu o procurei entre a multidão como uma desesperada! Minha atitude foi inadequada, não condiz com o controle que procuro manter sobre tudo que faço. Não quero decepcionar Fatum. Sou uma defensora, e é isso que fui chamada para ser! Não uma bobona que se preocupa e joga perguntas no ar sobre um baixinho idiota. Ele nem é tão bonito assim, seus olhos castanhos claros são lindos, admito, os cabelos ondulados e avermelhados possuem um brilho que me intriga, a boca fina e a delicadeza de suas feições me cativam. Não, não, não! Não serei uma Isabella Swan da saga Crepúsculo, nem uma Dora que se derrete com um sorriso de Raphay. Dora e meu irmão até que combinam, eu e o Urso... Já, chega! Isso é completamente ridículo, Alexia Sávior não se encanta com ursinhos de pelúcia! 

Passo entre as mesas, furiosa comigo mesma, e para meu azar, não vou muito longe, vejo o Urso conversando com uma nerd igual a ele. Meu olhar parece um ímã, elas atraem suas esferas que modelam meu corpo numa avaliação silenciosa e extravagante. Sinto-me quente e irada ao mesmo tempo, não consigo me mexer, mas ao vê-lo se aproximar, fujo. Pela primeira vez na vida corro de um confronto. O que tem acontecido comigo não é normal. A barreira que minha mãe me ensinou a colocar em volta do meu coração, evita que sentimentos doces me enfraqueça, e o que sinto pelo Urso me torna vulnerável. Bernard desperta em mim o que não quero sentir.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora