49- Feliz aniversário!

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Este capítulo também ficou um pouquinho maior que o esperado, infelizmente não deu para colocar uma quebra de página, meus amores. ❤️

                            Nathan

De uma maneira boa, Dora aprendeu a ser audaciosa, desinibida, valente, uma excelente amiga, e ela revela essas qualidades nos atos e decisões que toma. Comigo, ela não é assim, porque sou um covarde que dentre tantas coisas ruins que fiz, prometi ajudá-la e não cumpri com a palavra. Em minha defesa, se eu contasse o motivo ela não acreditaria em mim, como das outras vezes em que tentei lhe instruir Eu não a ajudei, contudo, ela manteve-se determinada, tão determinada que para chamar minha atenção e resolver a questão que lhe perturba atirou-se do penhasco.

Em pensamento, ligo-me a ela, asseguro que estou chegando, que a salvarei, e a resposta que obtenho é surpreendente.

— Sua preocupação é em me salvar ou em se salvar?

Audaciosa.

Eu a pego a poucos metros do chão e velozmente a levo para a floresta abaixo do penhasco. Dora firma-se em pé e se afasta, vejo seu alívio por ser salva, transmutar-se em raiva.

— Até quando você me manteria presa? Até que não restasse vida em mim? Responda!

Estamos mergulhados na escuridão da noite. Em Dora, há uma energia que se fosse convertida em luz, iluminaria um quarteirão. Mas não há luz dentro dela no momento, somente energia caótica. Ao meu comando, gravetos se aglomeram num monturo, entram em combustão iluminando o rosto dela. Sua explosão não me surpreendeu, nos últimos meses, ela tem guardado coisas demais dentro de si.

— Eu não te prendo, apenas fiz e faço o que julgo correto, com isso, sua “prisão” virou um reflexo da minha. — Nossos olhos se atracam.

— Não quero ouvir palavras profundas, doces e vazias. Passaram-se dois meses, eu esperei uma explicação, mas você nem sequer mandou uma mensagem — sua voz soa num lamento dilacerante — Soube que esteve na casa de Raphael no primeiro dia de aula e que dormiu com duas garotas. Foi por isso que voltou sem camisa. Aí; arrependido, recitou o Salmo noventa e um. Mas não, não houve arrependimentos, se houvesse, Alysson não teria feito o que fez! Não sei o que dói mais, suas traições ou a da minha irmã! Se bem que ela nunca me enganou com palavras doces. Alysson nunca escondeu a natureza dela — Dora se abraça e curva a cabeça, ela se sente humilhada. Odeio vê-la desse modo — Já você escondeu até seu nome — Altiva, mais uma vez seu olhar se atraca ao meu, há um brilho espantoso no seu rosto, um brilho de determinação — Se apresente... não, deixa! Eu escolho um nome! — Suspende as mãos como para bloquear minha resposta — Talvez você prefira ser chamado de Samael, o Anjo da Morte. Este nome é especial, não? Você o usou para experimentar a comunicação entre nós no dia em que te contei sobre o Garoto do Jardim. Mas me diga; ser chamado de Samael é tão ou mais importante que ser chamado de Khaled? — Anda de um lado a outro — Argh! Como sou ingênua! Os nomes não importam, títulos caem bem em você, eles te dão poderio! — Permaneço quieto. Sua voz desdenhosa se converte num gemido de dor quando se ajoelha na terra úmida da floresta — Me perdoe pelo atrevimento meu Lord e Príncipe — as palavras carregadas de nojo me incomodam.

Atravesso a fogueira e paro diante dela. Vê-la nesta posição me lembra a ocasião em que me ajoelhei aos pés do Traidor. Não é meu desejo vê-la de forma subserviente e humilhada, nem usando o desdém e a zombaria para me atingir, pois, as emoções unicamente trazem escuridão para sua alma. Portanto, suavizo a voz ao tomar a palavra.

— Enoch. Este é o nome da minha parte humana. Enoch é um nome de batismo, porém, particularmente, gosto de Nathan. Foi o nome terreno que escolhi. — Ofereço a mão para ajudá-la a levantar. — Como você descobriu que sou o Lord?
— Eu ouvi algumas histórias; liguei alguns pontos, e Raphael me mostrou a marca que você gentilmente pôs no peito dele.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora