60 - Você Nasceu

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                              Dora

Manter a mente sã ao ter acesso a um ambiente hostil, não é tarefa fácil, ainda mais quando a ordem do isolamento parte da sua própria mãe. A mulher que por instinto deveria me proteger. Mas, pensando como Jules, eu fui bem tratada, mesmo trancada, tive alguém para trazer minhas refeições, as quais pude escolher, me auxiliar no banho e na hora de vestir. Logicamente que o auxílio para me vestir, foi escolher a roupa adequada para frequentar as aulas de etiqueta que altruisticamente minha mãe me ofereceu.

Os subordinados da minha mãe se empenharam em me ensinar a dançar, a andar, como cumprimentar a pessoa devidamente e usar os talheres adequadamente, como se eu fosse uma criancinha que não soubesse usar o garfo e a faca. Se bem que pela minha vontade eu teria enfiado facas nos olhos de cada um dos professores, e isso só faria cócegas neles, pois todos eram anjos.

Segunda minha querida mãe, eu precisava treinar para me portar bem na festa que ela oferece todos os anos. Eu não poderia envergonhá-la, claro, os Anjos e Arcanjos sob seu comando não poderiam sequer pensar, que dirá saber que ela não consegue controlar a filha.

 Ouvi-la falar enquanto eu estava preocupada com Raphay, me aborreceu demais, acabei agindo como cega, surda e muda. Houve momentos em que tentei ser simpática para obter informações; contudo nem simpatia ou pedidos encarecidos amoleceram o coração de Jules. Resignada, me deixei moldar para estar apresentável na comemoração do Solstício de inverno. 

E neste exato momento, a mesma faz uma trança nos meus cabelos, e mais uma vez ouço seu discurso sobre a programação da noite, obviamente durante a maior parte da explicação eu estava em outro plano, porém me situo e o pego pela metade 

— … receberei os convidados, e após os coquetéis serem servidos, dançaremos — Ela puxa meu cabelo. — Quando todos estiverem familiarizados uns com os outros, discursarei. O tema será o perdão que recebi do Lord. Ele me perdoou no momento do seu nascimento, e você nos uniu como uma família. Apesar de não ser seu pai, ele a considera como uma fi...

— Hahahaha! Essa é boa! Se seus anjos acreditarem nessa de Nathan ser meu pai, com certeza eles não batem bem da cachola! Nem você, Jules! — escarneço da ideia descabida dela e recebo um puxão de cabelo.

— Em seguida ao discurso, jantaremos. E espero que se comporte — ameaça, se abstendo de combater minha provocação.

— Me comportarei se eu vir que Raphayl está bem. — me imponho.

— Você dançará uma música com ele. Não sou tão má assim — pronuncia como se fosse verdade.

Expiro o ar dos pulmões calmamente, internamente eu fervo. Desde que cheguei aqui, tentei usar meus poderes, mas, a Estratégia não funcionou, a Persuasão, ou Unidade, tanto faz, também não. Eu procurei aliados, porém não consegui. Também tentei obter informações sobre Raphay e meus esforços não deram em nada. No entanto, numa das ocasiões em que estava sendo escoltada até uma das aulas de dança, os servos de Jules me conduziram por um caminho diferente do costumeiro. Enquanto eu passava por um corredor, um homem abriu uma porta, e no instante em que passei por ela, vi Raphay sentado numa cama. Nossos olhares se cruzaram. Ele sorriu, e foi como se o sol nascesse depois de uma noite fria de inverno. O moreno piscou para mim, e meu coração abrandou, o homem fechou a porta, e sorrindo, segui meu caminho. O acontecimento serviu para fortalecer minha esperança.

— Mãe...— serenamente atraio sua atenção e ponho-me de pé, pretendo mais uma vez convencê-la a me deixar ir embora. — E se eu e Raphay pudéssemos ficar num lugar isolado e protegido por seus anjos. Você trabalharia melhor no processo de reversão da Unidade comigo longe, não acha? — indago de modo que pareça uma ideia estupenda.

ENTRE A VIDA E A MORTE - LIVRO 1 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora