9- Cavalo branco

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dedicado a JaneDieny

                             Dora

Doce, é o som da voz que penetra nos meus ouvidos, entretanto a docilidade é só uma ilusão. Gostaria de saber quando foi que me tornei uma inimiga para Alysson. Durante muito tempo pensei que fosse por ciúmes da atenção que a família dedica a mim, mas compreendi que o que ela sente vai além de simples ciúmes de irmãs. Aly me culpa por algo, não imagino o que seja, talvez após anos de alfinetadas ela revele o que fiz de tão ruim para despertar seu ódio.

— Dora, você vai sair? Tem certeza que está bem para isso? — pergunta com fingida preocupação, e completa destilando veneno. — Suponho que a família não aguentaria mais momentos como esses que passamos nos últimos dias.

Giro nos calcanhares e sorrio para respondê-la.

— Estou ótima. Obrigada pela preocupação. Vou caminhar um pouco, segundo Nathan, me fará bem!

— Sim, claro, tio Nathan...— profere tio Nathan com sarcasmo, encosta no corrimão da escada e cruza os braços. — cuida de nós devidamente. Mas me diga, como você se sente sendo sempre o centro das atenções? — questiona sem disfarçar a má intenção. — Assim… em todo lugar que vamos, algumas pessoas te olham de um jeito estranho, você nunca reparou?

— Nunca reparei. — minto. — Você é mais observadora, com certeza repara nisso por mim. Preocupo-me mais em olhar a minha vida do que a dos outros.

Alysson cerra o maxilar, mas não perde a pose.

— Gosto de observar, descobrir segredos, coisa que uma pessoa aérea e que só pensa em si não descobre. Tipo: em que Nathan realmente trabalha, não só ele, mas a família toda, os mistérios que nos rondam, e de onde viemos. Eu sei de tudo Dora, e você não. — Sua voz é instigante.

Minha curiosidade vai às alturas, porém a expressão é de indiferença.

— A história que conheço me satisfaz. Eu dormi por dias, nada do que você sabe me interessa. Fique com seus segredos e descobertas. — declaro tediosamente, no entanto, ela não se dá por vencida.

A história que ouvi de Jules, é que ela teve um relacionamento com meu pai, e quando ele soube de sua gravidez a abandonou. No dia em que me teve ela foi levada para o hospital, teve complicações no parto, e eu quase morri, mas os médicos conseguiram me salvar. E enquanto se recuperava do parto, houve um grave acidente na estrada principal. O hospital ficou lotado, tiveram que alojar algumas crianças nos quartos particulares, e o de Jules foi um deles. Os médicos colocaram Alysson lá, mas por incrível que pareça ela não estava ferida, apenas havia perdido seus pais. Comovida pela situação da criança de apenas um ano, Jules a adotou.

A história de Nathan é mais complicada. Quando pergunto em que época o conheceu, ela desconversa. Obviamente não sei nada sobre as circunstâncias e o relacionamento entre Nathan e minha mãe, mas não darei a satisfação a Alysson de saber da minha ignorância.

— Sabe porque todos te lançam olhares de medo? A razão é simples: você é má, Dora. Lembra da Mabel? — Levanto uma sobrancelha questionando, e algo revira dentro de mim. — Ela era minha amiga. E eu, fui convidada para o aniversário dela, e por pena, te levei comigo. Mas você sempre gostou de chamar atenção — desdenha —, daí, mordeu a Mabel até sangrar e lambeu os lábios depois. Resultado, todas as meninas se afastaram de mim por sua culpa.

As cenas que Alysson descreve inundam minha mente, mas retruco sem pensar no que ela sentirá por isso.

— Eu a mordi para te defender, ela era um demônio. Você é minha irmã e Mabel era má, muito má! — ressalto com ânsia de que ela me entenda.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora